-- E aínda sim, ele me deixou embarcar nesse maldito casamento? - Que humilhação! Pensou ela. Todos os esforços que empregara para enganar o pai haviam sido em vão!
-- Foi traida pela sua própria impetuosidade. - afirmou a mãe em tom suave, enquanto derramava o liquido nas xicaras.
-- Suponho que isso me poupe de ter de explicar o que aconteceu. - disse ela.
-- Como assim? Estou curiosa! O que vcs tem feito desde que se despediram de nos no Hote. - quis saber Blanca voltando a sala de visitas com a bandeja nas mãos.
Dul deixou-se afundar no sofá em frente a mãe e contou sobre todos os acontecimentos que se sucederam desde sua partida. Porém durante o relato, concluiu que a estardia no acampamento ñ havia sido tão ultrajante. Afinal, aprendera a cozinhar. E por fim, acabou descrevendo animada como os madereiros apreciaram seu assado de carneiro.
Consultando o relógio da sala, Blanca ergueu-se em um impulso. Caminhou apressada até a cozinha e retirou a carne assada do forno. Quando retornou, acomodou-se ao lado da filha.
-- Pelo que posso perceber vc se adaptou muito bem a nova situação. Seu pai ficará orgulhoso. - Declarou a mãe. - Mas quase ñ mencionou sua vida com Alfonso.
Chegara o momento da verdade, pensou Dulce dando de ombros.
-- Ele salvou a minha vida no incêndio claro... Depois me arrastou para a caverna e fizemos amor por dois dias. Findos os quais eu pedi o divórcio e...
-- Espere! - Blanca ergueu mão repleta de joias para interrompê-la. - Fizeram Amor? Presumo, pelo que me contou até agora, que foi a primeira vez.?
Dulce anuiu corando intensamente ante a lembrança do que experimentara na caverna.
-- Sim, más repetimos varias vezes.
Blanca observou ás folhas do chá em sua xicara com um sorriso misterioso.
-- E vc gostou?
-- Mamá!
-- Ah, confesse que gostou! - A mãe riu ante a expressão escandalizada de Dulce. - É natural, querida. Eu entendo desse assunto.
Só então Dulce percebeu quão renovada e feliz estava Blanca.
-- Poncho é muito experiente e mundano.
-- Assim como seu paí quando nos casamos. - recordou a mãe, sonhadora. Em seguida, endereçou um olhar inquisitivo a filha. - Há algo que ñ entendi. Vc e o seu homem das cavernas. - Começou rindo. - Fizeram amor, o que parece ter lhe agardado bastante. Então por que pediu o divórcio?
-- Ñ se faça de desentendida mamãe. - disparou ela exasperada. - Poncho e eu temos um acordo. O casamemto ñ deveria ter sido consumado.
Blanca deixou escapar um longo suspiro.
-- Ñ vejo como poderá conseguir o divórcio. Porque ñ aceita o fato de que a natureza seguiu seu curso e que está casada com um homem encantador?
-- Nunca pensei que minha própria mãe iria se virar contra mim! - exclamou indignada. - Eu disse a Alfonso que... Bem, já que é tarde para pedir a anulação, insisto no divórcio.
Um silêncio pesado pairou entre ambas. Blanca pousou a xícara e estudou a bela filha. Pela primeira vez se deu conta de que havia cometido um erro em criar Dulce sem o pulso firme do pai.
-- Acho que tudo que tem que fazer é pedir desculpas a seu marido.
-- Oque? Restejar? - Os lábios dela se comprimiram em uma linha fina.
-- De joelhos, se necessário, mocinha. - declarou a mãe com o olhar repleto de dignidade. - Seu paí e eu passamos por momentos dificeis, até mesmo pecamos um contra o outro, mas nunca mencionamos o divórcio!
Dulce pareceu congelar perplexa diante da reprimenda.
-- Sei que papai se encontrava com outra mulher, más a senhora...
Blanca meneou a cabeça em negativa.
