Capítulo: 14

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Os dedos de Poncho deixaram de tamborilar no braço da cadeira.

-- Está a par que sua filha me ofereceu dinheiro pra mim casar com ela?

-- Claro que sim. - Fernando caminhou até uma portinhola de madeira fixada ao lado da parede próxima a sua escrivaninha. - Está vendo isto? A lavandería fica bem atrás do meu escritório, então fiz um buraco na parede. Sempre que quero saber se a criada está roubando lençois ou se a lavadeira no porão está ganhando os seus sálarios, abro-o.

Alfonso sorriu.

-- Tiro meu chapéu para o senhor.

-- Em certas ocasiões, escuto os hóspedes às escondidas. Já dei voltas à imaginação para interpletar alguns silêncios prolongados em sua conversa com minha filha. - Fernando ergueu uma sobrancelha. - Talvez o senhor possa explicá-los...

Alfonso quase caiu da cadeira de tanto rir. O velho demônio era cheio de artimanhas.

-- O senhor tem todo direito de mandar me matar, senhor, porém a virtude de sua filha está intacta. Foram apenas alguns beijos roubados nada mais.

-- Suponho que possui experiencia com as mulheres.

-- Para ser franco, talvez seja uma das poucas habilidades que consegui aperfeiçoar.

-- Um especialista para ser mais exato?

Alfonso percebeu que o rumo da conversa mudara. Depressa inverteu sua estrategia, decidindo supervalorizar seu passatempo fora do palco. Precisava de um trabalho. Não queria se unir a uma pirralha mimada. E por certo a melhor tática era convencer Fernando de que não era digno de confiança.

-- É uma franqueza. Não consigo controlar meu fraco por mulheres.

-- Que bobagem.

-- É a mais pura verdade, senhor! Desde os três anos tento controlar esse terrivel desejo pelo sexo femenino.

-- Estou certo que sim. - Fernando abriu os lábios num sorriso afável. - Mas parece que ainda lhe restaram alguns escrúpulos.

-- Não estou entendendo senhor.

-- Quero dizer que vc é devoto do esporte, mas rejeita a idéia de ser um homem preso. Gosto disso. - disse Fernando.

De repente Poncho se viu gostando cada vez mais daquele homem.

-- poderiamos deixar de lado o assunto das mulheres e mais específicamente de sua filha? Se tiver uma vaga pra mim, se possivel em terra, eu me sentiría honrado em trabalhar para o senhor.

-- Sim tenho algo pra vc. - Fernando dirigiu-se a um mapa pendurado Na parede e apontou varios lugares em que constavam suas propriedades. - Não costumo errar sobre como aplicar meu dinheiro. - Ele fez uma pausa fitando Alfonso com um olhar afiado, como se quisesse dizer que esperava muito de seus empregados. - Sempre dei muito valor ao dinheiro que consegui.

-- Não se preocupe, eu aprendo rápido. - disse Alfonso. - Mostre-me de uma vez o que deve ser feito e farei certo.

Fernando o observou com suspeita. Parecia-lhe que o jovem tinha um modo muito estranho de expressar sua vontade de aprender o negócio de madeira. Ele deu com a mão carnuda no ombro de Alfonso com a força de um pesado martelo que bate em uma bigorna.

-- Ótimo! Bem, vamos pôr mãos a obra, certo? Neste exato momento, as minas estão clamando por madeira. Como não podemos repô-las rápido bastante, comprei mais três mil acres de Floresta virgem que corta toda a extensão de Sierra Nevada. Já derrubou alguma árvore filho.

-- Não, mas posso aprender.

Fernando estendeu o braço, e ambos deram um longo aperto de mãos.

-- Começará no a campamento na próxima segunda feira. Por enquanto, quero-o ao meu lado. Vou lhe mostrar como a madeira é usada nas minhas minas e no moinho. Vou lhe dar muito material de leitura, também. Gosta de ler.?

-- Qualquer coisa que cai nás mãos senhor.

-- Lhe pagarei trinta e seis dólares por uma semana de seis dias. Vai ter que trabalhar duro pra conseguir isso. - disse e Alfonso encolheu os ombros.

-- É melhor que ser mineiro. Obrigado senhor. Posso ver que tenho muito pra aprender.

-- E, para amenizar seu sofrimento, concedo-lhe a mão de Dulce María. - Fernando piscou varias vezes, atento à reação de Alfonso.

Incomodado, Poncho clareou a garganta e sacudiu a cabeça. Nada no mundo o faria unir-se áquela mulher mal-humorada. Era melhor passar fome!

-- Sinto muito senhor, porém não posso. Aprecio o trabalho, mas não a esse preço.

-- Pensei tê-lo ouvido dizer a minha filha que consideraria a posibilidade se eu lhe arranjasse um trabalho digno. - lembrou-o Fernando com um sorriso.

-- Eu disse, mas não era sério!

-- Minha filha precisa de mão forte para mantê-la nos eixos, rapaz. - disse e coçou a cabeça, como se o problema estivesse além de suas forças.

-- Ela planeja usar o casamento como modo rápido de escapar. Acredite-me, senhor, sua filha planeja fugir.

-- Fugir, deixando-me a ver navios? - pensativo Fernando mastigou a ponta do charuto, fitou o anel de fumaça que subiu para o teto.

-- Exatamente senhor. Pretende pegar o seu dinheiro, pagar o pobre infeliz que a desposar e procurar o advogado mais próximo para conseguir a anulação do casamento. - Poncho se sentiu feliz por contar tudo a Fernando. Sim era melhor colocar ás cartas na mesa. - É claro que me recuso a fazer parte de tal esquema. - Acrescentou, cruzando os braços sobre o tórax.

-- Alguém deveria ensinar uma severa lição áquela pequena, não concorda?

-- Ela precisa de uma boa surra. - Poncho concordou que Fernando deveria restabelecer a ordem em sua casa e sem demora. Era obvió que o homem já dera asa demais á sua bonita filha. - É melhor cortar o mal pela raiz, Senhor.

-- Herrera, fico feliz por termos tido esta pequena conversa. Sou um homem.Ocupado com pesadas responsabilidades. O bem-estar de centenas de homens está diariamente sobre seus ombros. E se Dulce fizer algo quando eu não estiver por perto? - ele meneou a cabeça.

...

Casamento Por AcasoOnde histórias criam vida. Descubra agora