Capítulo 46

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- Eu já te falei pra ficar longe dela. - Gabriel rosnou, com nojo - É surdo ou se finge de retardado?

O cara estava se levantando do chão e eu estava paralisada. Se bem me lembro, o nome dele era Souza ou algo do tipo. Gabriel, todo vestido de preto, se dirigia perigosamente para perto dele, soltando fogo pelos olhos, o maxilar e o punho travados.

Eu podia sentir o seu ódio de onde eu estava. Seu campo magnético era forte demais, dominante. O caos se instaurou dentro dele e eu tinha certeza de que ele estava pensando em mil maneiras de acabar com a vida desse cara do jeito mais doloroso possível.

Após se levantar e se virar para Gabriel, aparentemente se esquecendo de mim, o cara disse:

- Ora, ora, porque está tão protetor assim? Já comeu ela, Marques? Talvez não, né. Você prefere as virgens, se bem me lembro. Bom, sinto informar, mas isso ela já não é mais.

O pescoço de Souza virou-se com violência para o lado quando Gabriel, com os olhos escuros de raiva, desferiu um soco em sua boca, fazendo-a sangrar.

- Fale assim dela de novo e não vai sobrar um osso inteiro na sua cara para contar a história - ele cuspiu as palavras enquanto limpava o sangue das mãos na roupa.

Souza cuspiu o sangue e soltou uma risada debochada. Avançou para cima de Gabriel, que o segurou pelos ombros e deu-lhe uma rasteira, fazendo-o cair de novo, de costas.

Gabriel se agachou ao seu lado e sussurrou com a voz ameaçadora.

- Presta atenção, seu merda. Essa foi a última vez que você tomou uma surra minha. Faz uma gracinha a mais, e você vai direto para a cadeia.

- Se eu for, você vai junto, Marques, eu te entrego. - ele falou - Ela sabe? - perguntou, se referindo a mim - Ela sabe de tudo o que você fez? Ela sabe que você é um viciado fodido sem salvação?

Mais um soco foi desferido em seu rosto, seguido por mais sangue espirrando e o barulho de algo se quebrando. Seu nariz já era.

- Eu não me importo - disse Gabriel, bem perto do rosto dele - Você me faria um favor, na verdade. Seria um prazer estar na mesma prisão que você. Seria um prazer quebrar o seu nariz todos os dias por infinitos dias, seria ótimo te caçar todos os dias lá. E eu vou te caçar, seu imundo. Chegue perto dela de novo que eu vou te caçar todos os dias pelo resto da sua vida, até quando eu te encontrar e te fazer sofrer tanto que você não vai ver outra alternativa a não ser morrer. E quando isso acontecer, quando isso finalmente acontecer e você fechar os seus malditos olhos pela última vez, pensando que se livrou de mim, eu estarei te esperando no inferno.

Não havia nada que não fosse puro ódio e nojo em cada maldita palavra de ameaça que saía da boca de Gabriel. Ele se afastou do cara, que se levantou e simplesmente saiu de perto dele, agora com o rosto ensanguentado, o cabelo destruído e as roupas puídas, sem olhar para trás.

Meu coração dava saltos no peito. Eu nunca havia visto Gabriel agir dessa forma e muito menos dizer essas coisas.

Me virei para ele, ainda em choque por tudo o que havia acontecido e quando ele ia dizer alguma coisa, Renato apareceu.

- Oi, Mel. Trouxe isso para você. - me entregou um copo com uma bebida azul. - Oi, Gabriel.

Gabriel o ignorou.

- Vamos embora, Melissa. - ele disse sério, sem olhar para mim.

- Como assim "vamos embora"? - perguntou Renato - Ela veio comigo, cara. Fica na sua e deixa ela curtir a festa.

- Você - Gabriel apontou para Renato - cale a boca. E você - olhou para mim - vamos embora, Melissa.

Seu campo magnético caótico tomava conta de tudo ali. Eu sentia a energia do mais puro e belo caos se espalhando por ele, emanando dele, tomando conta de suas veias, do seu sangue.

