Capítulo: 38

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Dulce girou ao redor e viu o torso bem-feito de Alfonso apoiado Na parede. Ele não havia se barbeado naquela manhã, ela notou. Na realidade, não havia prestado atenção nele o día todo. Ele usava botas de cano longo e outra camisa flanela. Parecia um madereiro, embora mais asseado e com um linguajar mais refinado, obviamente tentava se ajustar aos padrões locais.

-- Boa tarde. - disse ela cautelosa com um meio sorriso nos lábios.

Al amarrou um avental e começou  a se movimentar. Não queria passar uma imagem de preguiçoso ao chefe.

-- Eu e a madame estávamos discutindo ás tarefas. Sempre tive ajudantes homens. A Sra. Herrera é uma dama delicada, refinada e...

-- Ela é uma dama. - concordou Alfonso. - Mas não é nenhuma mandriona. Está preocupado que algumas das tarefas possam ser muito pesadas para ela? O cozinheiro clareou a garganta.

-- Pegar água no lago, lavar o chiqueiro dos porcos, esfolar coelhos... Não são trabalhos faceis para uma mulher, Sr. Herrera.

-- Lavar chiqueiros? - Mas aquilo vinha a calhar, pensou Alfonso, fitando ela, com o sorriso perverso. - Vc não se oporia não é meu amor? - Os olhos verdes a perfuraram como um punhal, enviando-lhe uma advertência silenciosa contra qualquer protesto.

-- É claro que não. - respondeu ela. - Sempre ouvi meu pai dizer que o trabalho dignifica. - Ela se virou para o cozinheiro com um sorriso bondoso nos lábios. - Sr. Al quero dar o melhor de mim. - Então, se dirigiu ao marido. - Mas alguma coisa meu bem? - perguntou com um doce sarcasmo.

-- Nada, meu amor. - disse ele surpreso por ela não ter contestado. - Só passei pra dizer que sua bagagem já esta em nossa cabana.

-- Obrigada. - falou em tom frio. - Agora se me der licença eu vou buscar água para lavar ás batatas.

Alfonso estreitou os olhos cheios de suspeita. Ela estava cooperativa demais para seu gosto. Até mesmo nos contos de fadas, não se via ninguém passar de bruxa a uma humilde criada de copa tão depressa!

Ele caminhou apressado pela estrada sinuosa que levava á cabana que ele iria compartilhar com a esposa. Amaldiçoou-se por permitir que a imagem de Dulce não lhe saisse da cabeça. Dane-se ela! E dane-se aquele súbito ataque de consciência! Precisava manter distância daquela mulher, concluiu ou o invencivel Alfonso poderia cair mortalmente ferido no campo do amor.

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-- Não pretendo perder meu sono por sua causa Dulce. - disse em voz alta, mudando ás poucas peças de mobilia de lugar. Primeiro a cama. Aquilo criaria um problema a menos que propusesse uma solução viável imediatamente.

Com esse pensamento, puxou a cama pesada para longe da parede. Um rato correu, passando pelos seus pés. Isso o fez lembrar de dar  a Dulce um dos gatinhos que viu junto do beliche de Raimey. Al precisaria de um ou dois também. E o escritorio da serraria poderia ficar com dois.

Agarrou o colchão e levou-o para fora. Em seguida, encostou-o em um tronco de árvore e bateu com uma vara para livrá-lo da poeira. Sentia-se como um criada doméstica, porém não podia esperar que Dulce fizesse aquilo. O colchão era muito pesado para ela carregar. Mas aquela era a única concessão que faria. Uma vez com colchão bem arejado, trouxe-o para dentro e recoloucou-o sobre a cama.

O poblema é que havia só uma cama.

Mas é claro que entre tantos madereiros, pelo menos um dos carpinteiros  poderia construir outra para ele. Satisfeito com o pensamento, pegou a estrada outra vez em direção ao escritório. Do lado de fora havia uma pilha de longas pranchas de madeira. Mas ainda precisaria de alguns pregos. Então, dirigiu-se à choupana de charlie Mason, que estava concentrado no trabalho e mal ergueu os olhos ao vê-lo.

-- Espero não estar interrompendo nada. - disse Alfonso, curvando-se para entrar na Oficina.

-- Em que posso ajudá-lo? - perguntou o homem, sem parar o que estava fazendo.

-- Preciso de um martelo e alguns pregos. - gritou ele tentando superar o estrondo do metal raspando na pedra.

Charlie acenou, mostrando onde poderia encontra-los.

-- Obrigado Charlie. - Poncho pegou uma tábua comprida de aproximadamente trinta centimetros de largura e retornou a cabana. Estava apenas subindo os degraus quando o sino anunciou o jantar.

-- Maldição! - exclamou, pousando a tábua, os pregos e um pesado martelo. Relutante, decidiu terminar o trabalho após a refeição.

Alfonso comeu enquanto Dulce ficava em pé, pronta para pegar mais comida caso os homens necessitassem. Ela e Al reenchiam ás tigelas e travessas e inspecionavam as enormes panelas de comida quente no fogão. O pão desapareceu mais rápido do que as outras coisas, junto com grandes quantidades de molho. Dulce parecia concentrada, levando seu trabalho a sério, o que pegou Poncho de surpresa.

Ao terminarem, os homens arrastaram seus bancos ruidosamente e sairam em silêncio. Ao passarem por eles, o de acenos e arrotos ajudava o cozinheiro a julgar o sucesso de ambos.

Poncho aguardou todos sairem. Estava escuro lá fora e ele pretendia acompanhar Ela até a cabana.

-- Eu lavarei os pratos. - disse Al em tom de voz baixo, não querendo fazê-la demorar-se, já que o marido a esperava.

-- Não, esse é meu trabalho. - discordou ela, lançando um olhar mal-humorado ao marido. Sem pressa, raspou o resto de comida dos pratos e colocou as sobras em um balde. Em seguida, passou o restante do tempo esfregando, enxugando e secando até Alfonso se irritar.

...

Casamento Por AcasoOnde histórias criam vida. Descubra agora