Como ele poderia proferi-las sem que nada significassem? Voltou a concentrar a atenção no casal de jovens amantes sofredores. Pareciam tão angustiados com a possibilidade de perder um ao outro! Quando os lábios do casal se atores se uniram em um beijo profundo, Dulce mordeu o dela até sentir o gosto do sangue. O homem a quem amava fazia uma cena de amor com outra mulher na frente de todo o mundo! Que tipo de marido permitiria uma coisa daquelas? Talvez Maite ñ fosse casada e Alfonso tivesse mentido a respeito do Estado civil da atriz.
Durante as tórridas cenas de amor no quinto ato, Dulce estremecia de angustia e êxtase. As declarações calorosas dos personagens aqueciam-lhe o sangue e a encima de desejo e raiva ao mesmo tempo.
A cena romântica perpetuou-se por cinco longos minutos. Uma mulher no camarote contiguo soltou um grito e desmaiou, obrigando o marido a levá-la para fora. Porém Dulce ñ dedgrudou o olhar do casal.
Espere até que eu ponha minhas mãos em vc! Disse a si mesma, ansiando por vingança.
Por fim, a cortina se fechou após o último ato, sob uma chuva de aplausos e ovações. O casal de amantes acabou morrendo um nos braços do outro.
Quando a cortina voltou a abrir, Dulce descançou o queixo sobre a balaustra, observando Maite e Alfonso caminharem para frente de mãos dadas, curvando-se aos aplausos entusiasmados.
Depois foi a vez de Sr. Magure surgir com um buque de Rosas para a atriz principal, que aceitou com a graça de uma rainha.
Dulce vira aquele buque em uma das salas dos bastidores. Poncho lhe disse que eram falsas.
Como aquela mulher sabia fingir! Pensou ela.
Depois de varios agradecimentos, a cortina se fechou pela última vez e as luzes se apagaram. Era hora de voltar para casa.
Alheia a movimentação externa, Dulce permaneceu sentada, observando a cortina fechada até que Simpson lhe tocou ombro.
-- Acho que devemos ir agora.
Ela se ergueu, observando as próprios vestes., que a fariam irresistivel naquela noite, segundo os planos da mãe. O objetivo de tão requintada produção era fazer com que Alfonso percebesse que Maite ñ chegava a seus pés. Se Dulce ñ aparecesse nos camarins a noite seria um fracasso total.
-- Sr. Simpson, acompanha-me até o camarim? - indagou, dirigindo um doce sorriso ao acompanhante. - Quero dizer a meu marido o que penso de sua atuação.
O capataz franziu o cenho parecendo preocupado.
-- Desde que ñ demoremos. Tenho de estar no trabalho as cinco horas da manhã.
-- Ñ se preocupe levará apenas um minuto.
Quando se aproximaram do camarins dos atores, depararam com uma multidão de fãs exaltadas em torno de Alfonso. A camisa dele estava aberta e Dulce percebeu as goticulas de suor que se formavam no peito definido. Poncho limpou o rosto com a toalha que trazia sobre os ombros, removendo a maquiagem e o suor.
Dulce estremeceu quando a Bela loira pressionou o corpo contra o dele.
-- Oh, é tão convicente Sr. Herrera! - ela o elogiou em tom lânguido.
Poncho bateu de leve no ombro da jovem, de maneira amigável.
-- É muito gentil, senhorita. - agradeceu indiferente. Em seguida entregó a toalha ao asistente de palco, que lhe estendeu um cigarro. - Obrigado, Nelson. - E voltando-se para o grupo de fãs: - Detesto estragar o divertimento das senhoritas, mas agora sou um homem casado.
As faces femininas se contrairam como se a noticia de uma tragédia tivesse sido arremessada contra elas.
-- Ñ pode esta falando sério! - uma das fãs deu voz a revolta.
-- Sim estou. - Poncho retrucou sorrindo e piscou um olho em direção ao grupo. E olhando para Dulce, disse: - Aqui está a luz da minha vida sem duvidas para me resgatar.
Tentando manter o dominio dos próprios atos, Dulce lançou um olhar ás oponentes.
-- Espero ñ esta atrapalhando. - murmurou maliciosa.
Poncho voltou-se para o grupo de mulheres.
-- Se me dão lincença, senhoritas. - Em seguida curvou-se em uma mesura e puxou Dulce pelo braço, entrou no camarim. Porém estacou ao perceber Simpson logo atrás deles.
-- Talvez seja eu a atrapalhá-la?
Ela sacudiu a cabeça, desejando que o marido ñ fosse tão atraente. Seria fácil esquecer sua atuação no palco. Temia que com apenas um beijo ele a fizesse cair em seus braços, chorando como Francesca.
Mas antes que aquilo podesse acontecer ela deu um passo atrás.
-- É necessário se pavonear em público? - perguntou e Poncho deu um sorriso sinico.
-- Minhas fãs parecem gostar.
-- Bem, por certo se excedeu esta noite.
Poncho apertou o cigarro entre os dentes, fitando-a de cima a baixo.
-- Parece estar se exibindo também essa noite.
Dulce corou. Os olhos verdes dele pareciam transpassa-lhe o vestido que usava.
-- Ñ tão convicente quanto o Show que vc e a tal Maite deram no palco.
-- Obrigado. - agradeceu ele colocando uma mão no peito e curvando-se frente a ela.
-- Ñ há a menor possibilidade de vcs serem apenas amigos. - disparou ela. Esquecendo a imagem que se esforçara em produzir para impressioná-lo, precipitou-se em direção ao marido com os punhos em riste, pronta para atingi-lo. - Uma atuação como aquela é motivo suficiente para um divórcio!
Poncho lhe segurou os punhos e a puxou para si.
-- Ameaçando-me de novo, Dulce?
-- Solte-me seu sedutor barato!
-- Assim farei quando se acalmar.
-- Como posso ficar calma? Ñ espere que eu suporte passiva enquanto vc beija outras mulheres em público!
Os lábios de Poncho se curvaram em um sorriso.
-- Ñ considero o que fiz no palco um ato de adulterio.
-- E que nome dá a isso?
-- Quando estou atuando, imagino uma parede de vidro entre mim e a plateia. Ás pessoas pagam para ver um bom espetáculo. Tento fazer parecer o mais real possivél.
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Casamento Por Acaso
RomanceNevada, 1864. Um Casamento de Mentira... Uma Paixão de Verdade... -- Mimada, linda e esperta, Dulce María Espinosa Saviñon concorda em se casar com alguém que se encaxe nos padrões exigidos por seu Paí: "Um Homem de Verdade", Que ñ tem medo...