Capítulo 6

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Assim que terminei de "copiar sem fazer igual", nós gastamos a hora restante ouvindo Pearl Jam, Pink Floyd, Foo Fighters e Avatar. 

Enquanto escolhíamos a próxima música, Gabriel, que estava sentado na minha frente, passava música após música, procurando algo que o agradasse no momento.

 — Para! Volta!

Ele me olhou intrigado e voltou na música que havia pulado.

— Conhece Everlong?

— Do Foo Fighters? Claro!

Era impressão minha, ou ele estava sorrindo?

"Hello, I've waited here for you everlong..."

"Olá, eu te esperei aqui por muito tempo"

Cantei a música inteira baixinho. Gabriel cantava comigo enquanto tamborilava os dedos na perna e devo admitir que ele cantava muito bem.

Percebi que ele me olhava e olhei de volta, achando que ele fosse desviar o rosto, mas ele continuou como estava.

— O que foi? — perguntei.

— Nada. É só que você canta bem e conhece algumas das minhas músicas. Isso é... legal, eu acho. Não é o que a maioria das meninas costuma ouvir nessa idade.

Percebi que "legal" era a primeira palavra que veio à sua mente para descrever o fato de que uma garota que ele não conhecia estava ouvindo suas músicas com ele e gostando delas. A maioria das meninas não conversava muito com ele, sequer ligavam para a sua existência, ele sempre estava sozinho. Não era de se admirar que ele ficou surpreso.

Sorri e desviei meus olhos dos dele. Era algo incrível, eu não conseguia sustentar o olhar se ele estivesse tão perto, simplesmente tinha a necessidade de olhar para outro lado, como se ele fosse me comer viva ou algo assim.

Mas eu sempre acabava olhando de novo. Seus olhos eram iguais a dois buracos negros azuis escuros que sugavam toda a minha essência, puxando tudo para dentro deles.

— Vai entrar para aula? Está quase na hora.

Logo o sinal iria bater. Achei interessante o fato de que uma hora inteira havia se passado e parecia que só estávamos ali há poucos minutos.

— Por que não entraria? — ele questionou, arqueou uma sobrancelha.

— Por que você sempre responde alguma pergunta minha  com outra pergunta? — levantei o queixo.

Ele riu.

— Por que você pergunta demais?

 Acabei rindo também e dei de ombros.

— Sou curiosa.

— Percebi. E sim, vou entrar, mesmo não suportando aquele idiota. Por que quer saber?

— É que eu não conheço muitas pessoas ainda, apesar de ter feito alguns amigos, mas as aulas das meninas são diferentes das minhas hoje. Só achei legal ter alguém que conheço na sala.

— E você acha que me conhece?

— Um pouco.

— Sinto muito dizer, princesa, mas não. Se as pessoas que me veem há anos não me conhecem, por que você, que só falou comigo três vezes diz que sim?

Como é que eu ia explicar sem que ele me achasse uma louca?

— Porque eu não só te vejo, Gabriel. Eu te enxergo. É diferente. Eu sinto que você é uma boa pessoa, apesar dessa máscara aí.

Gabriel se levantou, pegando a sua mochila.

— Errou de novo. Você pode pensar que conhece uma parte de mim... Mas o resto, a outra parte? Eu não sou uma boa pessoa, Melissa. Coloque isso na cabeça. Coisas ruins aconteceram por minha causa.

Do que ele estava falando?

Sem desviar os olhos dele, eu também me levantei, tentando encurtar a diferença de tamanho entre nós.

— De 0 a 10, qual a chance de eu conhecer essa outra parte completamente?

— 3.

Soltei uma risada.

— Sério?

— Sério — ele sorriu de leve e o sinal bateu — Não aconselho você a se aproximar muito, princesa. Pode se machucar.

Eu não respondi. Entramos na sala e ele se sentou no fundo, enquanto eu me sentei no canto. Estávamos a uma distância impossível de conversar quando a aula começou. O professor de história acabou chegando e começando sua detestável aula. Depois de passar olhando para ver quem fez ou não a pesquisa, disse que iríamos comentar sobre isso. Ou seja, a maior parte da sala iria ficar quieta olhando para o nada enquanto os mais inteligentes levantavam a mão para fazer comentários desnecessários.

Pegue meu celular para ver as horas e responder algumas mensagens, mas me arrependi quase instantaneamente de fazer isso quando ouvi um grito vindo da frente da sala.

— Melissa, quer fazer o favor de desligar o celular na minha aula, antes que eu te mande para a diretoria?!

Eu gelei. O professor não só havia mandado eu desligar a droga do celular, ele havia gritado. Ele gritou comigo na frente de mais de 30 pares de olhos, que estavam me encarando e eu simplesmente paralisei.

Deixei o celular de lado, mas não sabia o que fazer para que as pessoas parassem de me olhar. Imediatamente, minhas mãos ficaram geladas e trêmulas e eu me afundei um pouco na cadeira.

— Cale essa boca, seu velho — uma voz murmurou no fundo da sala, e todos voltaram a sua atenção para lá, tirando os olhos de mim.

Porra, Gabriel.

Segui os olhares curiosos da sala e olhei para o fundo. Gabriel estava em pé atrás de sua mesa com as mãos cruzadas no peito.

— O que disse, Gabriel? Repita!

— Não entendeu? Posso repetir em inglês, se quiser. Ou espanhol. Até em libras. Aqui o gosto é do freguês

A sala estava em completo silêncio. Meu coração batia forte, descompassado, e minha cabeça ainda não tinha assimilado tudo o que estava acontecendo.

Por que ele havia se metido naquela confusão a toa? Ele já não tinha um histórico bom por aqui, não precisava adicionar mais infelicidades ao currículo.

— Os dois para a diretoria agora.

Porra, Gabriel.

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oxiiiiiii  hahahah e aí??

Os Opostos se Atraem? - Livro 1Onde histórias criam vida. Descubra agora