Querida Babá

Capítulo 81

Matthew me pediu para ficar na casa enquanto ele ia "resolver uns assuntos". Isso me irritava profundamente, essa história de segredinhos entre ele e Micael já tinha passado dos limites. Resisti à vontade de explodir e, em vez disso, respirei fundo, tentando manter a calma. Mas ele devia ter notado pela minha expressão o quanto eu desaprovava tudo isso.

Perdi a conta de quantas vezes Matthew prometeu que "não iria mentir mais", mas a verdade sempre acabava vindo à tona, mais cedo ou mais tarde. E se o assunto era só entre ele e Micael, por que diabos eles levaram as duas junto e me deixaram aqui, sozinha, sem nenhuma notícia? A imagem de Matthew ferido, sangrando, em algum lugar desconhecido, atormentava minha mente cada vez que ele ficava longe.

A cama em que eu estava deitada era tudo menos confortável, deixando minhas costas doendo de uma maneira terrível. A sujeira no lugar também não ajudava. As teias de aranha penduradas entre as paredes me fizeram tomar a decisão de limpar aquela casa. Pelo menos, manter-me ocupada seria melhor do que me afundar em preocupações.

***

Mais tarde, senti a necessidade de sair e buscar algum lugar para comer, uma lanchonete ou padaria, talvez. A saudade de cozinhar com minha mãe me atingiu de repente, e me senti mal ao pensar que Savannah talvez nunca tivesse essas experiências com ela. Mas prometi a mim mesma que, quando tudo isso acabasse, me dedicaria totalmente a ela. Eu seria sua protetora, já que Josefh, o homem que dizia ser nosso pai, não parecia ser capaz de fazer isso.

Acabei sentada em uma praça, observando o movimento ao redor. Crianças brincavam com seus pais, sendo empurradas nos balanços, ou na gangorra. Era um cenário que, em vez de me acalmar, só me deixava mais abalada. O medo de que algo acontecesse com Savannah se alojava profundamente no meu peito.

— Olha só quem se perdeu do caminho de casa — ouvi a voz de Micael ao meu lado, me tirando dos meus pensamentos. Ele estava com um copo na mão e um sorriso no rosto.

— Minha casa está bem longe daqui — respondi, tentando esconder meu desconforto.

— Quanto drama — ele disse, depois de uma pausa, enquanto olhava para o relógio. — Estou com uma fome... Acho que poderíamos ir a um restaurante, já que seu noivinho não voltará tão cedo.

— Se vocês não ficassem de segredinhos, eu até poderia dizer que ele é mais meu do que seu.

— Sempre tive uma queda por ele — Micael brincou, rindo antes de fazer uma careta de desgosto.

— Percebi desde o primeiro dia — brinquei de volta.

— Sério, ele é sensacional, especialmente pelo fato de atrair mulheres tão rapidamente.

Pensei em quando comecei a faculdade de Literatura e Matthew ficava me perseguindo. Eu o via sendo cobiçado por outras garotas, e um ciúme leve se instalou em mim, lembrando-me de Chad. Ele era um cara legal, mas Matthew nunca gostou dele.

— Diferente de você, Matt é super atraente — eu disse, começando a rir.

Micael revirou os olhos, mas no fundo eu sabia que, apesar de todas as provocações, ele se importava com Matthew tanto quanto eu. E talvez fosse essa conexão que os mantinha tão próximos, apesar de todos os segredos. Mesmo assim, não pude deixar de me sentir aliviada por ter alguém com quem desabafar, mesmo que fosse com essas trocas de farpas disfarçadas de piadas.