Com um lenço protegendo os cabelos castanhos mãos, Blanca Saviñon vagueava pelo escritório do marido, cantarolando.
Esperava que Fernando chegasse em casa a qualquer momento e pretendia surpreendê-lo. Havia retirado toda a poeira dos móveis, polido a ampla mesa com óleo de peroba e ajeitado o diploma penfurado na parede. Sabia que o marido ficaria satisfeito de encontrar seus cigarros favoritos na caixa em que os guardava em cima da mesa.
Deslizou o olhar pelo aposento, satisfeita com o resultado, e retirou o lenço da cabeça, deixando cair os cabelos em cascata por os ombros. Ñ se sentia feliz daquela forma desde o tempo de récem-casada.
Desde que a filha partira para o Diablo Camp com Sr. Herrera, sua vida havia tomado um rumo totalmente novo. Pela Primeira vez em anos se sentia renovada. Ser mimada e amada surtira um efeito em Blanca que as roupas sofisticadas e a agitada vida social jamais conseguiram produzir.
Adorava a mudança que se operara em sua vida. Ela era tudo o que o marido desejava. Estavam reconsiliados e perdidamente apaixonados!
Fernando nunca se sentira tão completo como homem. O dinheiro, poder, sucesso e a bela amante ñ haviam sido capazes de preencher o vazio que Blanca deixara quando haviam se separado.
Fernando a arrebatara em uma paixão avassaladora outra vez! A noite de segundas núpcias no Hotel Internacional servira para provar a ambos o quanto ainda se amavam.
Consultando o relógio de parede no escritório do marido, Blanca apressou-se pelo corredor em direção à cozinha. Estava preparando mais um romântico jantar a lúz de velas. Com a casa só para eles os Espinosas, como duas crianças levadas, estavam compensando o tempo perdido.
Juntando a mais fina porcelana e prataria, ela adentou a sala de jantar e começou a pôr a mesa. Ao passar pela janela da frente pensou ouvir um choro baixo e convulsivo. Curiosa, olhou pela vizinhança, más ñ avistou nenhuma criança. Porém o som continuava no mesmo ritmo. Havia apenas uma pessoa, além de si mesma, que era capaz de produzir aquele deplorável som.
Então caminhou até o vestíbulo e abriu a porta.
Dulce despencou da soleira para os braços da mãe. Molhando o Tercido da Blusa da mãe de lágrimas, apertou-se contra o colo da mulher que lhe deu a vida.
-- Mamá... O que... Farei? - balbuciou ela. Blanca amava a filha com toda força de seu ser, más ñ poderia imaginar hara mais inapropriada para chegada da filha. Com a tipica clarividência materna no que diz respeito aos filhos, pressentia que a noite romântica que planejou desfrutar com o marido estava arruinada.
-- Ñ, sei querida. - respondeu com um suspiro resignado. - Depende do que a fez ficar neste estado.
Dulce inclinou a cabeça para trás de modo que podesse fitar a mãe nos olhos.
-- Claro. Como poderia saber? - Disse e a mãe sorriu tolerante.
-- Sei mais do que possa imaginar. E conheço minha filha. Pode me dizer o que aconteceu? - indagou, guiando a filha até o sofá da sala de visitas. - posso lhe oferecer um chá?
Só então a filha se deu conta do sorriso polido da mãe.
-- Ñ, está feliz em me ver? - indagou, limpando as lágrimas com as costas da mão.
-- Sim e ñ. - respondeu a mãe usando de sinceridade. - Se fosse uma visita casual de minha filha, eu estaria encantada. Mas a julgar pelas lágrimas, deve esta planejando ficar muito tempo.
-- Entendi. Cheguei em hora imprópria? Como está papá?
-- Nunca Esteve tão bem. - Blanca sorriu com ternura, deixando escapar um suspiro sonhador. - Estávamos Planejando um jantar íntimo. Suponho que queira nos fazer companhia...
