Capítulo: 67

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Poncho estremeceu de frio a caminho do Hotel. O vento proveniente das montanhas e a chuva fria o fustigavam por todo o trajeto. Era em seu interior, porém que Poncho congelava. Como poderia ajudar aqueles homens se Fernando ñ dispensara nem sequer uma segunda consideração à proposta que lhe havia Feito? Sentia-se como um embusteiro, oferecendo aos madereiros um futuro que ñ podia lhes dar.

A imagem de Dulce, com os olhos vermelhos pelo pranto e observando-o partir da janela de seu quarto servia apenas para lhe adicionar mais sofrimento ao coração já abalado.

Entrou no hotel carregando a tempestade dentro de sí. Fez uma breve pausa para cumplimentar Davenport, o ator que representava o papel de Lanciotto, e o diretor da peça, Enock. Prometeu-lhes comparecer ao ensaio daquela tarde e ja estava se dedpedindo quando Maite se aproximou do grupo.

-- Esta ensopado Alfonso! Suba já para seu quarto e tome uma boa dose de chá de limão e mel, além de um banho quente.

-- Sim, mamãe. - brincou ele.

Enquanto ele aguardava a chave do quarto na recepção, um dos funcionários se aproximou com uma expressão embaraçada e um grosso envelope nas mãos.

-- Sr. Herrera, peço-lhe desculpas por ñ ter lhe entregado isto ontem. Esqueci-me por completo desta correspondência.

Poncho arqueou ás sobrancelhas, surpreso.

-- Para mim?

-- Chegaram algumas semanas atrás, quando a companhia de teatro irlandesa esteve na cidade. O senhor se encontrava em outro lugar e a Srta. Dooley disse-me que lhe diria que a correspondência estava aqui.

Poncho arregalou os olhos, fitando o volumoso envelope que datava de outubro.

-- Deus! Foi postado a quatro meses!

A face do recepcionista se encrespou de preocupação.

-- Peço-lhe perdão senhor. Quando se hospedou ontem, lembrei-me do envelope, mas apenas esta manhã me foi possivel procurá-lo no escritório do gerente.

-- Obrigado. - agradeceu Poncho, avaliando o peso do envelope. A letra do remetente era ilegivel.

Tão logo chegou ao quarto, rasgou o envelope, impaciente. Várias folhas de papel timbrado com o nome da firma Herrera's Enterprise, se encontravam enroladas em um cheque no valor de...

-- Duas Mil Libras esterlinas!

Que significava aquilo? Nunca havia recebido mais do que algumas centenas de libras do Paí. Devia haver algum engano. O conde era por demais avarento para lhe enviar tal soma. Poncho colocou o cheque na cama e desenrolou as folhas. Um calafrio de apreensão lhe perpassou a espinha quando começou a ler a descrição detalhada do advogado. Em seguida foi tomado por um choque violento. Junto à carta encontrava-se uma cópia do testamento do Conde de Wisckstead. Ñ! Seu pai ñ podia estar morto! Ñ agora que ele estava se transformando em um novo homem.

A última vez que há viu estava gozando de excelente saúde e ninguém em sua familia morria antes dos oitenta ou noventa anos.

Sentou-se a pequena mesa no canto do aposento, acendeu a lamparina para descifrar melhor a caligarfia e se pos a ler o relato de um senhor chamado Gerald MacDonald.

"Lorde Herrera,"

Venho por meio desta lhe informar a mudança que ocorreu no patrimônio de sua familia. Em 29 de maio de 1864, seu paí e Alejandro, o filho primogênito, faleceram em um acidente com o navio em que viajavam. Por volta das duas horas da manhã, uma barcaça abalroou a embarcação, que afundou em alto-mar.

Lorde Alejandro deixa esposa e três filhos, todos beneficiados por uma custódia estabelecida por seu pai há dois anos.

O título e terras do patrimônio do Conde de Wicksted passam automáticamente para o seu nome, como o único herdeiro homem maior de idade...

Poncho pulou duas páginas que explicitavam os bens do paí e ao terminar de ler a quarta folha, rendeu-se ao desespero e deu vazão ao pranto.

É necessário dizer que sua mãe encontra-se profundamente abalada pelos nefastos acontecimentos. É seu desejo mais profundo que o senhor retorne o mais cedo possivel a Wexford, pois isso traria a ela grande alento e segurança.

No agrado de suas decisões a respeito dos assuntos tratados nesta missiva.

Subscrevo-me

"Gerald MacDonald"

Como aquilo podera acontecer com Alejandro?

Ele deveria ser o próximo Conde de Wickstaed. Poncho e o irmão haviam crescido felizes e coatumavam farrear desde a adolescência, até que o paí decidira enviar Alejandro a um Colégio na Inglaterra a fim de adquirír os requisitos para se tornar um nobre rural.

Embora Alfonso tivesse escapado da punição que o paí impusera ao primogênito, tivera de se submeter a rígida disciplina que o Conde havia estabelecido desde a partida de Alejandro. Certa vez, poncho fora visitar o irmão no Colégio e nunca mais tinha retornado. Mais tarde, o Primogênito voltara a Wexford para assumir suas obrigações, e Poncho havia continuado a perambular pelo mundo.

Ainda permanecia sentado com a cabeça enterrada nas mãos quando ouviu uma batida na porta.

-- Entre. - disse, supondo que se tratava do mensageiro do hotel que lhe havia prometido trazer cigarros, uísque e o chá que Maite o havia obrigado a pedir. Sem se virar, ordenou - Deixe a bandeja e saia.

A pessoa que havia entrado clareou a garganta.

-- Sr. Herrera, eu sou oficial de justiça e vim lhe entregar uma ordem de restrição do Juiz Tuner. - Em seguida, estendeu um papel enrolado a Alfonso e saiu.

-- O que significa isso? - gritou ele para o vazio. Com um movimento rápido, desenrolou o papel para ler o conteúdo. Viu o próprio nome escrito no topo da página como réu e abaixo o de Fernando Espinosa como queixoso. Aquele ñ era seu dia de Sorte!

O pai de Dulce o estaria processando? Seus olhos percorreram o primeiro parágrafo. Eatava sendo proibido de se aproximar da residência dos Espinosa e de fazer qualquer tentativa de contatar Dulce.

Poncho rasgou o papel em vários pedaços e os atirou na cesta de lixo. Atravessou o aposento e deitou-se sobre a colcha aínda com ás roupas encharcadas. Passou a mão pelos cabelos úmidos, refletindo a respeito do que acabara de ler.

...

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