Capítulo 76

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**Matt**

Enquanto caminhava sob o sol com uma mala cheia de roupas e água, uma dúvida martelava na minha cabeça.

— Deveria contar a verdade para a Emma? — murmurei, lutando contra o peso da decisão. Ela já havia perdido a mãe, e agora a irmã estava longe. Como poderia acrescentar mais essa dor?

— Cara, faz o que achar melhor — respondeu Micael, dando de ombros. Ele estava mais preocupado com Karen do que com meus dilemas. — Mas vamos logo.

— Precisamos passar na universidade primeiro — disse, jogando a bolsa no porta-malas com frustração. Tudo estava uma bagunça.

**Emma**

Estávamos no campo, como todos os outros alunos, num dia decisivo para os Lions, o time de futebol americano. A euforia pela próxima vitória era contagiante, mas eu não compartilhava da animação. Ir aos jogos nunca foi minha ideia de diversão, mas hoje era um dia especial.

— Ei, não é seu namorado ali? — Chad apontou para um homem de jaqueta de couro e calça jeans que se destacava entre a multidão.

— É ele, sim.

Desci as escadas da arquibancada, tentando não tropeçar. Matt havia me mandado uma mensagem dizendo que passaria uns dias fora... então por que estava aqui? As garotas em volta pareciam encantadas por ele, mas Matt só tinha olhos para mim. Ele me puxou pela mão, guiando-me para longe da multidão.

— Olá, pequena — disse ele, me abraçando com força.

— Pensei que fosse viajar — murmurei contra seu peito.

— Preciso te contar algo, e não posso mais mentir para você — ele passou a mão pelo rosto, visivelmente perturbado. — Lembra daqueles capangas?

— Claro que sim — respondi, sentindo um frio na barriga. Só de pensar neles, meu estômago revirava.

— Eles pegaram a Karen — sua voz estava cheia de raiva e frustração.

— O quê? Como assim?

— Ainda não sei todos os detalhes, mas eles querem a Vivian e a mãe dela — ele bufou, parecendo exausto. — As mesmas pessoas que ajudei a fugir.

— Mas por quê? — perguntei, tentando entender.

— Não faço ideia, mas não posso deixar a Karen com eles — ele cerrou os punhos e socou o ar. — Estou farto disso.

— O que vamos fazer? — perguntei, minha voz trêmula.

— Vamos? Não, Emma. Não quero te envolver nisso — ele ficou sério, mas eu não ia deixar por isso.

— Matt, estamos juntos nisso. Como um casal deve estar. Eu vou com você, quer você queira ou não. Não adianta impor regras que nunca funcionaram.

— Eu não posso te perder — disse ele, segurando minha nuca, seus olhos fixos nos meus.

— E eu não posso perder mais ninguém — respondi, e antes que pudesse dizer mais alguma coisa, seus lábios colaram nos meus.

Cada beijo de Matt tinha uma intensidade única, como se fosse o primeiro. Era assim que ele me fazia sentir: completa.

— Se você realmente quer ir comigo, saiba que ficaremos fora por um tempo — ele falou pausadamente.

— Eu estarei ao seu lado, sempre — afirmei, decidida.

— Eu te amo, muito.

— Idem.

***

Acenei para Chad, que estava conversando animadamente com uma morena. Ele sorriu e acenou de volta. Caminhei apressadamente até o carro, surpresa e aliviada ao ver Micael.

— Ei, gatinha — ele disse quando entrei pela porta de trás.

— Oi, Mica — respondi, bagunçando o cabelo dele. Ele estava dirigindo, com Matt ao lado.

— Podemos passar no meu apartamento para eu pegar algumas roupas? — pedi.

— Vamos comprar roupas novas pelo caminho — Matt deu de ombros.

— Para onde estamos indo? — perguntei.

— Está com seus documentos aí? — Micael riu.

— Sim.

— Vamos embarcar para Amsterdã — Matt respondeu com um sorriso travesso.

— Amsterdã? — repeti, surpresa. Eu nunca tinha ido lá.

— Mas antes, precisamos falar com Thomaz — explicou Matt.

— Não gosto dele — revirei os olhos.

— Eu também não gosto de você, mas aqui estamos — Micael brincou, e eu mostrei o dedo do meio pelo retrovisor.

— Emma, tem certeza que quer ir? — Matt perguntou, parando no sinal vermelho.

— Já conversamos sobre isso, não foi? — arqueei a sobrancelha, e ele mordeu os lábios.

Estava decidida. Matt havia feito tanto por mim que eu sentia que devia retribuir. E Karen... Karen era especial. Ela era como uma irmã, e eu não podia deixá-la na mão.

— Eu pensava que você era lésbica, mas agora está aí com o Hunter — Micael brincou, levando um soco de Matt.

— Me chame de Matt, caralho — ele corrigiu, irritado.

— Tanto faz. Ainda não acredito que caí nessa — rimos juntos.

— Então vamos atrás da minha amante — brinquei, e eles riram enquanto Matt aplaudia.

No aeroporto, Matt pegou nossos documentos e comprou as passagens. Comemos algo e compramos algumas roupas enquanto esperávamos.

Algumas horas depois...

— Última chamada para o voo 403, embarque imediato — uma voz anunciou no aeroporto.

— Está pronta, pequena? — Matt perguntou, percebendo minha ansiedade.

— Mal posso esperar — sorri, e ele me beijou. Mas logo um pigarro nos interrompeu.

— Vocês não precisam ficar piegas — Micael disse, empurrando-nos de leve — ainda mais que vamos para Amsterdã!

Querida BabáOnde histórias criam vida. Descubra agora