Dulce ñ estava acostumada a ser tratada como visita. Ela e a mãe sempre haviam sido muito unidas. Era natural que recorresse ao colo materno nos momentos dificeis. Agora, porém ñ estava tão certa disso.
-- Passei por muita coisa desde que parti. - começou Dulce imaginando o melhor modo de por a mãe a par dos últimos acontecimentos.
Blanca se pois a observar a filha. Vestido rasgado, os cabelos emaranhados, as unhas quebradas e a face suja. Sem mencionar as botas enlameadas.
-- Negligenciou sua aparência desde que partiu.
Dulce revirou os olhos, deixando escapar um som gutural da garganta.
-- Sobrevivi a um incêndio florestal. Todas as minhas roupas foram queimadas. Além disso, trabalhei como uma escrava no acampamento. Eu era ajudante de cozinheiro.
-- Deve ter sido um grande desafío. - afirmou a mãe, pensando nas próprias tarefas domésticas.
-- Uma grande parte da minha desgraça é culpa do papai! - disparou ela, se levantando e caminhando com as mãos para trás.
-- Sim, eu sei. - concordou Blanca, condoendo-se pelo sofrimento da filha. - Seu pai foi um tanto rude, mas... - Gesticulou com eloquência em direção a Dulce. - Ao que parece conseguiu sobreviver de maneira espléndida. - E curvando os lábios em um sorriso divertido, concluiu. - Com exceção de seus trajes, óbvio.
-- Eu me casei com Alfonso Herrera, para escapar do jugo de papai e ñ por amor. - Ela revelou, baixando a cabeça e imaginando o quanto aquilo decepcionaria a mãe. Blanca suspirou, exasperada.
-- Oh, minha querida criança! Se eu soubesse disso, nunca teria permitia que se casasse. Seu pai me assegurou que vcs estavam tão apaixonados um pelo outro como nós a vinte anos atrás.
-- Isso ñ é verdade. - confessou ela, ajoelhando-se em frente à mãe. - Alfonso tinha ciência de que eu planejava pedir a anulação do casamento assim que chegasse a San Francisco. Recebeu Mil dólares para se casar comigo. - concluiu, enterrando a cabeça no colo da mãe.
Blanca lhe ergueu o queixo e fitou o rosto delicados e perfeitos da filha.
-- Ñ quero parecer moralista ao extremo, mas sinceramente Dulce María! Suborno? Penséis que tivesse um pouco mais de bom senso. Tenho certeza de que o nosso estimado Alfonso se casaria com vc de qualquer jeito.
Dulce dirigiu-lhe um olhar desanimado.
-- Ñ tem ideia de quanto ele hesitou em concordar. - disse e Blanca afastou uma mecha dos cabelos emaranhados da testa da filha.
-- Seu pai ficou feliz com sua escolha.
-- O que ele pode saber? - fungou Dulce.
A mãe se ergueu e acendeu a lamparina do móvel próximo.
-- Ñ subestime seu pai. - aconselhou, sorrindo com ternura. - Querida, ele esteve sempre um passo a sua frente nessa história.
-- Ñ acredito no que está dizendo! - gritou ela, seguindo a mãe até a cozinha.
-- Seu paí sabe como a sua escolha mente funciona querida. O que ele ñ escutou através daquele buraco que liga o escritório à lavanderia ou soube por intermédio de Alfonso, concluiu por si mesmo. - Blanca retirou a chaleira do fogo o encheu um bule de porcelana fina com a água fervente. Em seguida, se pois a arrumar a bandeja de chá. - Vc é tão parecida com seu pai... Ñ só na Cor dos cabelos, mais também no temperamento.
...
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Casamento Por Acaso
Roman d'amourNevada, 1864. Um Casamento de Mentira... Uma Paixão de Verdade... -- Mimada, linda e esperta, Dulce María Espinosa Saviñon concorda em se casar com alguém que se encaxe nos padrões exigidos por seu Paí: "Um Homem de Verdade", Que ñ tem medo...