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RUBY PORTMAN

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RUBY PORTMAN

O dia arrastou-se com uma lentidão dilacerante, deixando-me num estado de angústia que gradualmente se transformou em indiferença. À medida que as horas se estendiam, a raiva que inicialmente borbulhava dentro de mim cedeu espaço a uma apatia desoladora. Durante esses longos dias que se seguiram, percebi que além de mim, ninguém parecia verdadeiramente preocupado com a ausência dele que havia se prolongado além do aceitável.

Tentei encontrar justificativas para a minha própria tranquilidade, buscando consolo na premissa de que o motivo era simples: eu sou, afinal de contas, a sua secretária e assistente pessoal. Era parte intrínseca da minha função zelar pelo bem-estar de quem, diretamente, paga o meu salário.

Contudo, mesmo com esse argumento que eu mesma construíra, não podia negar que algo estava profundamente errado, mas preferia não admitir para mim mesma o real motivo.

É bem melhor assim.

A única coisa que posso confessar, é que Harry Radcliffe fez falta.

As manhãs começavam com a rotina costumeira de abrir a sua agenda, preparar o café de acordo com as suas preferências, e organizar meticulosamente os documentos que ele precisaria ao longo do dia, mas nada disso importava porque no fim ele nem chegava na empresa. O telefone da sua sala permanecia inerte, sem tocar com as habituais chamadas de negócios e compromissos. A sala que antes era um reduto de atividade e decisões importantes se resumia a um silêncio desolador.

As especulações sobre o motivo da sua ausência se multiplicavam, mas ninguém parecia disposto a investigar a fundo. O relógio continuava a marcar o tempo de forma impiedosa, enquanto eu tentava manter a aparência de normalidade, mesmo que a minha mente estivesse cheia de incertezas.

Enfim, agora ele está de volta, e é isso que importa.

Continuei concentrada no meu trabalho até o final do meu expediente, embora a minha disposição não estivesse propícia para ficar contente em ver o rosto do meu querido chefe. No entanto, era inevitável: eu precisava comunicar a minha saída.

Após terminar as minhas tarefas, tomei fôlego e bati à porta do seu escritório. Levei alguns longos segundos até que ele desse autorização para a minha entrada. Ao adentrar, notei que a sua sala estava envolta em uma penumbra, com apenas a luz tênue da cidade a iluminá-la.

Os meus olhos não precisaram percorrer todo o espaço para encontrá-lo, pois Harry estava de pé, de costas para mim, contemplando a vasta e deslumbrante vista de Manhattan através da imensa parede envidraçada.

O silêncio predominava no ambiente, como se ele estivesse perdido em pensamentos profundos, alheio à minha presença. A sua figura alta e imponente parecia mais solitária do que nunca diante da grandiosidade da cidade que se estendia à sua frente.

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