Capítulo 24

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Assim que anoiteceu, eu arranquei os fones e acendi algumas luzes da casa. Ver muito filme de terror dá nisso: não querer ficar completamente no escuro.

Quando fui até a sala para pegar meu material e guardar a compressa no lugar, vi que ela não estava ali. O que havia acontecido? Eu a peguei na mão lá na escola, onde havia deixado?

Procurei em todos os lugares da casa, de novo dentro da mochila e nada. Provavelmente deve ter caído na rua enquanto eu voltava para casa. Mais uma notícia boa.

De repente, a campainha tocou. Pensei ser a minha mãe chegando mais cedo, então abri a porta sem ver quem era.

Renato estava parado bem na minha frente.

O que ele estava fazendo aqui?

Sua moto estava parada perto do meio-fio, com o capacete pendendo no guidom. Ele estava com os cabelos meio úmidos e bagunçados, o que me fez pensar que ele devia ter tomado banho pouco tempo antes.

— Oi, Melissa. Eu vim me desculpar pelo o que aconteceu na escola hoje... Foi minha culpa.

— Mas você não fez nada — o olhei sem entender

— Fui falar com você perto de Gabriel. Ele provavelmente achou que eu estava tentando roubar você dele, o que acabou gerando a confusão, e eu não queria que você passasse por aquilo. Me desculpe.

Renato realmente parecia arrependido.

— E eu vim aqui te devolver isso.

Ele colocou a compressa em minha mão.

— Deve ter soltado ela sem perceber no meio da discussão.

— Só fui lembrar dela agora pouco. Não a achei em lugar nenhum.

— Parece que apareci na hora certa.

— Acho que sim.

Eu estava tensa, percebi isso. Mas eu sabia que quanto mais Renato se aproximasse, mais Gabriel se afastaria. E isso era a última coisa que eu queria na vida.

— Obrigada por trazer até aqui. Não precisava.

— Claro que precisava. Depois de tudo o que fez por mim ontem, era o mínimo que eu podia fazer.

Agora eu estava mais tensa ainda. Algo me dizia que alguma coisa iria acontecer.

Alguma coisa ruim, muito ruim.

Vai embora, Renato, por favor...

Renato me fitava de cima a baixo. Eu detestava isso, pois ficava com vergonha.

— Para de me olhar. Eu fico com vergonha.

— Por quê? Você é bonita. E eu gosto de olhar pessoas bonitas.

— Você não parece ser do tipo que só olha — eu brinquei, duvidando que ele nunca tinha tido segundas intenções com uma garota só por ela ser bonita.

Mas ele entendeu minha frase de um jeito errado e eu só fui perceber isso tarde demais.

— Tem razão. Não só olhar.

E me beijou.

Mas que merda ele está fazendo?

Me separei de Renato imediatamente, bem a tempo de ouvir o barulho de porta do carro bater em frente à minha casa.

Olhei para a esquerda. Gabriel havia saído do carro e algo caiu de suas mãos enquanto ele olhava fixamente para mim e Renato.

Ele havia visto o beijo.

Eu jurava que Gabriel ia se aproximar e gritar comigo, depois dar uma surra em Renato. Todas as moléculas do meu corpo juravam que ele faria isso, que ele daria um escândalo e que acabaríamos discutindo.

Mas não. Ele simplesmente me olhou com os olhos frios, entrou no carro novamente e se foi.

— Acho melhor você ir. É sério.

Ele ia dizer alguma coisa, mas se conteve e apenas assentiu, subiu na moto e se foi.

Dei alguns passos para ver o que Gabriel havia derrubado. Meu coração deu um nó ao ver um buquê de rosas vermelhas no chão. Ao seu lado, um bilhete.

Eu estava me sentindo a pessoa mais horrível do mundo, mesmo que não tivesse culpa de nada.

Levei o bilhete e as flores para dentro, as coloquei num vaso no meu quarto e me sentei na cama para ler o que ele havia escrito:

" A solidão que vivi
A solidão que há de partir
Até a solidão me deixou

Para meu coração deixar de ferir.

Estende tua mão cheia de graça
E com tua ternura, vem cá comigo
Até que a solidão se desfaça."

Porra, Gabriel.

Os Opostos se Atraem? - Livro 1Onde histórias criam vida. Descubra agora