Dulce se aproximou. Seu estômago se encontrava em tal estado que teria comido um urso, se o pobre animal tivesse aparecido no acampamento.
-- Dulce, esse é Jansen. - Alfonso indicou o sujeito descalço a quem os homens da caravana se submetiam abertamente.
-- Madame. - O sorriso estreito de Jansen não lhe alcançou os olhos. O sujeito considerava azar ter mulheres no acampamento. Elas deviam ficar em casa, lugar a que pertenciam. - Isso não é da minha conta. - disse se dirigindo-se a Alfonso. - Mas tem idéia de onde está metendo a sua esposa? Sería melhor que os homens esquecessem as mulheres até chegar à cidade na primavera.
-- Posso controlar isso. - respondeu Poncho em tom calmo. - Minha esposa não se afastará dos arredores do acampamento, eu garanto.
-- Hum... Estive pensando, Rodríguez, que tal se lhe cedêssemos a cabana do desbastador quando chegarmos ao acampamento?
Rodríguez? Ela arqueou as sobrancelhas. Seu Marido de mil facetas teria um pseudônio? Mas em seguida, lembrou que ele usara Rodríguez como o último nome durante a cerimônia de casamento.
Forçando um sorriso, ela falou para Jansen:
-- Por favor, não incomode ninguém por minha causa.
-- Não será incômodo nenhum.
-- Oh... Bem... Nesse caso, se o Sr. Herrera concordar por mim tudo bem. - ela tentou não demonstrar o quanto repugnava a idéia de compartilharem uma cabana.
Poncho então passou o braço ao redor do pescoço da esposa e a abraçou.
-- Tenho certeza que podemos sobreviver em qualquer lugar.
Depois de formalidades todos se calaram e comeram.
Dulce ingeriu a comida de pressa para se fortalecer e enfrentar a longa noite que teria pela frente. Seus músculos estavam tensos e a perspectiva de seguir viagem pela manhã. Montada naquela mula, a deixou desanimada. Mas era inevitável. Ouvirar os homens falarem sobre alcançar Diablo Camp na tarde do dia seguinte. O nome do acampamento era bem adequado, levando em conta que seu companheiro o escolhera para viver.
Alfonso comeu com os homens, fumou um charuto e se uniu a eles por algum tempo em uma elegre brincadeira.
O maldito colocava uma máscara para cada ocasião, pensou ela, sombría, sentada em um tronco de árvore.
-- Sra. Herrera. - Chamou ele de repente. - Que tal ajudar Al com os pratos?
Ela ergueu o queixo.
-- Deve está equivocado, querido Rodríguez. - disse com um débil sorriso nos lábios. - Minhas habilidades com o trabalho domésticos são lendárias... Ou meu pai não lhe falou sobre o quanto sou inútil?
Poncho apontou para Al, o cozinheiro.
-- Sem desculpas, minha querida. Todo mundo nesta caravana trabalha para comer e isso inclui vc.
Sua carranca autoritária quase se perdeu quando ela lhe olhou com desdenho. Era uma jovem magnífica, ele pensou. Mas não podia deixá-la continuar com aquela rotina de pirralha mimada. Os homens o estavam avaliando. Se não podesse dobrar a esposa, sabia que enfrentaria dificuldades para fazê-los trabalhar também.
Os olhos dos dois se enfrentaram. O acampamento ficou em silêncio e ela sabia que o marido estava esperando. Poncho cruzou os braços sobre o peito e trocou a posição das pernas.
-- Certo, eu não faria nada que desagradasse a meu marido não é? - concordou cínica, levantou-se e Caminhou em direção a bacia de pratos.
Os madereiros tomaram fôlego com um suspiro audivel. Poncho tinha voz ativa com a mulher e isso o deixava em ótima Posição com a turma inteira.
-- Lembre-me de colocá-la na folha de pagamento Dulce. - disse ele, dando-lhe um tapinha brincalhão quando ela passou por ele.
-- Estou com medo. Nunca fiz isso antes. - confidenciou ela ao cozinheiro.
Al lhe dirigiu um sorriso desdentado e pegou a esponja.
Para imenso alivio de Dulce, lavar louça não requeria um talento excepcional. Era só molhar e esfregar.
Al se virou e se afastou após esfregar uma chaleira grande. Erguendo a bacia, lançou a água na escuridão do mato. De volta fixou a panela com um tinido ressonante, no toco que usava como mesa de trabalho.
-- Tem água quente no fogo madame. Pode usá-la.
Dulce decidiu por os flocos de sabão primeiro e então jogou água por cima. Com cautela, ergueu a pesada penela de ferro da fogueira e tornou a encher a bacia. Uma tarefa simples, mas quando terminou de esfregar e enxugar os pratos sentia um pequeno senso de realização. Então seguindo o exemplo do cozinheiro, arremessou a água nos arbustos.
-- Jesús, María José! - Veio um grito da escuridão. - Um sujeito não pode nem sequer se aliviar, sem ser escaldado até a morte?
A reclamação do homem foi seguida pela risada dos companheiros, que começaram a especular sobre os efeitos da água quente poderia causar à vida amorosa da pobre criatura.
Dulce desejou que o chão se abrisse e a engolisse.
-- Eu... Eu sinto... Muito. - garguejou. Transtornada, jogou o pano de prato no chão e mergulhou na escuridão a procura de Alfonso. Pelo menos o vocabulário dele era melhor do que o daqueles madereiros!
Com a pressa, tropeçou sobre uma estaca de barraca, machucando o dedo do pé.
-- Alfonso? Onde vc está? - sussurrou frenética, pulando em uma perna só. não queria cometer outra gif entrando na barraca errada.
De repente, certa mão sirgiu da escuridão e a agarrou.
-- Estou aquí. - respondeu ele a puxando para o meio da floresta.
-- Para onde estamos indo? Pare por favor. Não consigo enxergar nada!
-- Ficaremos afastados dos outros viajantes. - comentou ele, parando tão de repente que ela quase colidiu com suas costas.
-- Tem certeza que é seguro? - indagou ela. - Quero dizer... Refiro-me aos animais selvagens.
...
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Casamento Por Acaso
RomansaNevada, 1864. Um Casamento de Mentira... Uma Paixão de Verdade... -- Mimada, linda e esperta, Dulce María Espinosa Saviñon concorda em se casar com alguém que se encaxe nos padrões exigidos por seu Paí: "Um Homem de Verdade", Que ñ tem medo...