Capítulo 78

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**Matthew**

— Não... — O olhar de Vivian estava carregado de medo, mostrando o quanto ela estava espantada ao me ver.

— Então, para que você veio aqui? — Ela apontou para mim. A porta estava entreaberta, e ela se escondia parcialmente atrás dela. Seus traços eram incrivelmente semelhantes aos de Sophia.

— Você pode vir aqui fora para conversarmos como gente civilizada? — sorri, tentando parecer amigável. Ela alisou o tecido do vestido, conferindo a rua. Eu havia deixado o carro em outra rua, e Emma e Micael estavam em uma lojinha próxima.

— Fala, o que você quer? — seu tom de voz era baixo, quase um sussurro.

— Sua mãe está aqui? — indaguei, mantendo a voz firme.

— Está.

— Vim ver se vocês precisam de alguma coisa — menti, tentando manter a calma. Sentia o peso da arma na minha cintura, e só precisava de um impulso para usá-la.

A expressão de Vivian se suavizou, e um leve sorriso escapou dos seus lábios.

— Gostaria de entrar?

Bingo.

— Claro, se não for incomodo — respondi. Ela voltou para dentro da casa, abrindo espaço para que eu entrasse.

— Mamãe, temos visi...

Antes que pudesse terminar a frase, agarrei Vivian pelo braço e a empurrei contra a parede, sem muita brutalidade. Retirei a pistola de nove milímetros, e um grito alto ecoou pela casa. Naquele momento, me senti horrível, mas sabia que era necessário.

— Preciso que você e sua mãe venham comigo até a Divisa. Precisamos ir agora — sussurrei, olhando diretamente nos olhos dela. — Então, ou você colabora, ou uma de vocês vai acabar morrendo. Entendeu?

Ela acenou freneticamente com a cabeça, os olhos marejados. Ouvi barulho vindo das escadas e rapidamente escondi a pistola.

— Filha, por que você gritou? — a mulher que antes era minha sogra apareceu, vestindo uma camisola.

— Ma-mãe, temos visita! — Vivian forçou um sorriso. — Ele veio nos levar para assinar o atestado de óbito do papai.

Fiquei surpreso com a presença de espírito dela. Talvez Vivian não fosse tão ingênua quanto aparentava. Ela poderia ser mais parecida com sua irmã do que eu pensava, se fazendo de santa para, no momento certo, dar o bote. A mãe dela olhou para mim, desconfiada. Caminhei até ela, peguei sua mão e a beijei.

— Que cavalheiro... — ela riu, satisfeita. — Então o velho morreu mesmo?

— Sim, preciso que vocês reconheçam o corpo. Temos que ir o mais rápido possível.

— Sem problemas, ele foi o amor da minha vida. Mas ainda bem que morreu.

***

**Emma**

Micael estava tentando flertar com a vendedora de cookies. Ela carregava uma enorme caixa de papelão no ombro, com sua pele branca e olhos verdes destacando-se contra o pano marrom da caixa. Olhei novamente para o relógio; Matthew estava demorando. Ele havia dito que convenceria as duas facilmente com seu "charme". Duvidava muito que tivesse usado apenas isso. Ele insistiu para que eu e Micael ficasse-mos distantes, mas não explicou o motivo. A ideia de que ele poderia estar beijando uma das duas me deixava desconfortável, especialmente porque Vivian era a irmã gêmea de Sophia.

— Não foi dessa vez — Micael falou, voltando a se sentar ao meu lado no banco em frente à lojinha. — Essas holandesas não são tão fáceis. Prefiro as portuguesas.

Karen era portuguesa, o que sempre despertava uma pontinha de inveja em mim. Depois de longos minutos, finalmente avistei Matthew voltando com as duas. A mulher mais velha estava sorridente, enquanto Vivian não demonstrava nenhuma emoção ou expressão. Aposto que ele beijou a velha, pensei, não ficaria surpresa dado o tamanho da lista de conquistas de Matthew.

— Voltamos para a Divisa? — Micael perguntou sorrindo, e percebi o olhar demorado de Vivian sobre ele. Isso vai ser interessante quando Karen souber, pensei.

— Para onde estamos indo? — perguntei, tentando entender o plano.

— Iremos liberar o corpo de Willians no IML — Matthew respondeu, com um sorriso travesso. Ele foi até o porta-malas e depositou algo lá dentro, enquanto Micael ajudava as duas a se acomodarem no banco traseiro, ao seu lado. Obviamente, eu iria na frente com Matthew. Estar em cinco pessoas dentro de um carro alugado não era exatamente confortável, mas pelo menos estávamos todos juntos.

Querida BabáOnde histórias criam vida. Descubra agora