Capítulo: 4

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Alfonso Herrera Rodríguez engachou o salto da bota no descansar pé de metal do Bar Bucket Of Blood e apoiou os cotovelos sobre o bonito balcão, conferindo a clientela local. Como ator treinado, desenvolveu um instinto apurado no que dizia respeito a pessoas. E tinha a esperança de que essa habilidade o ajudasse a conseguir a próxima refeição.

Os lampiões a gás emprestavam às senhoras maquiadas do andar superior um matiz teatral familiar. Ele estava com vontade de gritar qualquer coisa, mas que não fosse para sacudir sua crescente agitação.

Ao seu redor, mineiros sérios batiam ombros como lojistas no horário de almoço. O lugar inteiro se assemelhava a um frenesí alimentar. Poncho estremeceu ao avistar o jovem garçon do bar, tão descolado. Sentia-se rodeado e preso em uma teia de falsidade e mentiras.

Harpias que manipulavam o comércio por uma onda de prata. Apavorante! Um exercicio desprezivel de civilização sobre clientes de rostos pálidos e consumistas. Mãe de Deus! Um homem não podia descer mais baixo.

Poncho piscou antes o cheiro de álcool e a fumaça de tabaco e questionou-se se não estaria sofrendo de delirium tremens. Esperava sinceramente que não! Colocou a mão bem cuidada diante da face. Firme como granito. Não havia nenhuma cobra roxa e estranha deslizando das escarradeiras, e tampoco letras se mexendo na pintura de uma jovem nua na parede. Deus seja louvado!  Pelo menos por enquanto, podia descartar a idéia de insanidade.

Dois homens bastante brozeados, trajando camisas de  flanelas e calças de algodão, chamaram sua atenção. Os únicos espécimes saudavéis no bar vagamente iluminado. Todo o mundo parecia artificial. Alfonso olhou para a própria mão segurando um copo e desejou saber quando se sentira mais desajustado.

Homens semimortos, com febre pulmonar, vangloriavam-se de seus feitos e das vocações que haviam seguido. Para a maioria deles, o pote de prata e de ouro permanecia como um sonhor inacessivel no final de um arco-iris inexistente. Os que alcançaram a riqueza haviam perdido tudo no jogo. Os jovens matavam o tempo entre turnos exaustivos, usando os quatro dólares que recebiam por dia para brindar às suas insensibilidades. Com humor cínico, riam de seus destinos, sabendo que era apenas uma questão de tempo antes que os gases tóxicos, o terrible calor ou um desmoronamento pusessem um fim em suas miseráveis existências.

Muitos eram seus compatriotas. Haviam trabalhado em minas semelhantes na Cornualha, em Cardiff ou nas colinas dos Apalaches. Toupeiras que raramentes viam a luz do día, acabando com seus pulmões. Contudo eram guiados pelo sonho de encontrar uma jazida rica de prata. Poncho podia ver por que no final das contas, os donos dos estabelecimentos comeciais e dos malditos cassinos ficavam com todo dinheiro.

Enquanto Herrera estudava aquela facção fascinante da população masculina de Virginia City, tentou se imaginar ganhando a vida como um deles.

Uma idéia moderna: Trabalho.

Nunca se vira fazendo outra coisa mais corajosa do que atuar. Para ser Franco, gostava bastante daqueles que passavam as horas sobre o tablado, fazendo imitações dos jogadores da vida. Sim, comparado aqueles pobres desafortunados que trabalhava duro por um dólar ianque, o ator de vinte três anos de idade vinha levando, até bem recentimente, uma vida boa. Dava-se bem pela sua personalidade e inteligência, e costeado pela generosa mesada do paí. Desde que havia feito as malas e deixado a propriedade da familia na ilha Esmerald, abdicara de seus privilégios, sempre esperando satisfazer uma estranha quietude interior. E ali estava encalhado em Virginia City. Deus isso já era uma queda de status no mundo!

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