Capítulo: 54

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-- Onde Diabos acha que eles se meteram? - tremendo de frío dentro do vestido rasgado, ela olhou para desoladora paisagem. Do outro lado do lago havia uma pequena ilha com árvores crescendo, intocadas pelo fogo.

-- Talvez tenham nadado até a ilha. - surgeriu ela. Como a confirma suas suspeitas, ouviram o relinchar de um cavalo vindo daquela direção.

-- Oláaaaa! - repetiu ele, utilizando toda força dos pulmões.

Um segundo mais tarde, um tiro de rifle foi a resposta que eles ansiavam por ouvir.

Olhos de Dulce brilharam de satisfação ao fitar o marido.

-- Não estamos mais sozinhos.!

Poncho entrou no lago mais uma vez e encheu a garrafa de água.

-- Espero que tenha alguma comida com eles. Acho que merecemos uma refeição aquecida. - disse ele.

-- Herrera! É vc? - um grito se fez ouvir da ilha.

-- Sim sou eu! - respondeu tentando reconhecer a voz. - Aarón?

-- Sim! Fiquem ai. Mandarei um barco.

Logo em seguida, dois homens arrastaram um barco de trás de uma moita. Um entrou nele e se pôs a remar.

-- É Bobbie White Feather! - exclamou ela, agarrando-se ao braço do marido.

Poncho inclinou a cabeça para discenir os sentimentos que perpassavam o semblante feminino. Ela chorava e ria ao mesmo tempo. Quando se deu conta do olhar sério de Poncho, ela comprimiu o rosto contra o braços forte, limpando as lágrimas na manga da camisa que o cobria.

-- Desculpe-me. - disse constrangida.

-- Quem não ficaria feliz por ser resgatado? - retrucou ele, retirando a jaqueta e colocando-a sobre o ombro dela. - Use isso.

Ela o fitou, estupefata.

-- Mas vc vai precisar do agasalho. O vento...

-- Cubra-se Dulce. - ordenou ele. - Ou quer agradar os olhos dos madereiros? - continuou pousando o olhar corpete rasgado do vestido dela, que corou de vergonha, enquanto o marido abotoava a confortavel jaqueta em torno de seus ombros. - Devo-lhe muito, inclusive a minha vida. - declarou ele. - Acho que isso empata o placar.

-- O que quer dizer? - indagou ela, deguindo-o pela margem do lago.

Ele não se virou para encará-la.

-- Não honrei o nosso acordo. Desculpe-me. - disse ele. - Mas não se preocupe. Vou lhe pagar cada moeda que lhe devo.

As palavras a atingiram como um soco no estômago. Deus! Estava certa. Não significava nada para ele. Porém não esperava que a verdade doesse tanto.

Poncho acenava de forma vigorosa para o sorridente indio, quando o barco se aproximou da margem.

-- Aquí, Bobbie!

Em seguida ambos entraram no lago e ajudaram Bobbie a levar o barco para a outra margem.

A medida que o barco avançava pela água poluida, tentando não estacar no espesso limo, Dulce lutava contra o tremor que a agitava por dentro. Temia o que estava por vir. Por que mencionara o divórcio? O que a fez dizer aquelas coisas? Odiava-se por cada palavra que havia atirado no rosto de Alfonso. Não queria dizer tudo aquilo. Tinha sido apenas uma forma de salvar o próprio orgulho.

-- Dul? - A voz do marido a arrancou do desvaneios. - Atracamos me da sua mão.

Ao erguer os olhos marejados, ela observou os lábios de Poncho se contrairem de impaciência por sua inércia. Para evitar que ele lhe chamasse a atenção, ela se levantou cabaleante e quase tropeçou na borda do barco, não fosse por braços fortes e firmes a segurou-a pela cintura em movimento rápido.

-- Não, Alfonso. - disse ela em tom suave, evitando o olhar inquisitivo do marido. Afastou-se apressada, não suportando estar nos braços do homem que não a amava.

Tentando dispersar a frustração, encaminhou-se na direção do grupo de homens esfarrapados que a esperavam para cumprimentá-los.

-- Que alivio vê-los todos bem. - disse ela sorrindo e apertando as mãos dos homens.

-- Todos menos Joe Burns e Mickey Bannon -- madame. - informou Jansen, lançando um olhar desolado a Alfonso.

Quando chegaram no local onde os homens haviam montado a campamento, Dulce sentiu-se aliviada ao constatar que o cenário era melhor do que previra. Os madereiros haviam cortado árvores e providenciado abrigos temporários.

Poncho se afastou e se abaixou ao lado de Jeffers, que estava gravimente ferido por um tronco que a equipe que estava cortando árvores havia deixado cair sobre ele quando pressentiram o incêndio.

Após se interar do que acontecera o madereiro, deixou-o aos cuidados dos amigos Bobbie e Hoss e se encaminhou ao local onde Raimey estava sentado com Miau, a gata de Dulce, no colo.

-- Como vai a perna? - perguntou Poncho.

-- Sarando lentamente. E o inverno esta no ar. Posso senti-lo.

-- Fique tranquilo, tiraremos vc daqui antes que caia a neve. - E apontando para a gata: - Importa-se de me emprestá-la por um tempo?

-- Claro que não.

Quando Poncho colocou a gata sobre o colo de Dulce, os olhos castanhos dela brilharam de alegria.

-- Oh, Poncho! Vc a achou! - Em um impulso, ela se ergueu e o beijou.

-- Achei que uma caçadora de camundongos seria de grande valia. - disse ele, afastando-se em seguida.

Naquela noite, sentado próximo ao fogo, Poncho se pós a conversar com os madereiros. O assunto girava inevitavelmente em torno da preocupação dos homens com suas familias.

Escutando-os atento, percebeu que muito da tensão que os assolava paderia ser eliminada.

-- Tão logo encontremos a locação ideal para uma serraria, talvez possamos construir algumas casas em vez de barracos, e assim acomodar suas esposas. O que acham?

A pergunta suscitou uma discussão acalorada entre solteiros e casados. Aarón, o capataz, tentou apaziguar os ânimos. Temia alimentar a esperança daqueles homens e depois Fernando não liberar a verba necessária ao projeto.

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Casamento Por AcasoOnde histórias criam vida. Descubra agora