Capítulo: 35

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Ainda zonza e aturdida, Dulce se afastou e se ergueu.

-- Deixe-me em paz, seu bast...

Antes que ela pudesse terminar a palavra, Alfonso lhe tapou a boca com a mão.

-- Cuidado com o linguajar mocinha. - Ele se aproximó, enchendo-lhe a visão de raios de luar prateado que refletiam em seus cabelos pretos. - Está desperta agora? - perguntou afastando a mão.

Ela não precisava que alguém lhe dissesse o terrivel perigo que estava correndo. Encarou o marido cansada e faminta demais pra começar uma briga. Mas prometera a si mesma que se sobrevivesse àquela noite, se vingaria nem que fosse a última coisa que fizesse na vida.

-- Dul, você esta tremendo. Por que não disse que estava com frio? - Sem mais palavras, Poncho dirigiu-se ao alforje no lombo de um dos animais e pegou um grosso casaco de lã. - Vista isto. Vc está quase congelando.

Dulce se afastou e jogou o agasalho no chão. Depois de tudo que aquele traidor fez, como ele ousa parecer preocupado? Perguntou a si mesma.

-- Não quero o seu casaco ou a sua piedade. Quero distância de vc.

A expressão de Alfonso endureceu.

-- Já sei... San Francisco. Sinto muito, mas largar uma moça inocente em uma cidade liberal não seria o melhor pra vc.

-- Eu decido o que é melhor pra mim. - enxugando o rosto molhado pelas lágrimas, com as costas da mão, ela recusou-se a encará-lo.

-- Aceite isso como um conselho oferecido por um pródigo a outro. - Ele se ajoelhou e a ajudou com as mangas do casaco. Em seguida, o abotoou e aconchegou a gola ao redor do queixo dela. - Pronto! Pelo menos não morrerá de frio.

-- E quem se importa!? Se nem mesmo meu paí me ama, caso contrário jamais teria feito isso comigo.

-- Não seja tão dura com ele. Vc certamente mereceu.

-- Isso não é desculpa. Sou mais esperta do que vcs dois imaginam. Posso muito bem me virar sozinha tenho dinheiro.

Com as emoções confusas, ele a estudou.

-- Quanto vc tem?

-- O suficiente, seu patife, mesmo depois de lhe pagar mais do que mereceu. - Em seu desejo febril de se ver livre, uma idéia lhe veio à mente: Talvez ele a deixasse voltar para casa ou pelo menos para Strawberry Point, se lhe oferessesse dinheiro. - Oh, esta bem. Sobraram-me oitocentos dólares. Mais posso conseguir mais. Tenho certeza que posso. - Ela sabia que a mãe a ajudaria quando soubesse o que lhe havia acontecido. - Quanto quer Alfonso? Se for dinheiro de resgate que deseja posso conseguir.

-- Poupe seus esforços. Não estou interessado. - Ele a largou e fitou o fogo com uma expressão desolada. - Que alma mercenária, Dulce!  Vc e seu pai só pensam em dinheiro?

A repulsa de Alfonso a pegou de surpresa. Não esperava que ele rejeitasse a oferta.

-- Não, mas se o dinheiro me livrar desse pesadelo, estou disposta a negociar.

Por alguns instantes, ele se sentiu tentado a lhe dizer que a levaria de volta a Strawberry na manhã seguinte. Mas sabia que não podía voltar atrás. Tinha obrigações com Fernando e com ela que mesmo sem aceitar, agora era sua esposa querendo ou não.

-- Tenho certeza de que pode ser comprado me diga seu preço? - Zombou ela.

-- Cristo! Vc é mesmo uma garota corrupta. - disse ele em tom baixo para que ninguém os ouvisse. - aceitei esse fardo quando fiz meus votos no altar.

-- Não, pode dizer isso! Não sou sua esposa! E nunca serei! O nosso acordo não era um casamento de verdade. Era... - Fechando os olhos, ela respirou fundo. Devia ter perdido o juizo, pensou. Não era capaz de enfrentar de novo aqueles penetrantes olhos verdes! O que importava se Alfonso era o Homem mais bonito que ela já havia visto? O salafrário a havia enganado! - Isso é ultrajante Herrera.

-- Temos um contrato legal, Dulce María. E Pretendo manter minha palavra, contanto que seja humanamente possivel.

-- Oh, Deus! - Gemeu ela. - Não aceitei nada disso.

-- Acredite em mim. Estou tão indignado quanto vc. Repugno a idéia de ter me casado obrigado. - O forte aroma de café havia atraido os homens até a fogueira. Poncho usou a desculpa de ir pegar duas xicaras pra eles e se afastou.

Ao retornar, puxou ela pela mão e a levou a um canto, onde poderiam conversar reservadamente.

-- Vamos deixar uma coisa bem clara: Não insistirei nós meus direitos conjugais. Pode manter sua preciosa virgindade.

-- Muito obrigada. - enquanto tomava um gole de café, ela o estudou com o canto dos olhos, desejando saber se tinha sido por isso que ele não a tocara na noite de núpcias. Mas é claro que o assunto era ridículo demais até mesmo para especuliar. Deveria agradecer a Deus por ele a ter a deixado em paz. - Quer que eu acredite que o meu sequestro e todo o resto é porque vc é de fato um bom carater? - As palavras foram proferidas com sarcasmos.

-- Não pelo contrário. Sempre levei uma vida egocéntrica. Sou o filho pródigo que desperdiçou tanto a fortuna da familia que meu pai se recusa a me receber de braços abertos, por medo que eu queira tirar vantagem outra vez. É se eu tivesse chance, provavelmente faria isso de novo. Quem sabe?

Dulce precisava de tempo pra acreditar que alguém pudesse ter coragem de admitir uma vida tão perdida.

-- O que a faz pensar que eu me tornaría uma filha pródiga como vc?

-- Simples dedução. - Com essas palavras, Poncho curvou a cabeça e deu um beijo no nariz atrevido dela. - Relaxe. O jantar está quase pronto. - informou e saiu deixando ela ali aturdida nas sombras para refletir o que ele acabara de dizer.

-- A comida esta pronta. -chamou um velho desdentado com uma concha na mão.

...

Casamento Por AcasoOnde histórias criam vida. Descubra agora