12 | Bônus

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MILENA CHRISTIAN

Durante a semana que fiquei em São Francisco, o meu pai teve a gentileza de não questionar mais nada acerca do "pai" do seu futuro neto, o que, convenhamos, não me deixou menos preocupada.

Eu realmente precisava desfrutar dessas folgas que Elisabeth cedeu para mim, mas manter-me em casa só é uma oportunidade para eu me afogar nas minhas preocupações e ansiedades, portanto nada melhor do que trabalhar, certo?

Errado!

Sinto-me como se fosse um coelho enjaulado e que a qualquer momento um predador irá devorar-me, estilhaçar-me completamente.

Abro a porta da sala fechada por algumas semanas. A minha sala é um refúgio de tranquilidade no meio do frenesi da empresa de arquitetura. Cada detalhe foi escolhido com carinho para criar um ambiente acolhedor e inspirador. A luz do sol entra através das grandes janelas, enchendo o espaço com uma luminosidade suave que reflete nas paredes de um tom neutro e calmante.

Uma estante de prateleiras abertas exibe modelos em miniatura de alguns dos meus projetos favoritos, mostrando o cuidado meticuloso que dedico a cada detalhe, por menor que seja. Pequenas plantas em vasos espalhados pela sala adicionam um toque de verde, trazendo a natureza para o espaço e criando uma sensação de equilíbrio.

O ambiente como um todo é uma fusão harmoniosa entre funcionalidade e conforto. A minha sala é um lugar onde posso explorar a minha criatividade, concentrar-me nos meus projetos e, ao mesmo tempo, sentir-me em casa.

De certa forma, eu estava de alguma forma feliz por voltar a trabalhar. Certamente estar focada em projetos manterá a minha mente ocupada, principalmente porque Elisabeth fez questão de me contar do grandioso trabalho que estaremos envolvidos, e isso deixou-me bastante animada.

Sento na cadeira acolchoada e analiso algumas papeladas e plantas negligenciadas, mas a minha animação dura muito.

O meu coração disparou quando vi Enrique adentrar a sala. Era como se o passado se materializasse diante de mim, trazendo à tona sentimentos que eu tinha lutado para enterrar. Ele estava ali, com aquele sorriso charmoso e confiante, como se nada tivesse mudado entre nós. Mas tudo mudara, e ele sabia disso.

Os meus olhos encontraram-se com os dele por um breve instante, antes de eu desviar o olhar para a planta que estava sobre a minha mesa. Eu não queria encará-lo, não queria que ele visse o quanto ele ainda mexia comigo. Tentei focar a minha atenção no desenho que tinha em mãos, mas minha mente estava turbulenta demais para isso.

— Milena — a sua voz suave chamou o meu nome, e senti um arrepio percorrer a minha espinha. Respirei fundo e ergui o olhar para encontrá-lo novamente. — Posso falar com você por um momento?

— Não sei se quero falar com você. O que você quer, Enrique?

Ele pareceu sentir o peso nas minhas palavras, mas não recuou. Se aproximou da minha mesa, as suas mãos nos bolsos da calça de alfaiataria.

— Sei que as coisas ficaram complicadas entre nós, Milena. Mas precisamos conversar.

As minhas mãos fecharam-se involuntariamente em punhos. Ele queria conversar agora? Depois de todo o sofrimento que ele tinha me causado? Olhei nos seus olhos, tentando encontrar alguma sinceridade nas suas palavras.

— O que há para conversar, Enrique? Já deixou claro o que queria quando decidiu virar as costas para o nosso filho.

A sua expressão caiu, e por um momento, pude ver um lampejo de arrependimento nos seus olhos.

— Milena, eu sei que agi de forma errada, eu não deveria ter renegado o nosso filho dessa forma. Entendo a magnitude da minha responsabilidade e quero fazer as coisas direito a partir de agora, mas eu ainda tenho uma família, que precisa de mim.

ChefeOnde histórias criam vida. Descubra agora