Eu já sentia meu coração bater forte no peito e foquei toda a minha atenção nas palavras que saíam de sua boca.- Desde que a irmã de Gabriel morreu, ele se culpa, você deve saber disso. - ele disse e eu assenti.
Gabriel já havia ne falado que achava ser o culpado da morte da irmã.
Renato continuou:
- Ele mudou desde então. Nós já chegamos a ser amigos, mas ele me odeia agora. E eu comecei a me preocupar com você, pela influência ruim que ele pode exercer. - cerrei os olhos e Renato respirou fundo - Melissa, a verdade é que Gabriel já vendeu drogas pesadíssimas, já as consumiu, quase morreu de overdose, não mede a quantidade de bebidas nas festas, apesar de fazer um certo tempo que ele não vai em nenhuma, mas já passou dos limites muitas vezes. Os amigos dele já o acharam caído na sarjeta, chorando, todo sujo, como se tivesse passado uma semana inteira fora de casa. Nessa época ele tinha 16 anos. Um garoto de 16 anos nas condições em que ele estava não é normal. Ele se corta sem motivo algum, se embebeda sempre que pode, não liga para nada. Melissa, você tem que entender, Gabriel não liga para ninguém. Você pode dizer que ele é "fofo" com você, ou que ele se importa com você, mas é porque você ainda não conhece ele o suficiente. Você não faz ideia das coisas que a bebida já fez ele fazer, além disso tudo que te contei.
Eu estava enjoada. Eu sabia que Gabriel era descontrolado em certos aspectos, que perdia o controle sobre o consumo de drogas quando perdia o controle sobre ele mesmo. Eu sabia de tudo isso. Mas essas informações que Renato acabou de vomitar em mim são novas.
- Me fala. - eu disse - Me fala o que mais ele fez além disso.
Meu nariz começou a pinicar. Merda, eu não queria chorar.
- Ele já bateu em uma garota.
Prendi a respiração. Aquilo foi como um soco. Um não, vários socos me atingindo sem parar, um atrás do outro, revirando todo o meus sistema digestivo do avesso.
Não, ele não teria feito isso.
- Depois abusou dela. - Renato falou baixo.
Isso foi o suficiente para eu olhar para o outro lado da sala, desviando os mejs olhos cheios d'água do olhar de Renato.
Senti minhas mãos ficarem frias e começarem a tremer, assim como o meu lábio inferior. A ardência na garganta só não era maior do que a dor no peito que eu estava sentindo.
- V-você tá falando sério? - perguntei devagar, tentando me lembrar como fazia para respirar.
- Você disse que queria saber. - ele respondeu - E essa é a verdade. É com esse tipo de gente que você está andando. Eu precisava te avisar.
- Sim - falei tentando me controlar.
Eu não conseguia enxergar direito por conta das lágrimas que caíam violentamente. Eu sabia que as palavras saíam trêmulas da minha boca e senti que minha pressão estava caindo.
- Você está bem, Melissa? - ele fez menção de se aproximar, mas eu levantei a mão em protesto.
- Sim, estou - falei. - Você só me pegou de surpresa com algumas informações e... eu... - dei uma pequena pausa para conseguir colocar os pensamentos em ordem.
Se isso fosse verdade mesmo, eu precisava saber o porquê.
- Você sabe o motivo de ele ter feito tudo isso? - perguntei - Com a garota.
Renato me olhou com seus olhos azuis tensos e preocupados. Dava para ver que ele estava decidindo se me contava ou não.
Eu não o conhecia o suficiente para saber se ele inventaria algo assim, mas não achava que ele era uma pessoa ruim. Gabriel tinha suas desavenças com ele, mas ele havia me tratado super bem desde o primeiro minuto em que me viu. Era gentil, se preocupava comigo, era educado e muito cortês. No fundo, mesmo sem conhecê-lo tanto, eu não achava que ele poderia inventar algo tão grave assim sobre uma pessoa.
Seu intuito me contando tudo isso, era apenas me proteger.
Por fim, provavelmente sabendo que eu não ia sossegar enquanto ele não falasse, ele explicou:
- Ele só fez isso com ela porque queria que outra pessoa sentisse o que a irmã sentiu, Melissa. Descontou em uma pessoa completamente inocente. Sem falar que estava interamente bêbado. Esse provavelmente foi o dia que ele mais bebeu na vida inteira dele.
