Capítulo: 37

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-- Os únicos animais selvagens com o quais deve se preocupar são aqueles homens.

-- Pare Alfonso! - Ela empacou. - Preciso...  Bem, não sei como lhe dizer... Os homens não são os únicos a responderem ao chamado da natureza.

- Ora, por que não disse isso antes? Venha.

Poncho começou a se livrar de um emaranhado de galhos.

-- Vc não pode vir comigo. - disse ela. - Vá embora, espere perto da barraca.

Ele riu.

-- Tem certeza de que consegui encontrar o Caminho de volta sozinha?

-- Eu me viro. - ela respondeu e no momento seguinte, caiu sobre uma raiz de árvore. Poncho foi até a moita e a ajudou a se erguer. Mordendo a lábio para abafar a dor de um joelho ralado, ela ficou feliz por não ter um espelho para conferir sua aparência miserável. - pode ir agora.

Dulce esperou até se certificar de que o marido tinha se afastado por uma boa distância. Ao retornar, caminhando por entre os arbustos, sentir a presença dele.

-- Eapero que não tenha se sentado em nenhuma urtiga. - zombou Poncho.

-- Oh, vc adoraria não é? - rebateu ela e sem mais cerimônia rastejou até a pequena barraca. Tateando ao redor, localizou uma coberta sobre alguns ramos de pinhos. O aroma era inesperadamente fresco e convidativo. Entretanto, segundos depois percebeu que não estava só. - Espere um minuto! Vc não pode entrar aqui. - Desesperada, tentou se erguer, mas o braço forte de Alfonso a envolveu pela cintura, a fazendo deitar de volta.

-- Estou apenas lhe provendo um pouco de calor humano Sra. Herrera. - sussurrou ele em seu ouvido.

-- Por favor... - Ela umedeceu os lábios, feliz pela escuridão esconder sua face totalmente vermelha. - Não... Me toque Alfonso.

Ela tremia nos braços dele como folhas em uma ventania.

-- Se eu não dormir aquí, Dulce quanto tempo acha que levará para esses madereiros barulhentos decidirem lhe fazer uma visita? - perguntou ele.

-- O que eu lhe Fiz? - Quis saber Ela, que se encontrava aninhada no reconfortante calor dos braços do marido. De imediato, suas narinas detectaram o cheiro masculino misturado ao odor lânguido de couro, fumaça e madeira. Aturdida, lutou para por um pouco mais de distância entre ambos, mas Poncho a puxou e abraçou-a com força contra o peito.

Ela se manteve acordada o máximo que pode. Todos os sons da noite, como a serenata de um coiote em uma colina próxima, chegava aos seus ouvidos. Por fim, não pode mais resistir. Aconchegando-se no abraço morno de seu pior inimigo, mergulhou em sono profundo.

            XXX

-- Acorde dorminhoca!

Ela empurrou a mão que intencionava atrapalhar seu sono.

-- Me deixe dormir. - protestou, rolando sobre o estômago.

Ele a sacudiu outra vez.

-- Ande, vc é a ajudante do cozinheiro. Agora levante ou terei que levantá-la e atirá-la no riacho.

Ela o encarou por entre os cachos castanhos e gemeu. Oh Deus venderia sua alma para não por mais os olhos naquele homem novamente.

-- Não fique me dando ordens. - adivertiu ela. - Posso ser sua prisioneira, mas não sou sua escrava!

-- Está enganada. - informou ele a empurrando para fora da barraca. - Ela caiu de quatro sobre o solo arenoso. - facilite ás coisas para si mesma. Se trabalhar come. Caso contrario... - O resto da ameaça ficou no ar.

-- Se me deixar levantar... Talvez possamos conversar como duas pessoas civilizadas.

-- Com prazer. - disse ele, afastando para o lado. Ela se ergueu e lhe desferiu um soco no estômago. Suas juntas rangeram de dor, mas não lhe daria a satisfação de saber quanto aquilo lhe custou.

-- Já estou lhe devendo três, Dulce María Herrera.

-- Por que parar no três? - perguntou ela enfurecida, erguendo-se e acertando outro soco dessa vez no maxilar.

-- Maldição, Mulher! - Ele se esforçou para contê-la e ambos acabaram caindo no chão. Em uma luta furiosa, rolaram de um lado para outro, levantando uma nuvem de poeira. Dulce o chutou e o insultou, chamando os piores nomes que conhecia.

Conseguindo prendê-la pelos braços, ele a segurou pelo queixo e lhe beijou, um beijo longo e profundo. Agora sabia qual modo mais rápido de subjugá-la... De imediato, ela parou de lutar e começou a corresponder. Ele se afastou em gesto inesperado, acaricio-lhe os seios, vendo os olhos Cor de mel da briguenta se dilatar de prazer.

-- Podemos voltar pra barraca? - sugeriu. - Ou esta pronta pra trabalhar?

-- Eu... Eu vou trabalhar! Largue-me, Alfonso Herrera. Não precisa perguntar duas vezes.

Ela se ergueu no momento em que ele a libertou e fugiu com a risada insolente do marido ecoando em seus ouvidos.

A primeiras luzes do amanhecer começavam a despontar no céu quando Ela colocou os pratos do dejejum de volta no saco de suprimentos do cozinheiro. Procurando evitar o olhar divertido de Alfonso, caminhou em direção a própria mula e montou sobre a sela.

Admitia que era uma mulher desesperada, mas pelo menos havia traçado uma estratégia: trabalhando e se mantendo afastada do marido, poderia ter uma chance de escapar incólume.

Agora porém, não dispunha mais de seus ostenta dólares e até descobrir onde ele os escondera, enquanto ela dormía, teria de cooperar.

Chegaram ao cume da montanha à tarde e viram os espirais de fumaça que subiam das chaminés dos alojamentos abaixo. Vários homens desciam o declive oposto atrás de uma pilha de troncos puxada por seis bois. Enquanto se aproximavam, Dulce ouviu os barulhos peculiares da serraria do acampamento.

Então aquele era Diablo Camp, pensou com um sentimento de pesar.

Ao ver o cozinheiro desaparecer no interior de uma grande cabana, caminhou naquela direção, imaginando que se tratava da cozinha e refeitório. Com apenas um pouco de sopa no estômago, ingerida havia pouco mais de duas horas, concluiu como nova assistente de Al, que era melhor ajudá-lo.

-- Sr. Al. - chamou, fazendo a mula reduzir a marcha e parar. - Sinto muito, mas não sei o seu sobrinome. Como devo chama-lo?

-- Deixei de usar meu sobre nome em 1852. - ele disse com uma piscadela misteriosa. Então começou a descarregar sacos de farinha da montaria. - Poderia abrir aquela porta madame?

...

Casamento Por AcasoOnde histórias criam vida. Descubra agora