Capítulo: 72

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-- Ponha-me no chão neste instante! - gritou ela para o estranho, tentando desviar a face do contato com a barba por fazer.

Porém para o seu pavor, o homem ergueu-a e roçou os lábios, que cheiravam a úisque e cigarro, nos dela. Zonza pelo odor acre pensou que iria vomitar. O que seria bastante oportuno para espantar o sujeito.

-- Seu atrevido! Solte-me imediatamente! - ordenou, chutando-o com toda força com a ponta da bota nova.

Gritando de dor o sujeito a largou.

-- Oh, doçura, eu estava apenas me divertindo.

-- Pois fique bem longevidad de mim!

Naquele instante, mais alguns homens se aproximaram para assistir a discussão. Ela percebeu o olhar de cobiça que todos lhe lançavam. Decidida a ñ demonstrar fragilidade, pegou a bolsa, que havia caido no chão, e marchou decidida ao seu destino.

-- Sra. Herrera? - indagou uma voz masculina baixa e modulada, cheia de surpresa.

Dulce virou-se para encontrar o Padre Manogue.

-- Padre! - exclamou aliviada. - O que faz aquí? - disse e ele sorriu.

-- Outra ovelha perdida. - esclareceu, dando o braço a Dulce. - Eu encontro meu rebanho espalhado pelos mais estranhos lugares.

Ela corou, abaixando o olhar.

-- Nunca me senti tão feliz em encontrar alguém. - disse ela.

-- Para onde esta indo nesse frio e nessa escuridão? - perguntou o padre. - Posso acompanhá-la até sua casa?

-- Oh, ñ padre meu pai me esfolaria se soubesse para onde estou indo.

O pároco apressou o passo, guiando-a pelo centro da cidade.

-- Preciso levá-la a algum lugar.

-- Eu estava indo encontrar meu marido - informou ela. - Mas tomei o caminho errado.

-- Entendo. - disse o Padre com gesto de cabeça. - Um homem interessante seu marido. Encontrei-o ä dois dias.

Dulce se surpreendeu.

-- Verdade?

-- Eu estou bastante preocupado com o casamento de vcs. Se houver uma forma de ajudá-los...

-- Talvez haja. - concordou ela. - Podemos conversar?- Sem consultá-la, o religioso adentrou o saguão do hotel e a levou até o restaurante.

-- Acompanha-me em uma xícara de café?

-- Padre acho que cometi um terrivel erro.

-- Nada que ñ possa ser consertado. - confortou o Padre.

Após abrir o coração ao Padre, Dulce sentiu como se um fardo tivesse sido retirado de suas costas. Estava diaposta a deixar para trás todo remorso pelos votos que fizera sem amor. O religioso também lhe garantiu que Alfonso queria salvar aquele casamento tanto quanto ela.

No balcão da recepção ela se apresentou e perguntou pelo paradeiro de Alfonso. O recepcionista lhe informou que o marido havia entrado e saido durante todo dia. E o fereceu-lhe a chave extra do quarto de Alfonso para ela aguardá-lo lá.

Ela adorou a ideia. Seria uma oportunidade de surpreendê-lo. Após solicitar que enviasse ao quarto jantar para dois e o melhor vinho que possuiam, subiu exultante para o segundo andar, planejando uma noite inesquecível. Seu coração batia descompassado de excitação à medida que caminhava pelo corredor.

O quarto ñ era o mesmo que passara a noite de núpcias, jogando pôquer, mas ficara marcado para sempre como o lugar onde se doara de corpo, mente e espirito ao seu amado.

Foi então que ouviu vozes vindas da escada. Dois homens subiam os degraus como se estivessem carregando uma bagagem pesada. Escondendo-se na curva que o corredor fazia depois do quarto de Alfonso, ela avistou o marido acompanhado de outro homem carregando um pequeno baú e varias bolsas.

-- Obrigado, Merrick. - ela ouviu Poncho dizer.

Ambos trajavam grandes jaquetas de lenhador e chapéus de aba larga que lhes ocultavam os olhos. Ela ñ conseguiu uma boa visão do homem que acompanhava Alfonso.

Ambos pareciam extenuados a medida que arrastavam a carga até a porta do quarto. Poncho encostou dois rifles na parede do corredor e enfiou a mão no bolso a procura da chave.

-- Fique atento. - recomendou Poncho, jogando duas bolsas por sobre o ombro.

O homem chamado Merrick lançou um olhar furtivo ao longo do corredor, e Dulce percebeu que ele mantinha uma das mãos na arma que trazia na cintura.

O que significava tudo aquilo? Ela se perguntou, enquanto escutava os homens levarem a carga para dentro do quarto.

-- Isso é o suficiente. - declarou Poncho. - Amanhã começaremos cedo.

-- Terei a carroça pronta para partirmos assim que amanhecer.

Dulce decidiu permanecer oculta. Talvez o marido estivesse envolvido em algo que ela ñ deveria saber.

Alguns minutos depois a porta do quarto de Alfonso se abriu e voltou a fechar, e passos apressados se afastaram em direção a escada.

Quando se certificou de que os homens haviam partido, ela se esgueirou pelo corredor e ultilizando a chave que o recepcionista lhe dera, entrou no aposento de Alfonso.

A luz tênue da lamparina a gás sobre a mesa lançava luzes sinistras sobre o assoalho. Um par de lonas, dois agasalhos para cavalo e uma rédea haviam sido jogados em um canto do cômodo. Dois rifles se encontravam encostados a paredes junto a várias caixas de cartuchos, machados e uma grande caixa de ferramentas. Duas longas facas fizeram ela tremer por dentro. Aqueles objetos pareciam mais com apetrechos de um homem das montanhas do que de um ator ou até mesmo um madereiro.

Com exceção de duas caixas de livros, ñ havia sinais de um homem civilizado. Tudo indicava um criminoso em fuga! Algo terrivel devia ter acontecido. Por que outro motivo Alfonso teria se equipado com utensilios tão estranhos?

Ela sacudiu a cabeça como para afastar aqueles pensamentos. Estava ali para dizer ao seu marido que queria fazer parte de sua vida. Confessar o amor e a lealdade que lhe devotava. Que seu desejo era passar o resto de sua vida ao lado dele dar-lhe filhos e acompanhá-lo até o fim do mundo se preciso fosse.

E acima de tudo queria que ele a tomasse nos braços e lhe garantisse que aquele estranho equipamento ñ seria parte de suas vidas.

Devia haver uma explicação lógica que justificasse aqueles objetos disse a si mesma. Ñ havia razão para tirar conclusões precipitadas. Teria de... Confiar em Alfonso. Concluiu.

Decidida, levou a sacola ao toalete. Retirou de lá o conjunto de penhoar e camisola e uma escova de cabelo. Começou a se preparar para receber o amor de sua vida. Tudo deveria estar perfeito, pensou, avaliando a própria imagem no espelho.

Para que os estranhos apetrechos espalhados pelo quarto ñ lhe distraissem a mente, apagou a luz da lamparina e adicionou mais uma acha à lareira para aquecer o aposento. O jantar e vinho que havia solicitado chegaram às 20:00hr, e ainda nenhum sinal de Alfonso.

Por fim cansada de imaginar onde estaria o marido, devorou todo o jantar que havia pedido para dois.

Outra hora se passou sem que Poncho retornasse. Dulce começou a vagar pelo quarto. Talvez ñ devesse ter vindo sem avisá-lo.

O que poderia estar atrasando-o?

...

Casamento Por AcasoOnde histórias criam vida. Descubra agora