Alfonso caminhou até ela e começou a abotoar-lhe o que restara do vestido. Quando viu as marcas vermelhas e ásperas da mão de Thomas no ombro delicado, abaixou a cabeça e beijou o local, umedecendo-lhe a pele com a lingua.
Ela ofegou e virou-se para esbofeteá-lo, mas ele escapou.
-- Vc também não!
-- Estava apenas tentando lhe amenizar a dor. - ele sorriu. Então, se arrependeu, concluindo que a pobre criatura já tiverá bastante excitação por uma noite.
-- Onde esta seu xale?
O vento aumentara, causando uma queda consideravel na temperatura da noite. Ao senti-la estremecer, Poncho apertou-a de encontro ao seu corpo.
Dulce o fitou com uma fisionomía lúgubre.
-- Perdi meu sapato.
-- Vou voltar para buscá-lo.
-- Não por favor! Não me deixe aqui sozinha. Ele a ergueu nos braços.
-- Alfonso, me ponha no chão. Eu posso caminhar.
-- Claro que não pode. - E a carregou rua abaixo.
-- Sinto-me tão exposta! - disse ela com ambos os braços ao redor do pescoço dele, tentou não notar a vaia que receberam de seus espectadores.
-- Não se preocupe. - Ele caminhou veloz, ignorando ás cócegas que os cabelos dela lhe provocavam-lhe no pescoço. - Dentro de instantes estará em casa.
-- Espero não ser muito pesada. -sussurrou ela minutos depois.
Ele não respondeu, porque já podia ver Fernando aguardando na varanda. Parou quase sem ar nos pulmões. Já esperava por uma manifestação do pai de Dulce, mas jamais poderia imaginar o que se seguiu.
Com um rugido, Fernando Espinosa fechou o punho e bateu-lhe no ombro, quase o derrubando dos degraus. Alfonso cambaleou e pousou seu fardo no chão.
Tentando recuperar o equilibrio, ela amparou-se em Alfonso.
-- Papai! O que está fazendo? - protestou.
Um simples olhar para a aparência desgrenhada da filha era a prova de que Fernando precisava. Sua face corou devido a raiva provocada pela traição de Alfonso.
-- Herrera, o que fez à minha filha? - Fernando avançou agarrando as mangas. - Então é este o agradecimento que recebo por lhe arranjar um trabalho digno?!
Movendo-se com passadas mais rápidas que um esgrimista sobre um tablado, Poncho abaixou-se atrás de um pilar na varanda. O homem não era um mau ator, concluiu. Por certo, aquilo se tratava de estratagema para permitir o falso casamento.
Fernando fitou Alfonso, cujos movimentos flexiveis o mantinham um passo à sua frente. Em seguida, lançou-se, desajeitado, com a intenção de agarrá-lo, mas não conseguiu.
-- Maldição! Vc não perde por esperar seu verme! - berrou, irado.
-- Senhor, sua filha e eu... - Poncho saltou por cima da cerca da varanda em busca da segurança do gramado. - Seja razoàvel, Sr. Espinosa. Posso lhe assegurar que minhas intenções são as melhores possiveis.
Fernando estava ocupado demais perseguindo, o aparente sedutor da filha pelo matagal para proferir pouco mais que sons incoerentes e alguns palavrões. Poncho achou engraçado, mas o homem parecia de fato enfurecido e disposto a defender a honra da filha.
Ela desceu os degraus e correu atrás do pai.
-- Papai, o que é isso? - perguntou completamente estarrecida com a reação dele. - O que esta fazendo?
Poncho quase deixou escapar uma gargalhada. O homem realmente estava se excedendo no papel de pai indignado.
-- Vc seu porco sedutor! - gritou o velho magnata, esbaforido, enquanto Dulce tentava reduzir-lhe a velocidade. - Não interfira, menina. Corra e va chamar o xerife.
-- Papá, pare agora mesmo! Esta me envergonhando! - Ela apontou para os vizinhos, que assistiam à cena sentados nos balanços de suas varandas.
Para o alivio dos dois jovens, Fernando decidiu não fazer um espetáculo para a cidade inteira. Com grande esforço, conseguiu se conter. Afinal, tinha uma reputação a zelar.
Poncho curvou-se ao ver as veías protuberantes no pescoço de seu empregador e as pedras que ele trazia nas mãos. Santo Deus! O velho agia como se de fato ele tivesse lhe seduzido a filha.
-- Papai, não sei por que esta tão bravo. - disse ela, esperando tranquiliza-lo. - Alfonso me proporcionou momentos muito agrádaveis. Até mesmo me salvou.- Fernando a fitou, desconfiado.
A alguns metros de distância, Poncho permanecia equilibrado sobre a ponta dos pés, pronto para sair correndo caso fosse necessário.
O salafrário parecia intacto, limpo na realidade e com uma fisionomía desnecessariamente divertida. Enquanto sua delicada Dulce... O sangue ferveu só de olhar para a filha.
Ignorando a esposa que se encontrava na entrada torcendo as mãos, Fernando entrou e esperou pelo casal no corredor.
-- Vcs dois entrem. E vc... - acrescentou se referindo a Alfonso. -... é melhor ter uma boa explicação para isso, ou a justiça agirá bem rápido.
Dulce sorriu encorajando Poncho.
-- O latido do meu pai é pior que a mordida. - ela mentiu e beliscou Poncho no braço, incitando-o a se mover. - Lembre-se que fizemos um trato. - sussurrou.
Revirando os olhos, Ele começou a subir os degraus da varanda. Sintia-se como um condenado que caminhava os últimos metros em direção à forca. Por que, Deus! Por que tinha se envolvido com aquela familia?
Talvez tivesse sido a curiosidades que o impedir de se livrar daquela familia e deixar a cidade. Sempre se interessara pelo funcionamento da natureza humana. Era o resultado de anos de trabalhando como ator. Pelo menos foi isso que ele disse a si mesmo enquanto observava pai e filha prontos para uma guerra, no instante em que Fernando os isolou em seu escritório.
Nossa o Clima na Mansão Espinosa está pegando fogo, o que será que Fernando irá fazer?
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Casamento Por Acaso
RomanceNevada, 1864. Um Casamento de Mentira... Uma Paixão de Verdade... -- Mimada, linda e esperta, Dulce María Espinosa Saviñon concorda em se casar com alguém que se encaxe nos padrões exigidos por seu Paí: "Um Homem de Verdade", Que ñ tem medo...