No horário do almoço, fui verificar se a bolsa que iriam me conceder era de cem por cento. Por sorte, era. Almocei almôndegas com um molho que não reconhecia.
- Então, você é do México? - Gisele pergunta para Richard enquanto eu me ajeito no lugar.
- Si - ele brinca, e ela ri.
- Como estás? - ela fala num sotaque nada parecido.
- Nada mal para uma primeira tentativa - ele responde sorrindo. Faltavam quinze minutos para voltarmos à aula.
- Então, quantos anos você tem? - Gisele quebra o silêncio.
- Tenho vinte e cinco - ele responde. Matt era dois anos mais velho que ele.
Matt... que merda eu fui pensar. Olho ao redor da sala; um cabelo escuro se mexe do outro lado. O cabelo preto da mulher me lembra o dele. Imagino se ele estaria sentindo minha falta, como eu sinto a... Não, não sinto.
Não sinto falta das suas birras, do seu olhar, ou da sua boca que, quando eu beijava, parecia feita para mim. Não sinto falta daquele corpo, nem dos seus braços ao meu redor.
- Emmanuela? - Gisele me olha de um jeito pensativo.
- Apenas Emma.
- Então, "apenas Emma", quantos anos você tem? - Richard pergunta, enquanto eu fico corada.
- Vinte e dois, "apenas Richard" - imito sua voz, fazendo Gisele rir ao meu lado. Richard sorri de lado e seu celular começa a tocar. Ele sai da sala rindo.
- Nossa, ele é tão gato! - Gisele diz, usando as mãos para dar um drama. - Não acredito que ele está sentado bem na minha frente. Aaaai, ele tá tão na minha.
Gisele começa a falar sobre Richard, enquanto eu imagino que deve ser comigo, já que não há mais ninguém na sala.
- O que você acha? - ela pergunta, ficando vermelha.
- Acho o quê? - faço cara de desentendida.
- Que ele está na minha... - ela ri, arrumando o cabelo.
- Acho que não, Gisele - começo a rir, enquanto a expressão dela muda.
***
- Mãe, aonde está minha toalha? - grito. Savannah entra no banheiro, me entrega a toalha e volta arrastando sua pantufa pelo chão.
- O mais reclama - minha mãe grita de volta, fazendo-me rir. Senti falta desses momentos.
- Sessão de filme? - pergunto para Savannah, que abre o sorriso mais doce que eu já vi.
- Mas eu escolho, eu quero da Barbie - ela diz, puxando uma coberta que estava em cima do sofá.
Com as luzes apagadas, mamãe foi dormir, deixando apenas o momento de irmãs.
- Sabia que no final do filme, essas crianças viram totalmente humanas... - Savannah começa a contar o filme, como sempre.
- Depois dessa parte, ela vai encontrar o Príncipe... Aquele homem é do mal.
Quando acordei, estava com Savannah no colo, e o despertador nem havia apitado. Olhei para o relógio na parede; faltava uma hora para ir à faculdade.
Levei Savannah no colo até o quarto de minha mãe, coloquei-a na cama e a cobri. Depois tomei um banho relaxante, preparei o café para quando minha mãe acordasse e conferi se estava tudo trancado antes de sair. Fui andando até a parada de ônibus com o guarda-chuva na mão. Antes do ônibus chegar, Luke apareceu de carro, parando na minha frente.
- Carona? - ele pergunta sorrindo.
Sem responder, corri para o carro. O interior estava um pouco bagunçado, com camisas e papéis espalhados no banco de trás.
Ri sozinha.
- Nem vem zombar do meu carro - ele diz sarcástico.
- Uma tremenda bagunça - começo a rir junto com ele.
Nem parecia que alguns anos atrás eu estava arrasada por ele ter me trocado. Com Luke, era estranho; nossa amizade de infância sempre predominou, então não havia mais aquele ar de "ex". Isso tornava as coisas mais harmoniosas.
- Então, aquele cara não te incomodou mais? - ele pergunta receoso.
- Ah, não... Eu deixei meu celular quebrado na sua casa - começo a rir.
- Eu sei. Eu peguei o chip e coloquei em um celular velho que eu tinha lá em casa - ele diz, tirando algo do bolso.
- Eu não quero isso... - começo a falar em voz alta.
- É bom você ter de volta... - ele coloca na minha bolsa, sem tirar os olhos da estrada.
Ao chegar na universidade, fui direto para minha sala, pois não havia aonde ir. Quando passei pela carteira de Richard, ele sorriu para mim de um jeito angelical, muito diferente de Matt, que sorriria de um jeito maligno.
- Bom dia - eu disse sorrindo.
- Bom dia, Emma.
Ele se inclina, colocando um cotovelo na perna esquerda, ficando mais perto de mim.
- Será que sua amiga vem hoje? - ele pergunta rindo.
- E agora... - começo a falar, mas ele interrompe.
- Ela ficou sentida quando falei da minha namorada. Na verdade, era minha mãe, mas ia pegar mal se eu falasse isso.
- Mãe? - começo a rir.
- Sim, era. Ela queria saber se eu tinha chegado bem. Ela não se toca que eu tenho vinte e cinco anos.
Começo a rir; Richard era legal, pelo menos estava sendo. Gisele chegou atrasada para a aula de Escrita Técnica.
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Querida Babá
RomanceEmma enfrenta um turbilhão de emoções quando a vida que construiu com Matthew começa a desmoronar. Após uma série de eventos que põem à prova seu relacionamento e sua confiança, Emma descobre que Matthew não é o homem que ela acreditava conhecer. Co...