Capítulo 51

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*ouçam a mídia*

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Eu não disse nada quando vi que era ele. De alguma forma, nem me surpreendi. Acredito que alguma parte do meu subconsciente já sabia que era ele. O carro, o cheiro, o barulho do portão, o sofá... coisas familiares demais para passarem 100% despercebidas.

Apenas o encarei, em silêncio. Seria infantilidade sair correndo como na última vez, semana passada e eu não iria fazer isso de novo, estava exausta mental e fisicamente e só queria acabar logo com aquela história e ouvir alguma explicação absurda que estava por vir.

  - É isso que fala para um sequestrador? Para tirar a venda dos seus olhos se não você vai gritar? Você é louca? - ele perguntou, se agitando.

  - Fala - falei o encarando, séria.

  - Não se finja de indiferente. Eu sei que se importa.

Dei de ombros.

  - Vai falar? - perguntei, arqueando uma sobrancelha.

Ele respirou fundo.

  - Se for para ser assim, não - disse simplesmente.

  - Então, não fale. Não vou perder nada. - me levantei.

Ele apenas me encarou, curioso

  - Não vai perder nada? - levantou a sobrancelha.

  - Você iria? - Cruzei os braços.

  - Iria.

Ele se aproximou, ficando na minha frente. Instintivamente, dei um passo para trás e ele, surpreso, recuou.

  - Está com medo de mim?

Ele perguntou, a tristeza e a culpa embrulhando cada palavra sua.

  - Quer a verdade? - levantei o queixo e ele desviou os olhos.

  - Não... - disse baixo.

  - Ótimo, assim se machuca menos com a resposta. - falei dura.

  - Dá pra parar?! - ele falou alto, e eu me assustei, parandode respirar. - Me desculpa.

  - Você quer que eu aja como? Normal? Depois de saber que você é um monstro, quer que eu aja normalmente?

Senti que as minhas palavras o atingiram em cheio e ele deu um passo para trás com as mãos para o alto em sinal de rendição.

  - Você está certa. - ele falou - Mas eu ainda quero te explicar, Melissa. Você tem que saber.

Eu respirei fundo e me sentei no sofá novamente. Ele se sentou em uma das poltronas da sala, na minha frente, mas com uma boa distancia entre nós.

  - Olha, se você não quiser acreditar em mim depois de tudo o que eu disser, pode ir embora e eu juro que nunca mais te procuro se essa for a sua vontade.

  - Pode começar - falei, seca.

Ele se inclinou para frente, apoiou os cotovelos nos joelhos, encarou a mesinha de centro e começou a falar.

  - Eu já tenho uma certa noção de quem te falou todas aquelas coisas, e se foi quem penso que é, sei o que você ouviu. Não foi completamente verdade, mas também não foi mentira - ele suspirou. - Melissa, quando eu voltei correndo para a casa aquele dia que percebi que algo estava errado com Mirella, eu estava anestesiado pelo medo, estava apavorado. Quando cheguei la, quando vi o que estava acontecendo, na hora eu nem prestei tanta atenção na mulher que mantinha Mirella imobilizada enquanto o cara fazia o que queria com ela. Tanto é, que só fui me lembrar dela mais de um ano depois de ter saído do hospital. Quando a mulher me viu entrar, largou Mirella e saiu correndo imediatamente, mas essa cena foi praticamente apagada da minha cabeça. Eu só me lembrava do olhar de Mirella, do cara notando a minha presença ali. E foi nesse segundo que ele atirou nela. Eu nunca liguei para essa mulher. Na hora,  ela era o menor dos meus problemas, mas eu havia visto o rosto dela, e, depois, quando me lembrei de que ela também estava lá naquele dia, eu consegui me lembrar do seu rosto detalhadamente. Não sei como, mas consegui.

Os Opostos se Atraem? - Livro 1Onde histórias criam vida. Descubra agora