Subi a escada que ligava a porta do avião ao chão. Estava um pouco nervosa. Matt tentou me acalmar, mas não adiantou. Ele havia me pedido todos os documentos necessários, e, por sorte, eu os tinha. Minha mãe ficou animada com tudo isso e pediu para eu registrar o momento.— Pode sentar naquela poltrona ali — Matt diz, apontando para uma poltrona branca perto da janela. Sigo sua indicação e coloco o cinto, por precaução.
— Tem como fechar essa janela? — pergunto, tentando não olhar muito para fora. Com facilidade, ele puxa uma cordinha que cobre o vidro. O piloto avisou que iria decolar, então agarrei o apoio de braço da poltrona, quase cravando as unhas no estofado.
Uma sensação de agonia crescia dentro de mim. Comecei a ficar sem ar enquanto Matthew conversava atrás do piloto. Como ele conseguia?
Meus sapatos pareciam apertados, minha blusa estava me sufocando. Que sensação estranha era essa? Um frio na barriga me deu vontade de gritar. Se Matt me visse agora, iria rir de mim. Por sorte, ele me deu esse momento de privacidade...
— Que cara é essa? — o tom de sarcasmo na sua voz me deixou ainda mais nervosa. Arregalei os olhos e tentei relaxar por alguns milésimos de segundos.
— Nunca andei de avião — confessei enquanto ele se ajeitava na poltrona da minha frente.
— Vai ter que se acostumar — debocha ele mais uma vez. — Emma, se você tirar suas unhas do apoio de braço, ficará melhor.
Não me senti melhor coisa nenhuma. Já ele estava relaxado na poltrona, sem se preocupar com o fato de estar a quilômetros do chão.
— Quer tomar alguma coisa? — pergunta.
— Eu só quero sentir o chão novamente — sinto meu estômago revirar. O que estava acontecendo comigo? Que mico.
— Tenha calma — diz ele. Devagar, solta meu cinto, me puxa para perto dele e faz eu sentar em seu colo. — Você está gelada.
— Você está quente — digo, sem pensar muito.
— Eu sou quente — sua sobrancelha se ergue e o sorriso malicioso volta a me distrair.
— Você é bobo, isso sim — ele parece um pouco irritado, mas não tanto. Afaga minha cabeça e beija o topo da minha testa para me tranquilizar.
Quando acordei de um breve sono, ele ainda estava comigo em seu colo. Descemos as escadas do avião, fiquei aliviada ao ver o chão novamente e quase pulei de seu colo. Mas acabei vomitando no chão.
— Emma, você está bem? — preocupado, ele pega um lenço de sua jaqueta e me oferece. Limpo a boca para tirar qualquer sujeira ou resto de comida.
— Acho que fiquei nervosa demais — sorrio, mas fecho a boca para não mostrar mau hálito. — Preciso de uma bala — digo, tapando a boca com minha mão.
***
Sua mãe estava deslumbrante. Enquanto íamos para um hotel, o carro que foi nos buscar era uma EcoSport, um pouco simples para essa família. Fiquei maravilhada ao ver o enorme hotel, cujo nome brilhava em néon vermelho: "Palace Royal Hotel". Deve ser um hotel caríssimo. Eu precisaria trabalhar a vida inteira para passar uma noite em um desses.
— Eu adoro esse hotel! — Dona Kath diz ao ver meus olhos brilhando.
— Palace Royal Hotel — Matthew, sempre corretor, corrige.
— É deslumbrante — foi a única palavra que me veio à mente.
— Eu sei, obrigado — Matthew diz com um olhar satisfeito.
— Não você, o hotel — reviro os olhos para o quão convencido Matthew pode ser.
— Por isso mesmo, quem você acha que é o dono? — ele pergunta, mas não se aguenta... — Sou eu, então o que acha?
— Fascinante — fico perplexa com a nova informação sobre Matthew. Dona Katherine parece orgulhosa pela conquista do filho.
— Irei apenas assinar alguns papéis e depois voltamos para casa — o modo como ele disse "casa" parecia se referir à nossa casa, o que era um pouco surreal.
— O que acha de conhecer o hotel comigo? — Dona Katherine pergunta, mas fico um pouco receosa.
— Mas, Dona Katherine, isso seria possível? — pergunto, tentando esconder o sorriso.
— Claro, aliás, eu sou sua sogra agora. Não precisa de tantos rótulos — o sorriso de Katherine é muito bonito. Sua pele lisa me deixa com inveja e seus olhos castanhos, com toques esverdeados, são tão iluminados que é de se apaixonar.
— Obrigada.
Ela me mostrou os quartos: dos mais básicos aos mais luxuosos. Mostrou o restaurante, a lavanderia, o escritório, os estacionamentos, o heliponto, as funcionárias (avisando que eram fofoqueiras e que eu deveria cuidar com o que falo perto delas), e, por fim, me mostrou um spa que, sinceramente, se eu pudesse, ficaria ali a vida inteira. No final, ganhei um cartão de hospedagem que não precisaria pagar. Mas não sei de onde eu viria para a Espanha. Se dependesse de mim, só de carro.
— Mamãe! — uma baixinha de cabelos espetados sai correndo para abraçar Dona Katherine, mas logo reconheço das fotos... Gabriela.
— Filha! Como você soube que estávamos aqui? — ela pergunta surpresa.
— Papai me contou, então eu vim para ver vocês! — diz ela, enquanto se afasta do abraço, mas logo olha para mim com uma expressão chocada... — Ai meu Deus, você é a namorada do meu irmão? Até que enfim, ele arrumou uma garota bonita.
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Querida Babá
RomanceEmma enfrenta um turbilhão de emoções quando a vida que construiu com Matthew começa a desmoronar. Após uma série de eventos que põem à prova seu relacionamento e sua confiança, Emma descobre que Matthew não é o homem que ela acreditava conhecer. Co...