Os Opostos se Atraem? - Livro 1

Capítulo 55

~Gabriel~

A expressão em seu rosto ficou ilegível. Seus olhos castanhos se tornaram menores quando refletiram o sorriso que apareceu em seus lábios. 

Ela era tão espontânea com absolutamente tudo, que eu imaginei, por um momento, que se a resposta fosse "sim" para a minha pergunta, ela diria imediatamente, sem rodeios, mas ela só ficou me olhando com um sorriso no rosto.

Eu odiava não saber o que os outros estavam pensando. Principalmente Melissa, porque ela era imprevisível, e ainda não tinha me respondido, então será que ela me diria um "não"?

Será que ela achava que eu não era bom o bastante para ela?

Bom, isso era fato. Eu não era. Melissa era milhares de vezes melhor do que eu em todos os sentidos possíveis. Ela era uma criatura sublime e brilhante, musa de todos os meus escritos e desenhos e a luz que emanava de sua alma silenciava um pouco da escuridão da minha.

Eu posso até não ser o melhor cara do mundo, mas eu quero mudar. E eu ia mudar. Por ela, só por ela. Eu sei que se eu continuar como estou, vou perdê-la para sempre e eu me arrepio ao pensar que isso quase aconteceu. Mas não podia acontecer de novo. Melissa é minha âncora, é a parte boa de mim, a parte com luz, mesmo depois de tudo o que fiz.

Ela era como um anjo caído do céu,  distante dos seus, fora do reino de Deus, que explorava os males desta Terra da forma mais linda e pura, e eu andaria por cada centímetro do inferno descalço e iria para guerras e mais guerras com todos os outros anjos, até com o próprio Deus, se alguém tentasse levá-la de volta para o paraíso de onde tinha caído.

No fim, eu me sentia abençoado. Tinha achado um anjo só meu. E nada iria tirá-la de mim.

Só que tudo dependia da sua resposta.

Já fazia 3 minutos que ela estava me encarando em silêncio, e aquilo já estava me assustando. Minha mente travou batalhas silenciosas tentando pensar em várias coisas ao mesmo tempo, mas sem focar em nenhuma em específico. Eu estava nervoso demais.

Porra, Melissa.

  - Sim - ela disse de repente.

O barulho em minha mente silenciou e
eu precisei de uns segundos para processar o que ela tinha dito.

  - O quê?

  - Sim - ela repetiu e abriu um sorriso maior do que o anterior.

Minha primeira reação foi abraçá-la forte. Esse anjo agora era meu, só meu. E eu faria de tudo para que nada e nem ninguém a machucasse de novo. Nem mesmo eu. Qualquer criatura que a fizesse mal tinha um encontro marcado comigo nas profundezas do inferno, onde eu caçaria a sua alma até o fim e o faria passar por torturas absurdas por ter machucado o meu anjo.

Eu ainda estava agarrado à minha fortaleza quando a ouvi dizer:

  - Só que com uma condição.

Eu a soltei devagar. Àquela altura, eu aceitaria toda e qualquer condição que ela impusesse, não importava qual fosse.

- Você vai sair desse mundo, Gabriel. - ela falou séria. - Você vai sair das drogas, do álcool, da dependência, de tudo isso. Não faz bem para você. Isso tudo só acelera sua morte e eu não quero te ver morrer. Eu não quero te ver ter uma abstinência, eu não quero te ver tendo uma morte por overdose. Eu não sei como você vai sair disso, seja com terapia, internação, ficar trancado em um quarto por anos, eu não sei, mas você vai sair. Eu não vou te ver morrer, eu não posso...

Meu coração se cortou quando uma lágrima escorreu dos seus olhos.

  - E-eu não posso te ver morrer - ela continuou - Você entende? Você entende que cada merda de escolha que você faça, a partir de agora, vai me atingir?

Eu concordei com a cabeça.

  - Então cuide de você, Gabriel. Porque eu não posso suportar a ideia de você se matando aos poucos. Eu não posso suportar a ideia de perder você. Não posso - ela segurou meu braço e eu a puxei para mim.

  - Eu sei, eu sei, princesa. Você não vai me perder - a tranquilizei - Eu estou aqui para você. E eu vou recomeçar do zero, por você. Você é a minha força, Melissa. Eu aceito todas as suas condições, eu recomeço do zero, eu mudo a minja vida se isso significar que eu não vou perder você. Mas você tem que estar lá comigo. Eu preciso de você comigo.

  - Eu vou estar. Você esteve lá por mim, lembra? E agora é a minha vez. E não tem volta - olhou em meus olhos.

  - Eu sei que não tem. - concordei - Eu não quero que tenha.

Peguei as suas mãos.  Ela gostava disso tanto quanto eu gostava que mexessem nos meus cabelos.

- E eu quero mesmo assim. - continuei - Eu já havia prometido que iria mudar por mim mesmo, mas não deu certo. Nunca consegui sair do lugar. Mas, agora, vou mudar por você - trouxe suas mãos até os meus lábios e depositei um beijo em cada uma.

  - E? - ela perguntou com um sorriso malandro.

E o quê?

  - E eu vou conseguir. - respondo.

Era isso que ela queria ouvir? Essa garota me deixa confuso!

  - Por quê? - ela perguntou, com uma sobrancelha arqueada.

Ah, saquei. Ela sabia a resposta, mas queria ouvir de mim.

  - Porque eu te amo, porra.

Essas palavras saíam com facilidade pela minha boca, coisa que nunca aconteceu antes, com mais ninguém. Mas, com ela, como sempre, tudo fluía.

E foi então que ela me beijou. Me pegou de surpresa, mas foi uma surpresa completamente boa e bem-vinda. Sua boca macia na minha era a porta de entrada para um paraíso que eu nunca tinha estado antes, em minha vida toda.

"Se por te beijar tivesse que ir depois para o inferno, eu faria isso. Assim, poderia me gabar aos demônios de ter estado no paraíso sem nunca entrar."

Nos vestimos, e eu a puxei para se deitar em meu peito, fazendo-a se aconchegar em mim. Depois de um beijo de boa noite e alguns sussurros no escuro, ela estava dormindo profundamente.

Eu passei horas olhando para o teto, com uma das mãos atrás da cabeça, repassando tudo o que eu deixaria para trás nessa escolha que eu havia feito, nesse novo rumo que a minha vida estava tomando.

Como era possível que uma coisinha minúscula como Melissa seria capaz de alterar toda a minha rota em poucos meses?

Álcool, drogas, noitadas, garotas, e principalmente, problemas, tudo isso eu deixaria para trás.

Fiquei ali, tentando imaginar como seria minha vida agora: com Melissa do meu lado, e sem meu passado para me assombrar.