-- Tempestade de Vento. - explicou, desaparecendo em seguida para fechar outras janelas do andar superior.
Olhando para fora, Dulce viu um denso redemoinho marrom. Em segundos, não havia nada além do barulho ensurdecedor de areia e folhas açointando ás venezianas.
-- Papá! - gritou ELA, lembrando-se dos tornados do Meio-Oeste. - Não dispomos de um abrigo contra tempestades? - Dulce se encontrava de pé, indecisa, apenas com roupas de baixo, imaginando se não seria sugada pelo vento. Deveria fugir? Esconder-se embaixo da cama? O que fazer?
-- Se vista-se Dulce. - ordenou o pai ao retornar. - Vc e Alfonso se casarão as duas horas, lembra-se?
-- Não podemos nos casar em meio de um tornado! - gritou ela, acima do som assustador do vento. A casa parecia firme, mas por quanto tempo? Talvez aquilo fosse um sinal do desagrado de Deus. Afinal, ela havia desafiado o paí. - Oh, ajude-me, por favor!
-- Isso não é um tornado. - informou o pai. - Apenas um ventinho. Deixe de ser exagerada. - dizendo isso, ergueu os braços da filha e enfio-lhe o vestido de noiva pela cabeça.
Ela o fitou incrédula. O paí fumava o charuto como uma velha máquina a vapor e, surpreendentemente, tinha. Se ele dissera que aquilo era um "ventinho", quem era ela pra discutir?
Suspirando, sujeitou-se à tentativa desajeitada de Fernando de abotoar-lhe os botões de prolapso nas costas do vestido.
-- Obrigada, papai - agradeceu ela, quando ele terminou a tarefa. Num impulso, ergueu-se na ponta dos pés e beijou-lhe a face, principalmente por ele ter-lhe devolvido a coragem.
-- De nada. - respondeu ele, abraçando a filha meio sem jeito.
Envolvida no circulo poderoso daqueles braços, ela sentiu um calor reconfortante que havia anos não experimentava. O brilho súbito de orgulho no olhar do paí causo-lhe uma estranha e repetina emoção. Em geral, o homem era sério, rude e estava sempre com pressa.
-- Seja feliz, filha. - ele bateu de leve na face delicada e se afastou, deixando-a sozinha.
-- Se é isso que o senhor quer papai. - disse ela num tom calmo, não em resposta às palavras dele, mas por que uma vez mais se sentia sozinha, sem um ombro para encostar a cabeça e ninguém para ama-lá.
Por alguns instantes, sentiu-se como uma garotinha que, junto com a mãe, vira o paí partir da estação de trem de Chicago nove anos antes. Suplicara-lhe que não as abandonasse, mas ele tinha partido assim mesmo.
O senhor não me ama papá. Só ama seu dinheiro. A menina chorava muito e desde então, tudo havia mudado entre eles. Depois disso, quando vinha visitá-lo procurava manter uma distância cautelosa e cortês.
Nesse momento, ele retornou para uma inaperção final.
-- Nada mal. Vc é uma noiva quase tão bonita quanto sua mãe, quando nos casamos.
-- Não podemos ir para a igreja até o que o vento diminua. - disse ela protelando.
-- Com ou sem vento, vamos para a Igreja ás 14:00hrs. De repente, Dul ouviu o estrondo de um vidro quebrando e o grito amortecido da mãe.
-- Fernando! Uma das venezianas abriu. - Blanca chamou, com uma nota de pânico. - A janela da sala de estar quebrou.
-- Oh, inferno! - ele desceu a escada apressado. - vou buscar algumas tábuas.
Dul ouviu o barulho no martelo do pai na Sala de estar e na varanda dos fundos, então percebeu que um " Ventinho" Não iria interferir nos planos de Fernando Espinosa.
Quando a tempestade desabou, cobrindo Virginia City com nuvens densas, Alfonso sentiu-se como os egípcios na ocasião em que o Senhor trouxe a praga de gafanhotos para devorarem a terra.
Não havia lugar onde se esconder. A cada tique-taque do rélogio, aquele casamento ficava mais próximo. Sentia-se quase claustrofóbico. Não consiguira pregar o olho durante a noite, tinha as mãos suadas e não era capaz de se concentrar.
É claro que o tempo ruim era a disculpa perfeita para adiar o casamento. Indefinidamente. Mas algo o segurava, impedindo-o de se apavorar. Se ao menos pudesse considerar o casamento uma farsa. Mas não podia.
-- Palavras são como Vento. - tentou se convencer, enquanto olhava, através da janela, com os olhos inexpressivos. Por que não aceitava o fato de que estaria apenas repetindo palavras, não fazendo promessas ao padre, com quem tivera um breve encontro na mina, na sexta-feira anterior? Se pelo menos sua conciência não o atormentasse.
Más se deixasse aquelas duas pessoas volutariosas tomarem conta da sua vida. Jamais poderia se olhar no espelho novamente.
Poncho pegou um manual de mineração sobre a cama. Havia informações valiosas sobre como operar um moinho, mas que não o ajudaria a fazer o que precisava fazer.
Se minha palavra não vale nada o que resta de mim? Perguntou-se. Sim mas não permitiría que aquela fedelha o manipulasse e nem que o paí dela o intimidasse
Aquilo não era apenas um mero caso de saber de que lado ele estava, mas uma questão de conciência. Um teste para saber que tipo de homem era na verdade. E o que esperava se tornar.
Teria que oferecer resistencia. Mesmo que isso significasse ir às escuras para a igreja no meio de um Cyclone! Tinha que ser ele mesmo. Embora isso deixasse Fernando furioso.
Assim que ele tomou sua decisão, a tempestade arrefeceu, transformando-se em uma suave brisa de verão. O sol voltou a brilhar sobre as cabeças de metade dos descrentes cidadões de Virginia City. Jamais alguém vira um zéfiro surgir do nada e desaparecer tão de repente antes.
Recuperado de sua indecisão, Poncho ajeitou um pouco de sua barba por fazer depressa. Aparou ás laterais das costeletas e repartiu os cabelos de lado. Usando um gel para mantê-los fixos, no caso de o vento voltar. Um homem ñ podia ser demasiado cuidadoso com a aparência, disse a si mesmo.
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Casamento Por Acaso
RomanceNevada, 1864. Um Casamento de Mentira... Uma Paixão de Verdade... -- Mimada, linda e esperta, Dulce María Espinosa Saviñon concorda em se casar com alguém que se encaxe nos padrões exigidos por seu Paí: "Um Homem de Verdade", Que ñ tem medo...