Capítulo 44

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Desde que voltamos para a casa de Matthew, não havíamos recebido sequer um sinal de vida deles. Mentimos dizendo que ele e mais um amigo estavam em uma viagem de férias. Não sei como acreditaram, já que nem estávamos em período de férias.

Como se isso não fosse o suficiente, Karen disse que havia pegado o celular de Matt, impedindo-o de receber ligações.

Era engraçado o modo como eu ficava pensando nele vinte e quatro horas por dia, como se não houvesse como parar. Judith, sempre muito receptiva, passava a maior parte do tempo elogiando Matthew e mencionando que ele tinha um diário escondido no quarto, algo extremamente sigiloso.

Eu não conseguia imaginar Matt escrevendo seus pensamentos em um diário, como se desabafar em folhas de papel fosse melhor do que conversar com alguém. Eu não era bisbilhoteira, então apenas guardei essa informação. Seu quarto tinha uma decoração estranha, combinando com seu estilo musical. Havia uma foto, que presumi ser do colegial, onde todos os caras estavam mostrando a bunda. Achei engraçado o modo como ele pendurava as coisas na parede.

- Vamos para a piscina - Savannah avisa, puxando Karen, que está sorridente.

- Depois eu vou.

Sigo para a cozinha e me sento em um banco alto. Judith estava preparando uma cobertura de chocolate para o bolo. Sorri ao vê-la cantar e se movimentar.

- Parece que alguém acordou de bom humor hoje - comento. Ela me olha, ficando levemente corada.

- Emma, que surpresa te ver acordada. Sua mãe me disse que iria buscar algumas coisas. - Minha mãe sempre com esse hábito de sair.

- Será que ela gostou de ficar aqui?

Jud caminha devagar até mim, aproximando-se o máximo possível.

- Não é querer fofocar, mas acho que ela gostou mesmo foi do motorista.

Começo a rir. O jeito como minha mãe era, com certeza havia sido pelo motorista. Balanço a cabeça para não pensar em coisas desagradáveis.

- Sua irmãzinha tem consulta médica; ela voltará apenas para pegá-la. - Ela ri.

Mamãe merecia ser feliz. Eu nunca a proibi de tentar conhecer alguém; pelo contrário, sempre dizia que ela deveria se dar uma chance. Supliquei várias vezes, mas ela sempre se manteve fiel a nós. Eu até dizia que o padeiro sempre dava os melhores pães para ela, mas Frida fingia não se importar. Passamos por muitos problemas, o que deve ter impedido ela de se abrir novamente. Às vezes dizia que era velha demais, então eu a lembrava que para o amor não existe idade. Não importa.

- Dona Katherine irá voltar quando?

- O Sr. Macollin ligou, dizendo que voltarão em breve. - Sinto-me aliviada por estarem bem.

- Que bom...

- Eu soube da novidade... - Sua voz está empolgada, e olho para ela desentendida.

- Qual?

- Você vai ter que esperar. Vou deixar você curiosa - sua risada me entristece. Savannah aparece na cozinha com uma bóia de patinho. Isso realmente era cômico.

- Tia, tem suquinho de morango? - Ela pergunta, puxando o avental de Judith.

- Tem sim, pequenina. - Judith caminha até a geladeira, pega um copo da Barbie e entrega para Savannah, que sorri agradecendo e logo depois volta correndo para a piscina.

- Ela tem sorte de ter uma irmã como você - Judith comenta. - Você a ama tanto; dá para perceber apenas no jeito que a olha.

Savannah era meu orgulho e minha vida. Isso todos percebiam.

- Eu nunca deixaria nada de mal acontecer a ela.

O barulho de saltos chocando-se com o chão é ouvido. Estalos. Uma baixinha de cabelos repicados aparece ao meu lado. Gabriella.

- Barbie!! - Judith a recebe de braços abertos, enquanto ela se entrega a um abraço tipo urso, como uma família.

- Eu tive que vir comer dessa comida; nenhum restaurante do mundo bate essa cozinheira de mão cheia. - O sorriso no rosto de Judith mostra como ela cuida bem deles.

Pensei em como Matthew deveria estar sentindo falta, mesmo sendo um marrento, ele tinha amor por ela. Mesmo quando ficou com Jasmim, a antiga empregada, não deixou de respeitar Judith. Ela era uma verdadeira mãe, o que deveria ser pelo fato de seus pais viajarem a maior parte do tempo. Apesar de Matthew estar sempre por casa, depois do incidente, nunca haviam realmente estado por perto. Não o suficiente. Não julgaria dona Katherine; ela era jovem e estava aproveitando a vida. Pergunto-me se Matt tivesse alguém com quem contar sobre o que estava acontecendo, isso mudaria?

- Aonde está a Savannah? - Gabe pergunta depois de me cumprimentar. - Já está na piscina?!

- Parece que ela tem uma forte queda por aquele lugar - digo, apontando para o pátio onde ela se encontrava com Karen.

Mais um dia havia se passado sem nenhuma informação que me dissesse se Matt estava bem. Eu sonhava com ele, até mesmo acordada. Eu precisava tê-lo por perto; não devia ter deixado ele sozinho. Tudo bem que ele estava com os outros, mas eu me sentia tola. Seus sorrisos, seu olhar, seu jeito de falar. Seus beijos. Seus abraços. Tudo era necessário. Eu o amava. Queria ele o tempo todo, mas eu sabia que não seria fácil se livrar dos problemas.

Querida BabáOnde histórias criam vida. Descubra agora