Capítulo: 33

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Em que fui me meter? Pensou ele parado diante dela. Olhando para as próprias mãos, desejou saber se a vida não se assemelhava a um baralho. Um homem tinha de pegar as cartas que recebia e jogar. Para ganhar ou perder.

-- Me dê sua mãos, Dulce. - Pediu em tom suave. Depois de uma breve hesitação, ela obedeceu, e Alfonso beijou-lhe cada uma das palmas. - peço que me perdoe por ter ido tão longe. - Nesse instante, seus olhares se encontraram e Dulce percebeu uma estranha mistura de pesar e frustação nos olhos dele. - Vc está segura comigo.

-- Eu... Eu sei... - ela respondeu, desejando compreender aquela súbita mudança de humor. Em um minuto Alfonso era agressivo, cínico e seductor, e no outro, intenso e cuidadoso. Naquele preciso instante, parecia tão sério!

Ele puxou as mantas e a levou para a cama.

-- Deite-se. - ordenou gentil. - Precisa dormir um pouco antes de partimos pela manhã. Eu dormirei na cadeira.

Ela o fitou mais confusa que nunca.

-- Alfonso?

Ele sorriu, segurou-a pelos ombros e a fez sentar na extremidade da cama. A seguir, ergueu-lhe as pernas e a deitou, cobrindo-a com a manta até o queixo. Soprou o pavio da lamparina e beijou-a na testa como uma babá faria para confortar uma criança.

-- Boa noite Dulce.

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Eram quase quatro horas da tarde quando a diligência chegou a Strawberry Point.

Grata por uma parada de quarenta minutos enquanto os cavalos eram substituidos, Dulce se rendeu sem resmungar aos braços Fortes que a ergueram do carro.

-- Clemência! - suspirou ela, agarrando-se ao pescoço de Alfonso. - Acho que batemos em todos tocos de árvores e buracos existentes na Estrada.

-- Aquele condutor é um dos melhores. - disse ele, colocando-a no chão. Em seguida, escoltou-a até uma estalagem, onde o condutor, Hank, disse que os viajantes poderiam tomar uma xícara de café grátis. Não era exatamente a oferta mais irresistivel que Dulce já recebeu, mas pelo menos poderia descansar durante alguns minutos.

-- Estarei de volta logo, logo. - informou ele, e cruzou o pátio para ir falar com um homem descalço de calça de brim azul, uma camisa de flanela e um boné de tricô. Ao vê-lo escarrar no chão, Dulce se virou com o estômago embrulhado.

Dois caçadores ou escoteiros, quatro homens de uniforme azul do exército e pelo menos uma dúzia de lenhadores circuladores circulavam pelo pátio. Aproximadamente vinte mulas com mercaderías e alguns cavalos selados aguardavam amarrados na extremidade da clareira.

Era a primeira vez que Dulce se via exposta à vida reduzida às necessidades mais simples. Parecia-lhe incompreensível como as pessoas podiam deixar tudo que o Leste oferecia para morar em um lugar daqueles.

-- Café, madame? - perguntou uma mulher indígena de tranças.

-- Sim por favor. - Dulce tomou assento nas pranchas de madeiras que serviam de bancos. Preocupada, pousou a xícara e perguntou educadamente. - Vc vive aquí?

-- Sim, meu marido é o vaqueiro chefe da Overland Stage. Vivemos aquí há três anos. - explicou a mulher. - E muito felizes.

-- Que bom... - murmurou ela. Na manhã seguinte chegaria a San Francisco, onde todo luxo estaria disponivel para os que podiam dispor dele, pensou. - Obrigada pelo café. - agradeceu, erguendo-se.

-- Já vai partir? - perguntou a India.

-- Não, más quero esticar as pernas e repirar um pouco de ar fresco.

-- Boa sorte! - A mulher sorriu e se dirigiu a pia na bancada de madeira.

Pobre criatura! Não sou a única aquí que precisa de sorte, concluiu ela, erguendo as saias para caminhar. Ela piscou e deu uma olhada ao redor. Poncho estava rindo e brincando com o grupo de sujeitos mais mal-encarados que ela já vira na vida. Então, percebeu que ele havia trocado de roupa. Seu traje não diferia muito dos outros. O que estaria acontecendo? Desejou saber.

De repente Poncho reclinou a cabeça e soltou uma longa baforada de tabaco sobre um largato. O lenhador baixo que Dulce notará ao chegarem bateu amigavelmente nas costas de Alfonso.

-- Olho de Touro! - gritou o homem.

Oh, Santo Deus Alfonso! O fegou Ela, não acreditando naquela súbita mudança de modos. Ele parecia um camaleão.

Como se seu cerebro tivesse enviado uma mensagem telepática ao dele, Alfonso a olhou acenando com a mão, trocou algumas breves palavras com dois dos homens e caminhou em sua direção.

-- Tudo Pronto? - Perguntou.

Ela cruzou os braços e bateu o pé, impaciente.

-- Francamente, Alfonso Herrera, que exibição mais rude! - disse e ele deu de ombros.

-- Na terra onde fores viver, farás como vires fazer, Dulce María.

-- Esse lugar é sujo e repugnante. Ficaria grata se me colocasse de volta naquela carruagem e...

-- Sinto, muito Sra. Herrera. Este é o fim da linha. - informou ele, sabendo que já era hora de lhe contar a verdade.

-- Não me chame assim e pare de brincar! - replicou ela dando-lhe as costas.

Ele a seguro pelo braço.

-- Não vai para San Francisco Dulce. Vc virá comigo.

-- Solte-me agora mesmo! - vociferou ela, lutando contra o aperto possessivo. - Não vou a lugar nenhum com vc!

-- Pense duas vezes Dulce. Vc é minha esposa e irá comigo a onde eu for. E agora, estou de partida para as montanhas. Deve ter me ouvido mencionar Diablo Camp.

-- Isso não faz sentido, Alfonso. Nosso acordo... - Ela respirou fundo e tentou novamente, certa de que aquilo tudo não passava de uma grande piada. - Eu lhe paguei assim que vc me pôs na estação de Virginia City. Estamos kits um com o outro, lembre-se? Vc segue seu caminho e eu o meu certo?

-- Errado. Vc vai comigo pra Diablo Camp.

-- Uma ova que eu vou!

-- Cuidado com o vocabulario Dulce. - ele riu e posou os lábios sobre os dela.

...

Casamento Por AcasoOnde histórias criam vida. Descubra agora