Capítulo: 27

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Providencialmente, os convidados do casamento começaram a entrar na Igreja e em minutos todos já haviam tomado assento. Fernando deu o braço a filha e se postou na entrada do templo, preparado para cumprir seu dever. Próximo ao altar, Poncho aguardava incomodado com sua gravata borboleta. Depois de um longo silêncio, o padre, o único presente de alma verdaderamente traquila, sinalizou ao organista para dar inicio aos hinos.

Os foles do instrumento assobiaram e ofegaram a cada passo que Paí e filha andavam. No momento em que transpuseram o corredor, ele agradeceu por ouvir o último acorde da marcha de casamento e plantou um beijo na face da filha.

Surpresa, ela o fitou e percebeu que o pai tinha os olhos marejados de lágrimas.

-- Papai? - murmurou ela.

-- Seja feliz, minha filha. - respondeu com um sussurro àspero. Então direcionou o olhar para Alfonso e seus olhos se encontraram em um pacto silêncioso.

Alfonso deu um passo a frente, estendeu a mão, e o coração de Dulce começou a bater mas forte. Desviando o olhar de suas mãos entrelaçadas, fitou aquela boca máscula que permanecia seria em uma face tão carismática que a fazia derreter por dentro. Em seguida ergueu o rosto e notou que ele a estudava. Alfonso umedeceu os lábios, lenta e deliberadamente como se soubesse o que ela estava sentindo. Assustada ela ruborizou e baixou o olhar.

O padre os chamou. Ambos se ajoelharam diante do celebrante, de mãos dadas e as cabeças curvadas.

-- Amados irmãos, estamos aqui reunidos à vista de Deus e na presença destas testemunhas... - Quase de imediato, a mente de Dulce se abstraiu. Ela encarou a mão de Alfonso com um olhar febril. Seus dedos entrelaçados com os dele. Tentou se livrar, mas percebeu que ele a prendia com firmeza.

Seria de fato necessário manterem as mãos unidas durante a celebração? Perguntou-se. Aquilo era uma tortura, ficariam agarrados para sempre se o padre não se apressasse!

Enqunto repetiam as palavras do Paí Nosso, Ela focalizava a mão que segurava a sua. A pele de Alfonso era flexivel e lisa, e as unhas, bem feitas. A mão de um cavalheiro. Oh, se ao menos...

-- ...Amém.

Quando Poncho a ajudou a se erguer, os pensamentos dela se evaporaram deixando-a confusa e desejando saber em que parte da ceromônia se encontravam.

-- Eu, Alfonso Herrera Rodríguez, recebo Vc Dulce María como minha esposa...

Santo Deus! Já estavam nos votos. De repente, a verdade daquele ato atingiu-a como um balde de água gelada. Poncho tinha razão, eles deveriam estar preocupados! Aquilo não eram apenas palavras, mas promessas que ambos nunca pretendiam manter. Horrorizada, ela apertou a mão do noivo.

--... Prometo amá-la e honrá-la até que a morte nos separe. - A voz dele não osciliou nenhuma vez.

Assaltada pela culpa, ela sentiu-se tentada a acreditar que Alfonso estava sendo sincero! O padre se virou na sua direção. Com a boca seca de apreensão, ela desejou saber quanto tempo passaria pelo Purgátorio.

Aqui vamos nós! Nervosa, ela encarou Poncho e recebeu um aperto de mão tranquilizador.

-- Obrigada!. - sussurou.

O padre clareou a garganta.

-- Repita comigo: Eu, Dulce María Espinosa Saviñon, recebo Alfonso Herrera Rodríguez como meu marido para...

Os lábios de Dulce começaram a se mover, mas as palavras tinham dificuldades de sair. Ela hesitou, clareou a garganta e tentou novamente. Ainda assim, nada conseguiu proferir.

A congregação se curvou, esperando ouvi-la.

Lançando um olhar amedrontado ao padre, os olhos de Dulce se fixaram no crucifixo. Oh, Jesus! Suas pernas bombearam e ela teria batido com os joelhos sobre uma pilha de cetim amarrotado se o braço forte de Alfonso não a tivesse segurado.

Sentia-se flácida. Não! Não podia se apavorar. O que pensariam ás pessoas se ela gritasse e saisse correndo da Igreja? Mas isso adiantaria? O pai por certo lhe faria um sermão pela vergonha que a fez passar na frente dos amigos e a obrigaria a casar de qualquer maneira. Oh, Deus! Que castigo!

Um murmurio abafado ecoou pela Igreja. Dul ouviu a respiração inflamada do paí, como os foles de um ferreiro bombeando ar.

Alfonso encarou-a genuinamente interessado.

-- Tem certeza de que quer fazer isso Dulce? - perguntou em tom grave.

Como uma náufraga, Ela agarrou-se ao braço dele.

-- Sim, sim, estou pronta. Hum... - ela parecia destraida. - Eu... Ham... É que fiquei com muita sede depois daquela tempestade de vento. Será que eu poderia tomar um pouco de água? - perguntou ao padre.

-- Claro minha filha. - mas em vez de água, entregou-lhe um cálice de vinho.

Ela bebeu com avidez. O álcool a despertou depressa, provendo-a da coragem que lhe faltava.

-- Obrigada padre.

O padre ergueu o cálice, elevou-o e proferiu uma benção ao Casal:

-- Que o Senhor voz abençoe até o final de vossas vidas. - então o fereceu-o ao noivo.

Alfonso percebendo que a noiva o esvaziara. Levou-o aos lábios e fingiu beber, num desempenho respeitável.

-- Está vazio. - não pôde resistir a murmurar no ouvido dela.

-- Agora podemos continuar com os votos? - perguntou o padre, endereçando a Dulce um sorriso bondoso. - Eu Dulce María...

Sentindo os olhos do pai sobre seus ombros, ela declarou:

-- Eu, Dulce María Espinosa Saviñon, recebo Alfonso Herrera Rodríguez como meu marido, para tê-lo e conservá-lo de hoje em diante...

Sua voz soou como um sino doce e suave, enquanto ela se unia em matrimônio.
    
            xxx

Caramba que locura esse casamento. Mas emfim estaram unidos.

Casamento Por AcasoOnde histórias criam vida. Descubra agora