Longo Final De Semana

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- Filha? - Papai tinha a chata mania de ficar me chacoalhando enquanto eu dormia serenamente ao seu lado, no banco do passageiro - Chegamos.

Pegamos os nossos pertences e entramos na velha casa de madeira. Fomos muito bem recebidos e nos dirigimos ao interior da casa, onde almoçarmos em família. Após, seguimos a tarde conversando sobre a vida na cidade, escola, trabalho e o lazer dos mais velhos.

Um pouco depois de tais acontecimentos, saio para espairecer. Me sento na escadinha da varanda e observo o sol se pôr, dando lugar ao anoitecer repleto de estrelas, iluminando o céu limpo.

- Criança, o que tanto vê aí?

- Apreciando os pequenos prazeres da vida, vovô.

- Que poeta.

- Realista. Vovô, se algo estivesse acontecendo o senhor me contaria, não é?

- Claro, por que a pergunta? - O noto se afasta minimamente.

- Eu sinto que algo está diferente, os outros estão escondendo algo de mim. E eu não irei sossegar até descobrir! - Me levanto

- Apenas brinque criança, és muito nova para tratar de assuntos de adultos.

- Tenho quinze anos, e você acabou de admitir que o que estou pensando é realmente verdade! - O acuso apontando em sua direção

- Eu não falei nada! - Levanta os braços em rendição assim que viu meu pai aparecer em seu campo de visão

- O que está acontecendo? O que você não disse, pai? - Pergunta

- Eu quem lhe pergunto papai, o que tanto escondem de mim?

- Não estou escondendo nada, filha.

- Não minta para mim! Eu já descobri.

- Eu..

- Enrico, a mamãe passou mal! Depressa, me ajude. - Tio Carlos apareceu chamando o irmão interrompendo assim a conversa.

Preocupada corro para dentro de casa e vejo a minha avó deitada no sofá sendo abanada por Sasha e amparada pelos dois filhos mais velhos.

Por sorte não fôra nada de grave, apenas uma leve tontura, dada devida a queda de pressão. E após o susto repentino, todos voltaram aos seus afazeres.

Eu me encontrava sentada em uma mesinha redonda sozinha, quando vi um pequeno ser surgir.

- Lili, me ajuda. - A garotinha se aproxima trazendo consigo um caderno de desenhos

- O que houve, Anne? - Pego-a no colo

- Eu pinto esse. - Aponta para o desenho de uma princesa - E você esse. - Uma bailarina - Porque você gosta de dançar.
Sorrio abraçando minha priminha

- Pois bem, onde estão os seus lápis de cor?

- Na bolsa da mamãe, eu vou buscar - Descalça pela casa atrás da mãe, que conversava animadamente na cozinha.

- Voltei!

Pintamos boa parte de seu caderno, até Sasha vir buscá-la para tomar banho. Eu então, fui até quarto da minha prima perturbá-la

- Posso entrar? - Abro uma fresta da porta

- Macki! Me ajuda, eu vou enlouquecer! - Ela me puxa para dentro do cômodo, perto de sua cama.

- Olha isso! - Me entrega uma folha

- O que é isso? - Leio o conteúdo escrito - O quê?

Era uma cartinha de amor, um bilhete.

- Eu sei! Quem ainda escreve cartas em pleno século XIX? Em um mundo onde existe whatsapp, mensseger e e-mail!? - Anda aleatoriamente pelo quarto

- Cala a boca! - Jogo um travesseiro em sua direção - É fofo.

- Fofo por que não é com você! - Joga de volta

- Pois saiba que eu ficaria muito honrada em receber uma cartinha dessas.

- Por falar nisso, vem comigo - Puxou-me novamente

- Meninas? - Vovó nos interrompe - Aonde vão?

- Vou mostrar o lilo à ela, vó. - Lea responde

- Bom, quando voltarem arrumem as suas coisas.

- Está nos expulsando, vovó? Pensei que eu fosse a sua neta favorita. - A empurro

- Deixa de ser dramática. - Rio - E é claro que eu sou a neta preferida.

- As duas são. - Sorri - Amanhã vamos todos para a fazenda, e de lá cada um vai para a sua casa.

Assentimos e saímos

Lea assovia e em minutos um gato cinza aparece no meio das árvores do pomar. Consigo identificar devido a pouca, mas clara iluminação do local.

- Hey, lilo. - Pega o felino no colo, fazendo carinho no mesmo. - Está molhado.

- Lilo! - Nos assustamos com o grito e em seguida um garoto negro dos olhos claros chegou parando à nossa frente

- Lea, eu sabia que você tinha algo relacionado com esse sumiço repentino. - Pegou-o ofegante de volta - Eu estava dando banho nele, quando o mesmo saiu correndo. E ele só vem para cá quando a ouve assobiando. - A olha com cara feia

- Desculpe, eu queria mostrá-lo à minha prima - Ele então olhou-me - Makayla. Macki, esse é o Sean.

- É um prazer enfim conhecê-la. - Sorri me fazendo corar - Lea tagarela muito a seu respeito. - A mesma lhe dá um tapa no braço - E este como já deve ter notado esse é o Lilo, meu gatinho fujão.

- Oi, menino. - Me aproximo cautelosamente - Ele é arisco?

- Calmo até demais. - Ri - Pode tocar.

Faço carinho em seu pêlo molhado

- Sean, por que não mostramos a cachoeira à ela?

- Bem pensado, pirralha. - Bagunça seu cabelo - Mas está tarde.

Estranho aquela intimidade toda

- Há quanto tempo vocês se conhecem?

- Um ano. Faz um bom tempo que você não vem nos ver, eu então tive que fazer alguns amigos para não mofar em casa.

- Está uma correria lá em casa, de um tempo para cá. Minha mãe vai se casar de novo e eu tenho que ajudá-la com tudo, também não estou tendo tanto descanso quanto deveria da escola.

- Que demais, ela vai se casar com quem?

- Ian Scott. - Pego meu celular lhes mostrando uma foto

- Eles formam um casal fofo, fico feliz pela tia Carlye.

- Eu também.. O mais importante é a felicidade dela.

O dia da cachoeira acabou por ficar para um outro dia, já que passamos o a tarde jogando conversa fora, como diria minha tia. E acabamos nos esquecendo de arrumar as coisas.

×××
Domingo, 8:01 A.M.
- Levanta, Macki! - E novamente lá estava eu sendo chacoalhada

- Tia? - Eu jurava que era Lea - O que houve?

- Já estamos de saída, querida. Tentamos te acordar mais cedo, mas você não levantava. Tome um banho rápido e desça.

Assinto me sentando na cama, ainda meio sonolenta.

- Tia, que horas são?

- Oito. - Se dirige à porta - Seja rápida!

Logo eu já me encontrava pronta, com um vestido azul marinho, que foi o primeiro que encontrei dentro da bolsa. Desço correndo as escadas quase escorregando no final delas. Entro no carro murmurando um "bom dia" para o meu pai e meus avós sentados no banco de trás e seguimos viagem.

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