Capítulo: 50

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-- Continue sem mim, Alfonso! - Ofegou, demais exausta para perceber a aproximação das chamas.

-- Dulce! - praguejou Ele. - coloque essa tiña no chão. Eu a carregarei. - Largou o recipiente que trazia na mão e fez menção de erguê-la.

-- Não! - gritou ela, recuando irritada. - tive muito trabalho para fazer essa sopa, não a deixarei para trás!

-- Sopa?! Está disposta a arriscar sua vida por causa de uma refeição? - gritou ele, atônito ante a revelação.

Ela anuiu.

-- Temos que comer, não acha?

-- Pessoas mortas não se alimentam! - Soltando uma imprecação, ele tirou os recipientes das mãos dela e os esvaziou no chão. Depois, ergueu-a, pendurando-a sobre o ombro. Em seguida, desceu a barragem em direção ao córrego. Embora o lago estivesse próximo, cortar o caminho pela floresta poderia ser fatal se o fogo chegasse ao mesmo tempo em que eles. Más os minutos estavam se esvaindo. Não poderia arriscar seguir pelo trilho de madeira naquele ponto.

Uns vinte e cinco metros acima do lago, Poncho tropeçou em uma pedra. Cambaleou, e caiu de joelhos e sentiu Dulce deslizar por suas costas. Ergueu o olhar para ver  a gigantesca parede de fogo a menos de cem metros e se aproximando rápidamente.

-- Oh, Cristo! - exclamou, conseguindo se pôr de pé com dificuldade. Engatiando, Dul levantou a cabeça, um tanto zonza, porém ilesa. Juntos, observaram a bola de fogo descendo em velocidade vertiginosa como um exército de demônios.

-- Faça uma prece querida! - disse ele a segurando firmamente.

Descendo pelo leito do córrego, Poncho avistou uma pequena gruta que se abria no declive da barragem. Por certo o covil era de algum animal, parcialmente oculto pela vegetação resteira. Ambos se encontravam molhados até a alma com a água do córrego. Arrastando Dul consigo, Poncho deslizou para dentro do buraco, levantando lama e espalhando pedras.

Não havia um segundo a perder! Desesperado, empurrando pedras e areia para a bertura da gruta a fim de bloquear a entrada ao fogo. Retirou o vestido de Dulce, arrebentando os botões, apesar dos veementes protestos dela. O traje, encharcado pela água do córrego, talvez provesse um escudo ou filtrasse o ar. Comprimiu-se contra o buraco que restara da entrada bloqueada pelas pedras e areia.

Elevando uma prece aos céus para que o artificio funcionasse, ele afastou Dulce da entrada da gruta e aguardou. Embora o orificio da entrada fosse pequeno, a caverna se estendia ampla para o interior. Quanto mais se embrenhavam nela, maior ficava.

No inverno, por certo grandes ursos hibernavam naquele local. No entanto Poncho não se deu ao trabalho de especular se a gruta estaria ocupada por algum deles no momento. Seria suficiente escapar da abrasadora destruição que varria inexorável, a superficie acima.

Durante intermináveis minutos, ambos se aconchegaram no escuro.

Ouviram o silvo do vapor e o bramido ensurdecedor do fogo que se alastrava por sobre suas cabeças.

Muito tempo se passou dentro da gruta. O ar se tornou esfumaçado, impregnado do aroma de terra queimada e de brasas incandescente. Sentindo dificuldades de respirar, Dulce enterrou o rosto na jaqueta de Alfonso. Embora a calça molhada produzisse um contato gélido contra o corpo feminino escassamente vestido, ela o abraçava apertado como um animal à procura de segurança no outro.

Poncho permanecia imóvel, economizando energia. Respirava através do tercido chamuscado da manga da própria camisa, ainda úmida pelo suor da água. Não era uma combinação muito agradável, porém uma opção mais atraente do que asfixia.

Por fim quando tudo emergiu no silêncio, Dulce se mexeu, sussurrando contra a jaqueta do marido.

-- Vc salvou a minha vida, Poncho.

-- Aínda não saimos da floresta. - lembrou ele com voz rouca. Deus! Aquela era a maior estupidez que já proferira! Claro que não haviam escapado da floresta. Concluindo que ainda levaria um tempo até que a terra esfriasse, imaginou quando seria seguro sair da gruta.

Dulce, por seu turno, tinha a mente focada nos atos heróicos do marido. Sua opinião a respeito daquele homem crescera consideravelmente. Encontrava-se até mesmo disposta a perdoar o fato dele ter derramado a deliciosa canja. Estava orgulhosa da sopa que havia feito, pois a tinha cozinhado com um minimo de suprimentos que o Sr. Al lhe havia dado. Lhe entristecia o fato de que ninguém iria provar da sua primeira refeição, que havia feito na vida.

Ainda assim, Poncho agira com admirável coragem e rapidez. Comparadas a seus modestos dotes culinários, así ações do marido em salvar a vida de ambos contavam mais pontos a favor dele.

-- Eu o perdoô, Poncho. - murmurou ela, magnânima. Em seguida, se aconchegou ainda mais ao Corpo másculo. Não à procura de calor, já que o interior da gruta se encontrava com a temperatura bastante elevada. Sentindo-se estranhamente segura, não demorou a adormecer.

Poncho se recostou na desconfortável terra aquecida. Até então, testemunhara Diablo Camp ser consumido pelas labaredas. Só Deus sabia onde estavam os madereiros, e Fernando por certo encontraria  uma forma de culpá-lo pelo prejuizo de dezenas de milhares de dólares causado pela destruição de área florestal e a perda do equipamento.

Por outro lado a filha de Fernando estava disposta a perdoá-lo, embora ele não tivesse a menor idéia do motivo. E havia sobrevivido.

Qualquer ser pensante poderia perceber como as coisas estavam se encaminhando: A Sorte do Irlandês, ao menos a daquele irlandês de Wexford acabara.

Bem, conjecturou Poncho, a situação não poderia piorar. Acomodou Dulce em seu ombro e suspirando fechou os olhos.

... Nossa q sufoco passaram esses dois

Casamento Por AcasoOnde histórias criam vida. Descubra agora