Capítulo 61

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Começo a procurar pela chave que havia caído no chão. Penso, choro e procuro, uma combinação perfeita para o fim de uma noite que poderia ter sido incrível. Segredos, esse era o maior problema. Até onde a sinceridade dele iria? Eu estava perdida nos seus erros e mal enxergava os meus.

**Matt**

Ando até a cozinha e avisto Emma já vestida, pegando a chave que estava no chão e destrancando a porta. O que eu temia estava acontecendo.

Emmanuela Tunner iria me deixar. Se ela soubesse que eu faria qualquer coisa por ela, se soubesse que eu a amo...

- Sabe a diferença entre dizer que ama e amar? - pergunto, encostado de braços cruzados na parede. Seu rosto vermelho e borrado entra em contraste com seus olhos, que eu particularmente chamava de paraíso.

- Quando amamos de verdade, lutamos por algo. É muito fácil se machucar, sem que seja por palavras. Palavras iludem; atitudes não. Perceba que quem te quer bem sempre estará disposto a qualquer coisa.

- Matt - ela suspira, destrancando a porta.

- Então é isso? - pergunto, olhando para a janela, que permite uma vista deslumbrante das estrelas.

Sem dizer nada, ela sai, sem olhar para trás. Dou um soco na parede, com raiva. Quebro os porta-retratos, chocando-os contra o chão. Sinto necessidade de destruir tudo que vejo pela frente. Olho para cima do refrigerador e vejo uma garrafa de cachaça. Abro, engulo o máximo que posso e logo a jogo contra a parede da cozinha. Vejo taças e empurro todas para o chão. Não me importo; ninguém se importa.

Por que Emma não pode facilitar as coisas?

Começo a cambalear em direção ao sofá, vejo o lugar onde estivemos algumas horas atrás. Pego um canivete e rasgo, xingando e gritando contra a dor que inunda meu peito. Quando a espuma começa a aparecer, com as próprias mãos tento arrancar o tecido. Não queria vestígios do seu cheiro, não queria lembranças, não queria ser deixado outra vez. Puxo as espumas para fora, destruindo-as.

Pego uma garrafa de vinho, tomo o quanto posso e logo a jogo em cima da estante, quebrando os enfeites que Gabriella havia colocado em cima. Foda-se.

Cambaleio até o quarto e avisto a cama com as cobertas no chão. Jogo tudo no chão, deito sobre o colchão e pretendo não acordar tão cedo.

**Emma**

- Dois yakisobas, por favor - peço, enquanto a atendente me olha com expressão aterrorizada.

- É no cartão? - ela pergunta, olhando para minha carteira aberta.

Com toda a paciência, entrego o cartão e digito a senha. Volto a caminhar em direção ao prédio. Subo de elevador; uma mulher muito elegante, com seus filhos, me olha estranho. Então me espio pelo espelho do elevador. Vejo que minha regata está do avesso. Finjo que não percebo. Logo a porta se abre e eu vou em direção à porta que ainda estava encostada.

Caminho devagar; está escuro e há uma bagunça tremenda. O sofá está detonado, vidros e cerâmicas espalhados por todo lado, vinho derramado.

- Matt? - sem resposta - MATT! - caminho para seu quarto, vejo que suas cobertas estão jogadas no chão e seu corpo deitado todo desarrumado na cama. Sinto vontade de deitar ao seu lado, mas apenas vou à cozinha, pego talheres e volto ao quarto. Sua bunda branca está virada para cima. Sinto uma vontade de morder, mas me contento.

- Matt, ei, acorde - digo, mexendo em suas costas. Ele se remexe, mas nada diz.

- Emma? - ele grunhe.

- Ei, estou aqui. Vou ficar aqui.

- Emma? - ele diz, ainda sem se mexer.

- Estou aqui... - digo, afagando seu cabelo.

Lembro-me da tatuagem em seu pulso, então pego seu braço e olho. Fico em choque; não tinha como...

**Emmanuela**

- Fica aqui comigo... - ele pede. Então suspiro e beijo seu pulso.

**Matt**

Minha cabeça gira, lateja, parecendo que tem um zumbido. Sinto uma mão mexendo em minhas costas; como se fosse um sonho, escuto a voz de Emma me chamando.

- Emma? - chamo-a de volta. Novamente a chamo... - Emma?

Sinto ela pegar em meu braço, mexendo novamente no meu corpo. Sinto um arrepio estrondoso, mas não consigo me mexer. Parece que levei uma pancada na cabeça.

Sinto seus lábios em meus pulsos. O calor de seu hálito quando toca minha pele é tentador. Quero poder tocá-la, abraçá-la; ela voltou e está aqui.

***

Sinto um cheiro de yakisoba, um ótimo cheiro, aliás. Procuro Emma pela cama, mas não a encontro. Ponho-me de pé, olho no espelho e vejo o quanto estou terrível. Vou até o banheiro e lavo meu rosto, pego um roupão branco e vou à cozinha.

Emma está com minha camisa azul, que fica em suas coxas. Olho para o chão; está tudo limpo. Ela havia limpado toda a minha bagunça.

- Emma? - indago.

- Bom dia, Matt - ela sorri e vem até mim. - Pronto para o café da manhã?

Seu sorriso é radiante, seus olhos brilham e vejo que seu cabelo está molhado.

- Sempre estou pronto para comer - digo sorrindo. Sei o quanto ela gosta disso. Ela arregala os olhos e fica assustada ou surpresa pela minha resposta.

- O café da manhã, Emma - digo, batendo em seu ombro. - Você está ficando mais depravada do que eu...

Querida BabáOnde histórias criam vida. Descubra agora