Capítulo: 36

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Dulce  se aproximou. Seu estômago se encontrava em tal estado que teria comido um urso, se o pobre animal tivesse aparecido no acampamento.

-- Dulce, esse é Jansen. - Alfonso indicou o sujeito descalço a quem os homens da caravana se submetiam abertamente.

-- Madame. - O sorriso estreito de Jansen não lhe alcançou os olhos. O sujeito considerava azar ter mulheres no acampamento. Elas deviam ficar em casa, lugar a que pertenciam. - Isso não é da minha conta. - disse se dirigindo-se a Alfonso. - Mas tem idéia de onde está metendo a sua esposa? Sería melhor que os homens esquecessem as mulheres até  chegar à cidade na primavera.

-- Posso controlar isso. - respondeu Poncho em tom calmo. - Minha esposa não se afastará dos arredores do acampamento, eu garanto.

-- Hum... Estive pensando, Rodríguez, que tal se lhe cedêssemos a cabana do desbastador quando chegarmos ao acampamento?

Rodríguez? Ela arqueou as sobrancelhas. Seu Marido de mil facetas teria um pseudônio? Mas em seguida, lembrou que ele usara Rodríguez como o último nome durante a cerimônia de casamento.

Forçando um sorriso, ela falou para Jansen:

-- Por favor, não incomode ninguém por minha causa.

-- Não será incômodo nenhum.

-- Oh... Bem... Nesse caso, se o Sr. Herrera concordar por mim tudo bem. - ela tentou não demonstrar o quanto repugnava a idéia de compartilharem uma cabana.

Poncho então passou o braço ao redor do pescoço da esposa e a abraçou.

-- Tenho certeza que podemos sobreviver em qualquer lugar.

Depois de formalidades todos se calaram e comeram.

Dulce ingeriu a comida de pressa para se fortalecer e enfrentar a longa noite que teria pela frente. Seus músculos estavam tensos e a perspectiva de seguir viagem pela manhã. Montada naquela mula, a deixou desanimada. Mas era inevitável. Ouvirar os homens falarem sobre alcançar Diablo Camp na tarde do dia seguinte. O nome do acampamento era bem adequado, levando em conta que seu companheiro o escolhera para viver.

Alfonso comeu com os homens, fumou um charuto e se uniu a eles por algum tempo em uma elegre brincadeira.

O maldito colocava uma máscara para cada ocasião, pensou ela, sombría, sentada em um tronco de árvore.

-- Sra. Herrera. - Chamou ele de repente. - Que tal ajudar Al com os pratos?

Ela ergueu o queixo.

-- Deve está equivocado, querido Rodríguez. - disse com um débil sorriso nos lábios. - Minhas habilidades com o trabalho domésticos são lendárias... Ou meu pai não lhe falou sobre o quanto sou inútil?

Poncho apontou para Al, o cozinheiro.

-- Sem desculpas, minha querida. Todo mundo nesta caravana trabalha para comer e isso inclui vc.

Sua carranca autoritária quase se perdeu quando ela lhe olhou com desdenho. Era uma jovem magnífica, ele pensou. Mas não podia deixá-la continuar com aquela rotina de pirralha mimada. Os homens o estavam avaliando. Se não podesse dobrar a esposa, sabia que enfrentaria dificuldades para fazê-los trabalhar também.

Os olhos dos dois se enfrentaram. O acampamento ficou em silêncio e ela sabia que o marido estava esperando. Poncho cruzou os braços sobre o peito e trocou a posição das pernas.

-- Certo, eu não faria nada que desagradasse a meu marido não é? - concordou cínica, levantou-se e Caminhou em direção a bacia de pratos.

Os madereiros tomaram fôlego com um suspiro audivel. Poncho tinha voz ativa com a mulher e isso o deixava em ótima Posição com a turma inteira.

-- Lembre-me de colocá-la na folha de pagamento Dulce. - disse ele, dando-lhe um tapinha brincalhão quando ela passou  por ele.

-- Estou com medo. Nunca fiz isso antes. - confidenciou ela ao cozinheiro.

Al lhe dirigiu um sorriso desdentado e pegou a esponja.

Para imenso alivio de Dulce, lavar louça não requeria um talento excepcional. Era só molhar e esfregar.

Al se virou e se afastou após esfregar uma chaleira grande. Erguendo a bacia, lançou a água na escuridão do mato. De volta fixou a panela com um tinido ressonante, no toco que usava como mesa de trabalho.

-- Tem água quente no fogo madame. Pode usá-la.

Dulce decidiu por os flocos de sabão primeiro e então jogou água por cima. Com cautela, ergueu a pesada penela de ferro da fogueira e tornou a encher a bacia. Uma tarefa simples, mas quando terminou de esfregar e enxugar os pratos sentia um pequeno senso de realização. Então seguindo o exemplo do cozinheiro, arremessou a água nos arbustos.

-- Jesús, María José! - Veio um grito da escuridão. - Um sujeito não pode nem sequer se aliviar, sem ser escaldado até a morte?

A reclamação do homem foi seguida pela risada dos companheiros, que começaram a especular sobre os efeitos da água quente poderia causar à vida amorosa da pobre criatura.

Dulce desejou que o chão se abrisse e a engolisse.

-- Eu... Eu sinto... Muito. - garguejou. Transtornada, jogou o pano de prato no chão e mergulhou na escuridão a procura de Alfonso. Pelo menos o vocabulário dele era melhor do que o daqueles madereiros!

Com a pressa, tropeçou sobre uma estaca de barraca, machucando o dedo do pé.

-- Alfonso? Onde vc está? - sussurrou frenética, pulando em uma perna só. não queria cometer outra gif entrando na barraca errada.

De repente, certa mão sirgiu da escuridão e a agarrou.

-- Estou aquí. - respondeu ele a puxando para o meio da floresta.

-- Para onde estamos indo? Pare por favor. Não consigo enxergar nada!

-- Ficaremos afastados dos outros viajantes. - comentou ele, parando tão de repente que ela quase colidiu com suas costas.

-- Tem certeza que é seguro? - indagou ela. - Quero dizer... Refiro-me aos animais selvagens.

...

Casamento Por AcasoOnde histórias criam vida. Descubra agora