EPÍLOGO

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HARRY RADCLIFFE

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HARRY RADCLIFFE

O enorme espelho reflete perfeitamente minha aparência cansada, minha consternação explícita. Há algo cruel na precisão com que ele captura cada detalhe — os sulcos de cansaço sob meus olhos, o leve tremor nas mãos. 

Endireito a gravata preta que acompanha o terno e o sobretudo da mesma cor, tentando, de algum modo, fazer com que a aparência de normalidade retorne, mas é um esforço em vão. Sento-me novamente e tomo um gole do meu chá de camomila, tentando encontrar um vestígio de calma naquele líquido quente e aromático. É um ritual que me acalma, mas hoje, o chá tem gosto de vazio, de uma rotina que não traz mais consolo.

Nunca perguntei ao Herodes o porquê daquele homem tentar caçar toda a família Radcliffe, e quando perguntei, ele nunca conseguiu me responder. Herodes sempre foi um homem de poucas palavras, mas agora, olhando para trás, percebo que havia algo mais, uma hesitação que nunca entendi completamente. Eu já havia perdido demais, e continuo perdendo. Mackeline era apenas uma menina...

Minhas mãos apertam a xícara com mais força do que deveria, o calor escaldante quase machucando a pele. Eu me lembro dela como se fosse ontem — Mackeline, com seus olhos brilhantes e o sorriso amoroso. Mas agora, tudo o que resta são memórias que doem, como um espinho cravado na carne. Eu havia prometido a mim mesmo que cuidaria dela, mas no fim, fui incapaz. O vazio que ela deixou nunca poderá ser preenchido.

Sinto as mãos quentes de Ruby percorrendo meus ombros, apertando-os suavemente, numa tentativa de aliviar a tensão acumulada. Seus dedos são delicados, mas há força em seu toque, uma espécie de insistência silenciosa para que eu sinta sua presença. Através do espelho, vejo seu reflexo. Ela é linda, de uma beleza quase dolorosa, que contrasta brutalmente com a feiura do mundo que me cerca. Seus longos cabelos castanhos caem em cascata pelos ombros, e seus olhos azuis são tão profundos que, por um momento, imagino se não poderia me afogar neles, deixar-me submergir e esquecer de tudo.

Ao lado do buquê de miosótis, sobre a mesa de canto, repousa uma caixa de veludo vermelho. É um objeto pequeno, mas seu conteúdo carrega um peso imensurável. Abro a caixa com mãos que tremem ligeiramente e revelo um colar de ouro. Era de Anne, um dos poucos itens que restaram dela. As lembranças de Anne vêm à tona, intensas e avassaladoras, mas tento afastá-las. Hoje não é o dia de me deixar consumir por fantasmas do passado.

— Eu te amo, Ruby — digo, minha voz firme, mas carregada de uma tristeza que não consigo esconder. Seguro sua mão e a faço ficar diante de mim, para que ela possa ver a sinceridade em meus olhos. — Nunca duvides disso, e tudo que eu fizer sempre será para o teu bem.

Ela não responde, mas seus olhos dizem tudo. Eles brilham com uma mistura de amor e preocupação, uma mistura que apenas aumenta o nó em meu peito. Coloco o colar em seu pescoço, os dedos tocando sua pele quente, e deposito um beijo em sua testa. Mesmo sentado, sinto que esse simples gesto consome todas as minhas forças. Ela não diz nada, apenas me olha com aquela expressão que sempre me desarma, como se soubesse exatamente o que estou pensando, o que estou sentindo.

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