Capítulo: 58

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Com um lenço protegendo os cabelos castanhos mãos, Blanca Saviñon vagueava pelo escritório do marido, cantarolando.

Esperava que Fernando chegasse em casa a qualquer momento e pretendia surpreendê-lo. Havia retirado toda a poeira dos móveis, polido a ampla mesa com óleo de peroba e ajeitado o diploma penfurado na parede. Sabia que o marido ficaria satisfeito de encontrar seus cigarros favoritos na caixa em que os guardava em cima da mesa.

Deslizou o olhar pelo aposento, satisfeita com o resultado, e retirou o lenço da cabeça, deixando cair os cabelos em cascata por os ombros. Ñ se sentia feliz daquela forma desde o tempo de récem-casada.

Desde que a filha partira para o Diablo Camp com Sr. Herrera, sua vida havia tomado um rumo totalmente novo. Pela Primeira vez em anos se sentia renovada. Ser mimada e amada surtira um efeito em Blanca que as roupas sofisticadas e a agitada vida social jamais conseguiram produzir.

Adorava a mudança que se operara em sua vida. Ela era tudo o que o marido desejava. Estavam reconsiliados e perdidamente apaixonados!

Fernando nunca se sentira tão completo como homem. O dinheiro, poder, sucesso e a bela amante ñ haviam sido capazes de preencher o vazio que Blanca deixara quando haviam se separado.

Fernando a arrebatara em uma paixão avassaladora outra vez! A noite de segundas núpcias no Hotel Internacional servira para provar a ambos o quanto ainda se amavam.

Consultando o relógio de parede no escritório do marido, Blanca apressou-se pelo corredor em direção à cozinha. Estava preparando mais um romântico jantar a lúz de velas. Com a casa só para eles os Espinosas, como duas crianças levadas, estavam compensando o tempo perdido.

Juntando a mais fina porcelana e prataria, ela adentou a sala de jantar e começou a pôr a mesa. Ao passar pela janela da frente pensou ouvir um choro baixo e convulsivo. Curiosa, olhou pela vizinhança, más ñ avistou nenhuma criança. Porém o som continuava no mesmo ritmo. Havia apenas uma pessoa, além de si mesma, que era capaz de produzir aquele deplorável som.

Então caminhou até o vestíbulo e abriu a porta.

Dulce despencou da soleira para os braços da mãe. Molhando o Tercido da Blusa da mãe de lágrimas, apertou-se contra o colo da mulher que lhe deu a vida.

-- Mamá... O que... Farei? - balbuciou ela. Blanca amava a filha com toda força de seu ser, más ñ poderia imaginar hara mais inapropriada para chegada da filha. Com a tipica clarividência materna no que diz respeito aos filhos, pressentia que a noite romântica que planejou desfrutar com o marido estava arruinada.

-- Ñ, sei querida. - respondeu com um suspiro resignado. - Depende do que a fez ficar neste estado.

Dulce inclinou a cabeça para trás de modo que podesse fitar a mãe nos olhos.

-- Claro. Como poderia saber?  - Disse e a mãe sorriu tolerante.

-- Sei mais do que possa imaginar. E conheço minha filha. Pode me dizer o que aconteceu? - indagou, guiando a filha até o sofá da sala de visitas. - posso lhe oferecer um chá?

Só então a filha se deu conta do sorriso polido da mãe.

-- Ñ, está feliz em me ver? - indagou, limpando as lágrimas com as costas da mão.

-- Sim e ñ. - respondeu a mãe usando de sinceridade. - Se fosse uma visita casual de minha filha, eu estaria encantada. Mas a julgar pelas lágrimas, deve esta planejando ficar muito tempo.

-- Entendi. Cheguei em hora imprópria?  Como está papá?

-- Nunca Esteve tão bem. - Blanca sorriu com ternura, deixando escapar um suspiro sonhador. - Estávamos Planejando um jantar íntimo. Suponho que queira nos fazer companhia...

Dulce ñ estava acostumada a ser tratada como visita. Ela e a mãe sempre haviam sido muito unidas. Era natural que recorresse ao colo materno nos momentos dificeis. Agora, porém ñ estava tão certa disso.

-- Passei por muita coisa desde que parti. - começou Dulce imaginando o melhor modo de por a mãe a par dos últimos acontecimentos.

Blanca se pois a observar a filha. Vestido rasgado, os cabelos emaranhados, as unhas quebradas e a face suja. Sem mencionar as botas enlameadas.

-- Negligenciou sua aparência desde que partiu.

Dulce revirou os olhos, deixando escapar um som gutural da garganta.

-- Sobrevivi a um incêndio florestal. Todas as minhas roupas foram queimadas. Além disso, trabalhei como uma escrava no acampamento. Eu era ajudante de cozinheiro.

-- Deve ter sido um grande desafío. - afirmou a mãe, pensando nas próprias tarefas domésticas.

-- Uma grande parte da minha desgraça é culpa do papai! - disparou ela, se levantando e caminhando com as mãos para trás.

-- Sim, eu sei. - concordou Blanca, condoendo-se pelo sofrimento da filha. - Seu pai foi um tanto rude, mas... - Gesticulou com eloquência em direção a Dulce. - Ao que parece conseguiu sobreviver de maneira espléndida. - E curvando os lábios em um sorriso divertido, concluiu. - Com exceção de seus trajes, óbvio.

-- Eu me casei com Alfonso Herrera, para escapar do jugo de papai e ñ por amor. - Ela revelou, baixando a cabeça e imaginando o quanto aquilo decepcionaria a mãe. Blanca suspirou, exasperada.

-- Oh, minha querida criança! Se eu soubesse disso, nunca teria permitia que se casasse. Seu pai me assegurou que vcs estavam tão apaixonados um pelo outro como nós a vinte anos atrás.

-- Isso ñ é verdade. - confessou ela, ajoelhando-se em frente à mãe. - Alfonso tinha ciência de que eu planejava pedir a anulação do casamento assim que chegasse a San Francisco. Recebeu Mil dólares para se casar comigo. - concluiu, enterrando a cabeça no colo da mãe.

Blanca lhe ergueu o queixo e fitou o rosto delicados e perfeitos da filha.

-- Ñ quero parecer moralista ao extremo, mas sinceramente Dulce María! Suborno? Penséis que tivesse um pouco mais de bom senso. Tenho certeza de que o nosso estimado Alfonso se casaria com vc de qualquer jeito.

Dulce dirigiu-lhe um olhar desanimado.

-- Ñ tem ideia de quanto ele hesitou em concordar. - disse e Blanca afastou uma mecha dos cabelos emaranhados da testa da filha.

-- Seu pai ficou feliz com sua escolha.

-- O que ele pode saber? - fungou Dulce.

A mãe se ergueu e acendeu a lamparina do móvel próximo.

-- Ñ subestime seu pai. - aconselhou, sorrindo com ternura. - Querida, ele esteve sempre um passo a sua frente nessa história.

-- Ñ acredito no que está dizendo! - gritou ela, seguindo a mãe até a cozinha.

-- Seu paí sabe como a sua escolha mente funciona querida. O que ele ñ escutou através daquele buraco que liga o escritório à lavanderia ou soube por intermédio de Alfonso, concluiu por si mesmo. - Blanca retirou a chaleira do fogo o encheu um bule de porcelana fina com a água fervente. Em seguida, se pois a arrumar a bandeja de chá. - Vc é tão parecida com seu pai... Ñ só na Cor dos cabelos, mais também no temperamento.

...

Casamento Por AcasoOnde histórias criam vida. Descubra agora