Eu não respondi de imediato, apenas me concentrei em cada facada que suas palavras davam em mim.
Renato se levantou e se ajoelhou na minha frente, apoiando a mão no assento vazio do sofá que estava ao meu lado.
- Ele é um traste, Melissa. - ele disse baixo - Você tem que se afastar dele. Ele vai te levar para o submundo junto com ele, saia dessa enquanto tem tempo. Aproveite que ele está fora da cidade, suma, pare de respondê-lo, mas coloque a sua vida nos trilhos enquanto você pode. Olhe para você, no momento em que eu soube seu nome, eu sabia quem eram os seus pais, eles são conhecidos por aqui. Você é filha de dois advogados, inteligentíssima, provavelmente uma futura médica com uma carreira e um futuro brilhantes à frente. Não comprometa nada disso andando com as pessoas erradas. Eu peço mil desculpas por te contar tudo isso assim, mal nos conhecemos, eu sei que não tenho essa liberdade com você, mas te achei encantadora desde quando te vi pela primeira vez e uma parte do meu coração se quebra ao saber que você está assumindo o risco de jogar tudo fora, toda a sua vida, sua família, seus estudos, por conta de uma pessoa como ele, que não merece nada que venha de você.
Eu não sabia o que responder. Eu estava com a boca seca, os lábios separados, o cenho franzido revelando o caos interno. Tentei falar alguma coisa, mas nada saía. E se saísse, não faria o mínimo sentido. As palavras correriam soltas pela minha mente desorganizada e caótica, sem começo, nem meio e nem fim.
- Você não sabe como foi. - Renato continuou, sentando- se ao meu lado - Ele quase matou a garota a tapas e ameaçou-a, falando que se ela contasse para alguém, ele a mataria.
Mais uma facada de dentro para fora. Mais um soco. Meus hematomas internos estavam quase se materializando, de tão reais que pareciam.
Engoli em seco, obrigando minha mente a formar palavras e minha boca a proferi-las.
- E... Como você sabe? - perguntei não mais alto do que um sussurro.
Renato respirou fundo e contou:
- Porque éramos próximos. E eu fui uma das pessoas que foi até a casa dele depois para "ver como ele estava", ver se estava bem, se estava vivo. Chegamos lá e a menina saiu correndo o mais rápido que pôde, chorando, destruída, aproveitando que havíamos deixado a porta aberta. Quamdo o encontramos, ele estava sentado no chão, olhando para frente fixamente, paralisado. Era como se estivesse se lembrando de algo, de repente. E..
Chega.
- Não. - eu o cortei.
Eu não iria aguentar mais. Mais uma palavra e eu sabia que entraria em combustão ali mesmo.
- Chega, Renato. Não fala. Só... Vai embora. Por favor. Vai embora. Eu não vou aguentar ouvir você falar mais - uma lágrima solitária escorreu pelo meus rosto.
Era uma questão de tempo até todas as outras saírem como uma avalanche novamente.
- Tudo bem - ele disse e se levantou - Eu entendo, Melissa. Me perdoe por jogar tudo em cima de você dessa forma, mas como eu sabia de tudo, senti que estaria te enganando se não te contasse. Não é justo com você ficar sem saber quem é o verdadeiro Gabriel e do que ele é capaz, principalmente para não ser a próxima.
Mais uma facada.
Cale a boca, por favor, só cale a boca.
- Se precisar de alguma coisa... - ele continuou.
- Eu... Te ligo - o cortei - Sim. Obrigada - me levantei e abri a porta para que ele pudesse finalmente sair - Só... - limpei a lágrima - Vai... Por favor.
Ele assentiu e se foi.
Bati a porta com as mãos tremendo. Cinco segundos depois, eu estava no chão, chorando e gritando incontrolavelmente.
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oi gente... Chorei escrevendo esse cap ao som de Inconsolable, do Backstreet Boys. Nossa, alaguei meu quarto hahaha
Espero que tenham gostado. Beijoos
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Os Opostos se Atraem? - Livro 1
Teen FictionO que faria se você conhecesse um garoto de aparência estonteante, discreto, que se refugia na música, porém, que é completamente o seu oposto, meio mal educado, egoísta e só se importa consigo mesmo? O que faria se você se aproximasse demais desse...