Enquanto caminhava, Poncho se virou e se deparou com o sogro saindo da suite adjacente.
-- A bagagem está pronta pra vcs partirem amanhã cedo. - disse o sogro em tom baixo e conspirativo.
-- Obrigado, Senhor. Espero que Ela tenha trazido algo mais prático para usar do que os vestidos que eu vi.
Fernando assentiu com a cabeça.
-- Providenciei três vestidos de lã e mais casacos masculino pequeno que deve se ajustar nela. Faz frio nas montanhas.
-- Cuidarei bem de sua filha senhor. Devemos estar de volta antes da primeira nevasca.
-- Estou certo que sim. - o sogro estreitou o olhar e o fitou. - Dulce é minha única filha e não quero que a faça infeliz, ouviu?
-- Senhor, ela ficará muito infeliz quando descobrir para onde a estou levando. - Ele lembrou ao sogro.
Fernando esticulou impaciente.
-- Não é esse tipo de infelicidade que quero dizer. Vc está apenas seguindo as minhas instruções. Sabe muito bem a que me refiro.
- Ela ficará bem. - foi tudo que Poncho consiguiu dizer.
O feixe de luz foi seguido pelo breve ruido da crinolina. Dul entreabriu a porta da suite e espiou pela fenda.
-- Não vai me convidar pra entrar? -perguntou Poncho. Dul se moveu para o lado, porém se manteve cautelosa, para que o marido não fizesse nenhum movimento brusco ao passar pela porta. Ela aínda estava vestida.
-- Dul vc parece a Virgem María vestida com todo esse branco. - observou ele. Erguendo a sobrancelhas. - por que não fica mais a vontade? Solte os cabelos. Relaxe.
-- Meus cabelos já estão soltos. - ela informou, pegando uma cadeira e sentando-se a uma pequena mesa.
-- Já que não há nada a fazer até eu levá-la para a estação amanhã de manhã. - disse ele colocando uma toalha sobre a mesa. - Que tal jogarmos baralho?
-- Baralho? - repetiu ela.
-- Pôquer, para ser mais exato. Um dos muitos vicios que adquiri nas minhas viagens.
Ela o encarou com uma expressão desconfiada.
-- Nunca joguei.
Poncho esparramou as cartas sobre a mesa e fez alguns movimentos com os dedos.
-- Ficarei feliz em ensiná-la - com indiferença, sem nem sequer fitá-la.
-- Tudo bem. - ela concordou relutante. - Creio que não há nenhum mal nisso.
-- Nenhum. Não vamos nem mesmo jogar a dinheiro. Concorda?
-- Concordo. - Dulce o observou pegar as cartas e misturá-las. Ele tinha mãos bonitas, ágeis Fortes e flexiveis.
-- Eu... Eu estou muito grata a vc.
-- Oh, sim seu coração está transbordando de gratidão. - concordou ele exibindo um sorriso sardônico.
Dulce o fitou.
-- Está sendo muito bem pago para fazer o que fez. - ela o lembrou.
-- Sim, estou. - Poncho sorriu evidenciando seu lindo rosto enquanto ao mesmo tempo em que colocava as cartas diante dela. - Vc corta.
Ela o encarou e em seguida, olhou para o baralho a sua frente.
-- Cortar?
Ele mostrou como fazer e pôs as cartas sobre a mesa outra vez. Devagar, Dulce as pegou e devidiu o maço ao meio.
-- Assim?
-- Vc aprende rápido. - Ele juntou o baralho novamente e deu cinco cartas para cada um, tão depressa que os olhos de Dulce se arregalaram. - Há vários modos de jogar pôquer, minha pombinha, mas para começar eu lhe dei cinco cartas.
-- Como posso saber se vc não está me enganando? - perguntou ela.
-- Não estamos jogando a dinheiro, lembra? E apenas um jogo entre amigos. - disse, arranjando suas cartas na mão.
-- Não somos amigos. - Ela o corrigiu.
-- Oh, é verdade, eu quase esqueci. Estamos casados. Isso ilimina a possibilidade de uma amizade ágora, não é? - ele estudou as cartas. Então, bateu com a unha nos dientes da frente, chamando a atenção de Dulce para os seus dentes perfeitos. - Precisa de alguma carta nova? Ela pousou as cartas na mesa.
-- Olhe isso não vai dar certo. Não sei nada sobre pôquer.
Com a mão livre, Alfonso cobriu a da esposa.
-- Deixe-me ajudá-la, Dulce. - pegou as cartas dela e as virou. - Não contaremos esta rodada. Ora ora vc tem quatro valetes! - exclamou. - Isso teria batido a minha trinca, sabia?
-- Trinca? - De que diabo ele esta falando, ela desejou saber.
-- Trinca significa três. - explicou ele expondo as próprias cartas. - Vc me bateu! Sabe o que é isso? Sorte de principiante minha querida. - Gesticulando para o balde de gelo sobre a mesa de cabeceira, ele ofereceu-lhe uma taça de champanhe. - Dulce?
-- Não obrigada tomei três taças na recepção.
Ele deu de ombros.
-- Isso foi a horas atrás. - E ele ficou de pé.
Assustada, ela arregalou os olhos ao vê-lo retirar com os dentes o lacre ao redor da tampa da garrafa. Os olhos verdes fitaram os dela durante alguns instantes de puro prazer primitivo.
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Casamento Por Acaso
RomanceNevada, 1864. Um Casamento de Mentira... Uma Paixão de Verdade... -- Mimada, linda e esperta, Dulce María Espinosa Saviñon concorda em se casar com alguém que se encaxe nos padrões exigidos por seu Paí: "Um Homem de Verdade", Que ñ tem medo...