Mas até mesmo um noivo relutante deveria fazer uma boa figura. Vestiu o bonito terno preto bem cortado com uma gravata borboleta também preta por cima da camida de linho branca. Então, olhou-se no espelho e ficou satisfeito com o que viu.
Pronto. Inspecionando os bolsos com cuidado, desceu os degraus.
-- Senhor, encontrarei a Sra. Espinosa e sua filha na igreja. - informou ao patrão e, antes que Fernando pudesse responder, Poncho abriu a porta e saiu.
A noiva também se arrumava minuciosamente para a ocasião. Envergando um vestido de cetim branco, com um profundo decote, Dulce estacou no corredor do andar superior, enquanto a mãe ajeitava-lhe a longa calda, com aplicações de renda e pérolas. Em lugar do tradicional véu comprido, optara por um mais curto e um chapéu de Julieta, igual ao que experimentara no Maguire's Opera House.
-- Vc está linda meu amor! - disse Blanca beijando a filha e depois secou as lágrimas lembrando do próprio casamento.
Segurando a mão da mãe, Dul sentiu uma pontada de culpa por não compartilhar seu segredo com ela
Mas não podia estragar a felicidade da mãe. Na realidade achava difícil não participar do seu entusiasmo, que era tão contagioso.-- O que foi? - perguntou.
-- Seu paí estará pronto em um minuto querida. Vou conferir se os detalhes da recepção estão sob controle. - Blanca desceu os degraus com o roçar agitado das saias que Dulce sempre associara a sua delicada mãe.
-- Sentirei sua falta mamãe. - disse ela, afastando depressa o súbito desejo de chorar.
Dirigiu-se à janela e avistou Alfonso além da metade do quarteirão. Ele caminhava apressado, como se pretendesse que suas pernas cobrissem uma longa distância em um curto espaço de tempo.
Oh, não vc não fará isso Alfonso! O temperamento de Dulce chamejou. Alfonso parecia um elegante fugitivo.
Ergueu o vestido e desceu os degraus aos pulos, sem se preocupar com sua segurança. Os sapatos acetinados pareciam dezlizar e só reduziram a velocidade quando ela se deparou com o paí no fundo da escada.
-- Papai estou pronta! - anunciou, passando ao redor dele e se dirigindo a pesada porta da frente. - A menos que se apresse eu irei sem o senhor. - dizendo isso, Ela abriu a porta e se dirigiu a varanda.
-- Calma filha! Por que a pressa? - indagou o pai, movendo-se mais rápido do que de costume até alcança-la para fazê-la parar.
-- Ele esta fugindo! - gritou ela. Mordendo o lábio, esticou o pescoço a tempo de ver Poncho contornar uma esquina.
-- Nós o alcançaremos. - assegurou-lhe o pai com uma risada. Nunca vira a filha tão ansiosa para cumprir ás suas ordens! - temos que esperar por sua mãe.
Com os braços cruzados, ela tamborilou os dedos nas mangas.
-- Isso foi ideia sua papai. Se algo der errado, eu o responsabilizarei pessoalmente.
Fernando berrou por Blanca.
-- Traga sua sombrinha Blanca. - aconselhou, acendendo um charuto. - Parece que o sol voltou com força total.
-- Não me apresse. - disse a esposa ao se juntar a eles. - Onde esta a carruagem?.- perguntou esperançosa.
A face de Fernando ficou corada de aborrecimento.
-- Pelo amor de Deus mulher! A Igreja fica apenas a algumas quadras daqui. Quem precisa de uma carruagem em um dia explendido como este.?
Blanca fitou o marido com um olhar compassivo e o alcançou para endireita-lhe a gravata.
-- Não fica bem a noiva chegar a pé a Igreja. A etiqueta pede uma carruagem. Francamente, Fernando, onde foram parar os seus modos?
-- Não vejo nada errado em Caminhar. - os lábios dele se curvaram num sorriso lascivo. - Suponho que a etiqueta também ñ aconselhe uma noiva escolher um noivo entre um bando de bêbedos deitados na sarjeta da C Street.
-- Fernando Espinosa, abaixe sua voz! - guinchou Blanca, golpeando o marido com a sombrinha. - Caso contrario, estaremos arruinados na sociedade!
Com uma carranca, Dulce observou a rua vazia. Poncho não se encontrava mais a vista. E pelo jeito, seus pais estariam ocupados tentando resolver suas diferenças domésticas pelos próximos duzentos anos. Teria de agir rápido ou sofreria así consequências para o resto da vida.
-- Estou indo. - anunciou e saiu correndo.
-- qualquer um pensaria que estaria morrendo de pressa de se casar.
Os pés de Dulce estacaram. Deu uma olhada ao redor, endireitou o chapéu de Julieta, tentando localizar a voz que a atormentava.
Com um sorriso torto na face, Alfonso surgiu dos fundos do pórtico da Igreja, com as mãos no bolsos.
O insulto deixou ela enfurecida. Largando as saias do vestido, ela ajustou as plumas do decote para cobri-lhe os seios.
-- Não estou com pressa.
-- Nunca conheci alguém tão contraditório. - admitiu Alfonso com um sorriso largo e sensual. - Corre como uma criança levada e se veste como uma duquesa. Santo Deus! Está mesmo Encantadora, Dulce María Espinosa Saviñon.
-- Não sabe que dar azar ver a noiva antes do casamento? - Ela então passou por ele em direção a Igreja.
Alfonso a seguiu dando um bocejo teatral.
-- Em geral, são certas pessoas de cabelos castanhos claros que dão azar. - observou Poncho num tom casual.
Ela não estava disposta a deixar aquela observação impune, mas não podia desconsiderar o ambiente onde se encontravam.
Arrastando-o pelo braço, ela o conduziu até um nicho escuro, onde poderiam falar reservadamente.
xxx
VOCÊ ESTÁ LENDO
Casamento Por Acaso
RomanceNevada, 1864. Um Casamento de Mentira... Uma Paixão de Verdade... -- Mimada, linda e esperta, Dulce María Espinosa Saviñon concorda em se casar com alguém que se encaxe nos padrões exigidos por seu Paí: "Um Homem de Verdade", Que ñ tem medo...