Capítulo 48

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Quando acordei, demorei alguns segundos para perceber onde estava e o que havia acontecido na noite passada. Fechei os olhos e sorri  ao me virar e ver Gabriel bem ali, ao meu lado, de bruços. Ele dormia profundamente, o que fazia seu semblante ficar calmo e sereno, como quase eu nunca via.

A pouca luz do sol que atravessava as cortinas fazia sua pele ficar mais dourada, e seus cabelos, cor de bronze. Os cílios longos faziam sombra na bochecha, escondida atrás de uns dos braços, que estava embaixo do travesseiro. A colcha da cama o cobria do quadril para baixo, me dando a visão completa de suas costas; os músculos relaxados subiam e desciam conforme sua respiração. 

E, novamente, ele parecia um anjo. Mais do que como nenhuma outra vez. Imaginei um par de asas brancas saindo de suas costas. Asas gigantes, com centenas e centenas de penas; a textura era como a de uma pluma. Em seguida, as tingi de negro. Se Gabriel fosse de fato um anjo, eu deveria estudar ambas as possibilidades: um anjo dos céus e um anjo das trevas. Gentil e protetor. Misterioso e obscuro.

Nesse momento, me levantei da cama e coloquei o meu pijama que estava na minha bolsa.

Na verdade, não era bem um pijama, era apenas um vestidinho um pouco mais velho que às vezes eu usava como camisola.

Já vestida, fui até o quarto de Mirella, apanhei um bocado de lápis e folhas e voltei para o quarto de Gabriel. Sentei-me na cama ao seu lado e comecei a desenhar.

Minha mão corria solta pelo papel, deixando traços, riscos e sombreados parecidos com o que eu estava vendo ao vivo e a cores ali do meu lado.

Depois de algum tempo, que eu não saberia dizer se foram horas ou minutos, fiz mais alguns ajustes e o desenho ficou pronto, então, coloquei-o na escrivaninha.

Ao me deitar novamente ao seu lado, cheguei a imaginar se ele era mesmo real. A luz que o cobria era mais intensa agora em virtude de os ponteiros do relógio terem avançado, e suas costas brilhavam. Não me contive; me aproximei devagar e deslizei a mão por elas, do início ao fim, sentindo a textura macia da pele.

Sim, ele era real. Sim, ele estava do meu lado.

Bem nesse momento, ele começou a se mexer. Respirou fundo, mudou de posição, virando-se de frente para mim e estendeu a mão pelo colchão, colocando-a em minha cintura; sorriu, ainda de olhos fechados, e me puxou levemente para ele. Eu ri baixo e me inclinei para lhe dar um beijo no rosto, o que fez com que ele abrisse os olhos devagar.

  - Já está acordada? - ele perguntou, com a voz rouca enquanto coçava os olhos.

  - Já... Faz um tempinho. - falei.

Me lembrei novamente da noite de ontem e senti minhas bochechas ficarem vermelhas.

  - Por que está com vergonha? - ele perguntou, se inclinando um pouco sobre mim, deixando nossos rostos um de frente para o outro.

  - Gabriel... - eu ri e cobri o rosto com a coberta.

  - Hey, - ele disse enquanto tirava a coberta de cima de mim - Não precisa ficar com vergonha. A noite passada foi a nossa primeira vez, mas não a única. Se quiser, vamos ter a vida toda para fazer isso

A vida toda.

  - E... - ele continuou - sobre o que eu disse ontem...É... É verdade.

Ele falou devagar, como se estivesse envergonhado.

"Eu também te amo, porra."

Era a isso que ele se referia.

  - Por quê? - perguntei.

  - Por quê o quê?

  - Por que é verdade?

  - Porque... - ele suspirou - Porque você é diferente. Pelo menos, para mim. Você tem esse negócio de desafiar os outros, empina o nariz e faz cara de brava, mesmo sendo inofensiva, entende? Eu gosto disso. Vocé é forte, é parceira, tenta me entender, não me julga, tem escuta ativa, gosta de ajudar os outros, se importa com as pessoas... Você me faz querer ser outra pessoa, uma pessoa... melhor do que já fui um dia, e faz isso só com seu jeito - ele deu uma pequena pausa, e continuou me olhando - E você é linda. Talvez não ache, mas, você é uma das meninas mais lindas que ja vi. Todas as medidas do seu rosto dão exatas e tem ângulos fortes, mas isso não faz você parecer mais velha, porque você ainda tem cara de criança. - ele riu e eu dei um tapa leve em seu braço. - E por esse seu jeitinho engraçado, e desastrada. Inteligente e perfeita, que eu te amo.

Eu sorri enquanto ele tirava uma mecha do meu rosto.

  - E você? Por que me ama? - ele perguntou.

  - Porque você tem um ar todo frio e mal educado, mas tem um coração gigante aí dentro. Quase ninguém vê, mas tem. Você cuida de mim, me protege, me ouve, me entende. você faz eu me sentir segura, só você consegue isso. Temos uma conexão inegável e quando brigamos, é como se...

  - Nos sentíssemos mais vivos - ele completou - Também sinto isso.

  - E você desperta o que há de pior em mim. Não no sentido ruim, você me faz querer ser como você às vezes. Eu me importo muito, com muita coisa, e o teu jeito de ser mais livre tira um pouco do caos em minha cabeça e silencia os meus pensamentos ansiosos.

  Ele sorriu fraco e roçou seus lábios nos meus.

  - E você desperta o que há de melhor em mim - e me beijou.

  - Espera aqui - ele disse.

Gabriel se levantou, vestiu um shorts e saiu do quarto. Ficou alguns segundos fora e voltou segurando uma fola de papel tamanho A3 nas mãos. Ele se aproximou e me entregou.

Era o desenho que eu havia feito dele há algum tempo, depois que ele rasgou o antigo ao arrancá-lo da parede com raiva.

Porém, tinha um pequeno detalhe a mais no desenho. Havia outro rosto ali, colado ao dele. Traços fortes e seguros, sombreado firme. Os olhos vívidos e os cabelos tão reais que eu pensei que pudesse tocá-los. A boca tinha o arco do cupido bem definido e havia alguns fios de cabelo soltos pelo rosto.

Era eu.

Os Opostos se Atraem? - Livro 1Onde histórias criam vida. Descubra agora