Capítulo 68 - Dad

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O caminho até a casa do meu pai foi feito em silêncio. Ele não era explosivo igual minha mãe, pelo contrário. O que minha mãe tinha de agressiva, ele tinha de calmo, e o que ela tinha de habilidade para xingar, ele tinha de competência para fazer você pensar sobre suas ações pelo resto da sua vida usando apenas algumas palavras.

Na casa dele havia um escritório que ele usava para o trabalho, e eu sei que quando ele diz que quer conversar comigo, vai ser nesse escritório. Fui para lá e me sentei de frente para a mesa dele.

O primeiro lugar para o qual ele olhou foi minha barriga.

Desviei o olhar.

Eu estava com vergonha. Muita vergonha. Não fazia ideia do que ele estaria pensando de mim, sua única filha, grávida aos 16. Que ótima notícia.

  - Filha, eu vou falar para você a mesma coisa que falei para sua mãe. - ele começou logo depois de se sentar na cadeira. - Você já é grandinha, já sabe o que faz. E sua vida íntima realmente não é da conta de ninguém.

Um alívio imenso me atingiu.

  - Mas, vou te falar os pontos que achei que você devia saber, e que realmente me incomodam. Primeiro, sua saúde. A primeira pergunta que o médico vai responder é se essa suposta gravidez pode te afetar de um jeito negativo. Segunda, sua faculdade. Conheço bem sua mãe e só alguém com poder supremo pode convencê-la a cuidar do bebê para você ir estudar. Terceiro, e quando ele crescer, o que vai dizer a ele? Que o pai está na cadeia? Já pensou como será para ele não ter um pai presente?

Não, eu nunca tinha pensado em nada disso. Nesses últimos meses, tudo o que existia para mim era eu e Gabriel. Apenas isso. E olha no que deu.

  - Quarto, eu realmente gostei daquele rapaz, o Gabriel. Ele não tem jeito para criminoso e...

  - Ele não é um, pai.

  - Eu sabia disso. Li os jornais, mas você sabe que minha intuição sobre pessoas não falha. Ele não é uma pessoa horrível. Não acredito que ele de fato tenha cometido o crime em sã consciência.

Outra onda de alívio percorreu meu corpo. Meu pai poderia te ajudar.

  - Conheço o olhar no rosto dele, filha. Ele está perdidamente apaixonado por você. Era o olhar que todos diziam ver em mim quando eu estava com sua mãe, então sei que ele nunca faria nada se soubesse que isso te magoaria. O que não entendo é o motivo disso tudo. 

Seu olhar castanho era realmente confuso. Ele não entendia. Eu precisava de ajuda. Gabriel, me perdoe, pedi mentalmente, mas eu vou ter que contar.

E contei. Contei tudo o que aconteceu na vida de Gabriel desde quando ele tinha 15 anos. Todos os detalhes. Tudo o que ele me contou. Eu nunca, em hipótese alguma, poderia fazer isso com Gabriel, trair sua confiança desse jeito, mas era o único meio para que eu pudesse livrar nós dois dessa furada em que ele se meteu.

Meu pai ouviu tudo com atenção, ele era bom em fazer isso. Ouvir. Sempre foi. Não expressou nenhuma objeção, nem entregou as emoções com o olhar. Apenas apoiou os cotovelos na mesa, entrelaçou os dedos na frente da boca e me ouviu atentamente.

  - Ele não fez por mal, pai. - eu disse, por fim - Ele só... tem a mania de fazer justiça com as próprias mãos, e as coisas saíram do controle. - abaixei a cabeça.

  - Bom...  ele disse depois de um tempo - Eu tenho uma proposta a te fazer. Está disposta a ouvir?

Àquela altura, eu ouviria qualquer coisa.

  - Sim.

  - Posso me oferecer para ser o advogado dele de defesa, agora que sei disso tudo. O garoto é emancipado e tem a mãe doente, passou por inúmeras coisas e tem "n" problemas, o juiz vai diminuir a pena. Mas você vai me prometer duas coisas. 1) que vai no médico confirmar a gravidez. 2) que não vai parar sua vida, se estiver mesmo grávida. Vai para a faculdade, vai estudar, arrumar um emprego, sair com amigas. E em troca, eu converso com a sua mãe a seu favor. O que me diz?

Quando ele disse aquelas palavras, eu fechei os olhos e me recostei na cadeira. Uma pessoa não estava contra mim. Ele não estava contra mim. Ele me entendia.

Eu queria dizer várias coisas, mas se eu falasse o que quisesse, ia atropelar as palavras, que sairiam aos montes e provavelmente não fariam sentido.

Então, eu apenas disse:

  - Sim.

Os Opostos se Atraem? - Livro 1Onde histórias criam vida. Descubra agora