Dos seus olhos.

- Gabriel... - eu disse - eu não...

Eu não sabia exatamente o que eu ia falar.

- Pronto, ouviu ela? Ela não vai. Pode nos dar licença, agora? - Renato falou, chegando mais perto.

- Eu não vou falar pra você calar a boca de novo. Fica na sua. Você a convidou para essa merda de lugar e ela nunca viria para cá sozinha - Gabriel o metralhou com o olhar - Viria, Melissa? Se soubesse que a festa era aqui, você viria?

- Não, não viria - falei baixo.

- Anda, Melissa, vamos sair daqui - disse Renato e pegou minha mão, quase me arrastando para longe de Gabriel à força.

O restante aconteceu muito rápido.

Gabriel avançou sobre a mão de Renato que estava em meu braço e me soltou dele. O barulho dos nossos dois copos de bebida azul caindo no chão e se quebrando abafaram o som do soco que Gabriel deu em Renato.

- Eu falei para ficar na sua. - ele disse sereno, vindo para perto de mim e pegando minha mão delicadamente.

- Acha que manda em todo mundo, imbecil? - Disse Renato, levando a mão ao queixo.

- Mando em quem é idiota o suficiente para obedecer.

- Tá me chamando de idiota?

- A carapuça serviu? - ele arqueou uma sobrancelha. - Olha, não vou ficar aqui perdendo tempo escutando você falar coisas que não me interessam, só para disfarçar que você acabou de apanhar na frente da garota que quer. - Gabriel disse e eu quase soltei um sorriso - Eu te avisei que não ia te mandar calar a boca de novo, você não me ouviu. Melissa, vamos embora - ele disse, firme.

Quando dei por mim, meus pés estavam me guiando até o portão, ao lado de Gabriel. Nenhum de nós dois falou nada quando ele abriu a porta do carro para mim, verificou o meu cinto e entrou no motorista, dirigindo até a sua casa.

O caminho todo foi feito em silêncio. Ele não sabia que Renato havia me contado tudo. Por isso, qualquer coisa errada que eu soltasse, seria uma pista.

Ele entrou com o carro na garagem de sua casa. Nem perguntou se eu queria ir pra lá, apenas me levou, mas eu não questionei. Ele estava muito nervoso.

Gabriel desceu do carro, abriu a porta, atravessou a sala rapidamente e subiu as escadas, pisando firme, irritado. Fiquei parada ali na sala por alguns minutos, absorvendo tudo e pensando no que ele estaria fazenda lá em cima. Todos os pensamentos silenciaram de uma vez quando um gatilho estourou em minha cabeça. Eu sabia o que ele estava fazendo.

Subi correndo para seu quarto, pulando os degraus de dois em dois e entrei bem a tempo de ver ele cheirando uma fileira de pó branco bem na minha frente.

Essa foi a gota d'água. Literalmente.

No segundo seguinte, eu, com ódio, arranquei o saquinho de suas mãos, o joguei no chão e pisei em cima. Ele estourou, espalhando a droga por todo o quarto. Gabriel não ia se matar aos poucos, não enquanto eu estivesse aqui.

- Por que fez isso?! - ele gritou, irritado, virando de costas para mim e passando as mãos pelos cabelos.

- Porque isso vai te matar, seu idiota! - gritei de volta.

- E daí?! - ele agitou os braços - Quem liga se eu morrer? Me diga, Melissa, quem liga?! Você não tem o direito de interferir em minhas escolhas! Se vai me matar, me deixe morrer! Não vou fazer falta para ninguém, não vai mudar a vida de ninguém! - ele gritou.

- Vai mudar a minha vida! - gritei.

- Por quê?! Me diz, Melissa, por que se importa tanto comigo?! - ele chegou mais perto.

- Porque eu te amo, porra!

Os Opostos se Atraem? - Livro 1Onde histórias criam vida. Descubra agora