-- Enquanto estivermos compartilhando o mesmo espaço, tentarei evitar lhe pedir qualquer coisa, exceto quando for absolutamente necessário.
-- Obrigado. - respondeu ele.
- Farei o maxímo para ficar fora do seu caminho. - continuou ela.
-- Hum, humanos. - Poncho apagou a lamparina e deitou-se do seu lado da cama. A luz do luar que entrava pela janela dava a cabana uma atmósfera misteriosa. Ao tentar dobrar os braços sobre a cabeça, seu cotovelo bateu na prancha de madeira.
Dulce deu uma risada na escuridão.
-- Não achei graça nenhuma sua bruxa.
-- Poderia ter a cama só pra vc se não tivesse me sequestrado. - ela o lembrou.
-- Outro engano. Mais um em uma lista de vários. - disse e ela começou a cantarolar alguma melodías irritantes e a tamborilar os dedos na tábua próxima à cabeça dele.
-- Esta fazendo isso pra mim aborrecer? - perguntou ele erguendo a cabeça.
Dulce o olhou. O luar iluminava suas feições e fazia das mechas de cabelos castanhos uma aureola luminosa. Piscando, ela sorriu com ar inocente.
-- Sei o quanto está cansado, e como não conheço outra cantiga de ninar...
-- Pode dispensar a serenata. - respondeu ele afundando no travesseiro.
-- Estou tentando ser uma esposa amável.
-- Oh, e como...
-- Boa noite, Poncho.
Ele não respondeu. Continuou deitado de barriga pra cima com os braços sobre o peito.
-- Poncho?
-- Droga! O que vc quer? - vociferou ele abrindo os olhos. Dul estava espiando por cima da tábua. Os cabelos soltos caia sobre os ombros como uma cascata e alguns fios sedosos roçaram a garganta dele. - Um homem não pode dormir?
-- Não precisa ser tão rude. Se vamos compartilhar a mesma cama deveriamos pelo menos observar as regras básicas de civilidade, não acha?
-- O que quer dizer com isso?
Ela notou a mão dele tentando afastar seu cabelo. Ela sorriu e jogou o cabelo pra trás. Mas apesar da tentativa aparente de livrá-lo daquele incomôdo, a maior parte dos fios macios e perfumados voltou a atormentá-lo.
-- Devemos conversar sobre assuntos gerais com educação e sinceridade.
Ele agarrou-a pelos cabelos e a puxou até seus rostos ficarem a milímetros uma da outra.
-- Aiii! - Ela protestou, tentando se livrar e evitar ficar careca. Com o movimento, seu torso oscilou e caiu sobre a tábua.
-- Fique no seu lado! - ordenou ele, pertubado pelo forte desejo que o acometeu quando os seios da sedutora Dulce María, iluminados pela luz do luar, entraram em seu campo de visão.
Percebendo a direção do olhar dele, Dulce se deu conta do poder que exercia sobre ele. Em vez de se retirar, exibiu aínda mais o tórax e riu.
-- Não o estou aburrecendo estou?
-- Não... Nem.. Um pouco. - respondeu ele, agora completamente entregue a sua excitação. - Deite-se e fique em silêncio ou vou ter que calar vc de uma vez por todas.
Dul inclinou a cabeça. Sabia que estava andando em gelo fino, mas não pode resistir à tentação de fazê-lo sofrer.
-- Nada do que diz pode me fazer deter.
-- As ações falam mais alto que as palavras, ou já se esqueceu?
O coração dela bateu mais acelerado que o normal no peito.
-- Não, não me esqueci.
-- Então Sra. Herrera Cale a Boca. - ele rosnou aliviado ao vê-la se retirar para seu próprio lado.
Dulce se enroscou como uma bola embaixo do cobertor. Estranhamente afetada pelo modo como ele a chamava de esposa, desejou saber por que aquilo significava pra ele. Por que ele insistía em chamá-la pelo sobrinome dele? Seria porque sabía que isso a aborrecía?
Por fim a curiosidade a fez se manifestar mais uma vez.
-- Poncho? - Não houve resposta, mas ela sabia que ele estava acoradado. Não podia com ela tagarelando como uma maritaca. - Poderia fazer o favor de não me chamar de Sra. Herrera?
-- Esse é seu nome, não é?
-- Não, não é!
-- Sugiro que tente dormir. - Aquilo não se tratava de uma sugestão, mas de uma ordem.
Ela suspirou. Pelo menos ele não a chamara de "senhora" Novamente. Ela fechou os olhos.
-- Boa Noite Poncho. - ele riu.
-- Boa noite Sra. Herrera.
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Casamento Por Acaso
Roman d'amourNevada, 1864. Um Casamento de Mentira... Uma Paixão de Verdade... -- Mimada, linda e esperta, Dulce María Espinosa Saviñon concorda em se casar com alguém que se encaxe nos padrões exigidos por seu Paí: "Um Homem de Verdade", Que ñ tem medo...