- Silêncio. - Micael ordena, parecendo um personagem de desenho animado, andando nas pontas dos pés com as mãos estendidas no ar.- Pegou as chaves? - Matt pergunta enquanto caminhamos pela trilha até o carro, que estava a um quilômetro de distância da cabana.
- Pegamos tudo. Emma fez a gente conferir umas seis vezes! - Micael reclama novamente, sempre tão modesto.
- Agora andem logo, esses mosquitos estão acabando comigo. - Karen diz.
Após uma caminhada de quinze minutos, sendo guiados por Matthew com uma lanterninha LED que mal iluminava, chegamos perto do riacho e sentamos nas pedras enquanto Karen tentava respirar calmamente. Depois de tanta caminhada, estávamos longe do meu pesadelo particular. De fato, era a ex de Matt, mas ele a havia abandonado para vir comigo. Só que eu não sabia até quando isso duraria.
- Pessoal, acho melhor nos abaixarmos. - Micael avisa quando uma luz fraca começa a aparecer entre as árvores. Passos logo são ouvidos e um assobio.
- Vamos lá, a chefia mandou ficar de olho naquela casa velha - alguém fala. Nos escondemos entre as pedras, onde não era possível ser visto.
- Tudo por causa de uma vingança idiota - uma voz rouca retruca.
- Colocar a filha nessa brincadeira foi um golpe baixo.
- O pior foi deixar a mãe da garota presa. Aquele homem me dá calafrios. - As vozes começam a se afastar, tornando-se impossíveis de ouvir.
- Estavam vigiando a gente. - Karen diz incrédula, sua voz tão baixa que só nós podemos ouvir.
- Isso é inacreditável. - Digo.
Voltamos a caminhar e logo chegamos ao carro. Matthew estava preocupado, não havia dito nada desde que os homens passaram por nós. Karen estava neurótica, olhando para os lados o tempo todo. Colocamos as bolsas no carro enquanto Micael e Matt conversavam.
- Será que eles estavam planejando alguma coisa? - Puxo conversa.
- Tem dúvida disso? - Karen sorri desconfortável. - Foi por pouco.
- Teremos que ir para outro lugar - Micael diz.
Não haveria um lugar onde eles não nos encontrariam, não haveria buraco no mundo onde nos esconder. Isso precisava acabar logo, o quanto antes possível. Eu não queria ficar fugindo, não mesmo. Um relacionamento normal era a única coisa que eu precisava, apesar de ainda estar "cuidando" de Matthew.
- Por que vocês não resolvem logo isso? - Pergunto. Não adiantava fugir ou ficar escondido; se tinham um problema, deveriam esclarecê-lo.
- Hmm... porque provavelmente iriam nos matar. - Matt responde.
Cruzo os braços em frente ao peito para não começar a apontar o dedo em sua cara. Para um homem formado, Matthew estava sendo frouxo.
- Eu não vou mais deixar minha família sozinha. Eu vou para minha casa, sem você. - Retruco.
- Emma...
- Fala sério, Matthew. Isso já passou dos limites. Eu e a Karen vamos, e vocês resolvam o resto. - O estresse aumenta enquanto caminho até o lado dela.
- Emma, por favor, fica comigo... então.
- Ficar? Para quê? Quando isso acabar, você volta para mim, simples e fácil.
Bato meu pé no chão, mostrando o quanto estou firme com minha decisão. Eu não iria deixar minha mãe e Savannah sozinhas. Não mesmo. Micael se enrola nas palavras e acaba concordando comigo. Matthew fica à minha frente e segura minhas mãos, passando-as ao redor de sua nuca.
- Eu prometo que vou voltar.
- Eu vou estar lhe esperando - meus olhos começam a lacrimejar. Tento disfarçar ao máximo. Seus lábios invadem os meus, doces e avassaladores, como um adeus. Fico na ponta dos pés para facilitar...
- Se cuida, Emma - suas palavras atravessam meu peito, causando uma dor inenarrável. Eu queria que tudo fosse um sonho. Eu queria que fosse apenas uma brincadeira. Queria.
Três horas depois, nós duas já estávamos a meio caminho da casa do Matt. Karen tinha um pé pesado; optamos por não dormir em nenhum lugar. Eu não conseguia parar de pensar no Matt. Se algo acontecesse com ele, como eu iria saber? Se ele precisasse de mim?
- Micael vai chamar os outros. - Karen lê meus pensamentos.
- Eu não conseguiria nem olhar para aquela garota novamente - confesso.
- Emma, nós vamos ficar bem. - Ela ressalta a palavra "nós", fazendo-me engolir em seco.
- Se eu soubesse que seria assim... eu não teria deixado ele vir - a sinceridade sempre falou mais alto que eu.
- Tenta esquecer um pouco; eles sempre conseguem o que querem... - Ela sorri, batendo a mão ritmicamente no volante.
A viagem foi longa. Chegamos na grande mansão quando estava prestes a amanhecer. Karen ficou maravilhada com o lugar, o que eu já previa. O modo como ela observou cada centímetro do local me fez lembrar da minha chegada. Imediatamente, Judith veio ao nosso encontro.
- Emmanuela? Que surpresa! O Sr. McVay disse que vocês chegariam depois de alguns dias... - Ela se apressa para ajudar com algumas bolsas. - Quem é essa garota?
- Minha amiga Karen. Ela ficará com a gente alguns dias - digo sorrindo. - Karen, essa é Judith, a governanta da casa.
Elas se abraçam, com sorrisos enormes. Caminhei até "meu quarto", ficando satisfeita ao ver Savannah dormindo agarrada ao seu cãozinho. Foi tão prazeroso vê-la; nunca havia ficado tão preocupada com essa miniatura de gente. Meu peito se enche de alívio e começo a respirar calmamente.
- Precisa de alguma coisa, Emma? - Judith aparece no corredor enquanto estou encostada na porta. Eu aceno que não, ainda apreciando a vista. - A loirinha ficou no quarto lá embaixo.
Aceno novamente e logo ela sai. Savannah continua em seu cantinho enquanto eu volto a lembrar do quanto Matt estaria em perigo.
- Aonde está Matthew? - Minha mãe aparece atrás de mim, afagando meu cabelo. O que eu iria responder, já que não seria a verdade?
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Querida Babá
RomanceEmma enfrenta um turbilhão de emoções quando a vida que construiu com Matthew começa a desmoronar. Após uma série de eventos que põem à prova seu relacionamento e sua confiança, Emma descobre que Matthew não é o homem que ela acreditava conhecer. Co...