-- Nunca permiti que outro homem se interpusesse no meu casamento, porém ñ sou uma santa. - foi a vez da mãe comprimir os lábios. - Uma mulher se sente sozinha depois de alguns anos. Más graças a Deus, caimos em nos a tempo! - o relógio na cornija da lareira balançou, alertando Blanca para a chegada iminente do marido. - Dulce, ñ quero vê-la jogar pela janela sua chance de ser feliz.
Dulce envolveu os joelhos com ás mãos, balançando para frente e para trás no sofá.
-- É tarde demais. Nesse exato momento, ele está com a amante no hotel.
-- Como sabe disso?
-- Vi os dois se beijando na frente de todo mundo da cidade. - revelou com a voz embargada.
-- Talvez tenha interpletado a situação de modo errado. - ponderou a mãe.
-- Ele quer que eu pense que aquela ousada mulher é apenas uma velha amiga. - declarou ela. - É uma mulher casada, mamãe e me tomou o marido em um passe de mágica.
Deus! Aquilo ñ podia ser verdade, pensou Blanca, pressionando os lábios contra a testa da filha. Precisava saber o que Dulce sentia por aquele homem. Ela sempre foi uma moça sensata. Para se encontrar naquele estado deplorável, sentimentos profundos deviam estar envolvidos.
-- Como se sentiu quando os viu juntos?
-- Tive vontade de arrancar os olhos daquela sirigaita! - vociferou ela com os olhos brilhando de indignação. - Ela é tão bonita e sofisticada! Eu quis morrer naquela hora.
-- O que sente por Alfonso? - insistiu a mãe.
-- Eu o odeio! Ele fez amor comigo e eu... - ela ergueu os lindos olhos castanhos mel repletos de lágrimas. - Tive esperança de... - Enterrou o rosto no ombro de Blanca e deu vazão ao pranto.
-- Oh, vc o ama! - exclamou a mãe, compreensiva. Em seguida, tomou a filha nos braços, acariciando-lhe os cabelos. - Teve um acesso de ciúmes querida. E ninguém nutri tal sentimento por alguém que lhe é indeferente. - Erguendo o queixo da filha, a olhou nos olhos. - Vc ama seu marido.
-- O que farei? - indagou Dulce, aínda soluçando.
-- Meu Deus! Foi essa a primeira pergunta que fez quando abri a porta. - Lembrou Blanca sorrindo, indugente e entregando um lenço a filha.
-- Mesmo que eu o ame, ele está com aquela tal de Maite Perr... Sei lá oque! É uma atriz, e Ele inventou a desculpa que iria ajudá-la nos serviços de bastidores.
Os olhos de Blanca se dilataram de surpresa.
-- Maite Perroni? Oh minha querida tem uma poderosa oponente! Ela estará se apresentando no teatro essa noite. - Blanca se inclinou para pegar a bandeja. - Venha até a cozinha. Conversaremos enquanto acabo de preparar o jantar.
Envolta do robe de seda de Blanca, Dulce observava ás chamas crepitarem da lareira. Ambas haviam queimado o vestido de lã rasgado e também brindando ao plano da mãe. Em seguida, cada uma tomou seu rumo.
A Sra. Espinosa voltou a atenção aos últimos preparos do jantar, e Dulce afundou na banheira de água tépida, desfrutando ás delicias de um banho de espuma no aposento contiguo a cozinha.
Enquanto esperava para que Blanca a ajudasse a lavar os cabelos, sorveu o segundo cálice de vinho do porto da adega do paí. A bebida lhe dava coragem para seguir os planos da mãe para aquela noite.
Momentos mais tarde, o pai chegou em casa, caminhando apressado pelo hall e chamando o nome da esposa em tom lânguido. Em seguida, ouviu Blanca se precipitar em direção ao marido para comprimentá-lo com um beijo longo e apaixonado. Era estranho, depois de tantos anos, ouvir risada cúmplice em vez de silêncio constrangedor entre os dois.
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Casamento Por Acaso
RomanceNevada, 1864. Um Casamento de Mentira... Uma Paixão de Verdade... -- Mimada, linda e esperta, Dulce María Espinosa Saviñon concorda em se casar com alguém que se encaxe nos padrões exigidos por seu Paí: "Um Homem de Verdade", Que ñ tem medo...