Descanso

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Nas três semanas seguintes, mal vi meus amigos. Já que eles estudavam sem parar para provas. Nem mesmo meu pai e Ian, que trabalhavam direto. Lea veio me visitar no fim de semana, mas ficou pouco tempo.

Eu me encontrava sozinha e entediada em casa. Não estava com fome e estava frio, então não sairia. E para piorar a situação, meu celular estava zerado de bateria. Tem como o dia ficar melhor?

Pensei em dormir, mas guardaria minhas energias para mais tarde, chega de pesadelos envolvendo a minha mãe. Ela era tão boa, tão dócil, como podia sonhar com ela sendo tão malvada comigo? Essa não era a Carlyie que me deu a vida. Era uma pessoa completamente diferente, um.. Monstro.

Me levanto do sofá, indo para a cozinha. Vou fazer um bolo, talvez meu pai goste. Abro cada armário juntando todos os ingredientes na pia e me empenho na preparação. Ligo o som, ecoando uma música conhecida por todo o ambiente, deixando tudo mais descontraído.

"I hung the armor on the clothesline
I have already reconsidered and I will not go back
My desire will not speak for me anymore
I'm going to break free

Because alone i can
Because I want to, I'll send it and at the top I'll arrive.."

Ouço o telefone fixo e desligo o som. Após colocar o bolo no forno, corro para a atender.

- Alô?

"- Senhor Scott?"

- Quem gostaria?

"- Sou a Joy, da imobiliária. Por favor, o senhor.. Scott, se encontra?"

- Não, ele não está.

"- Avise-o que eu liguei e irei aguardar seu retorno."

- Eu digo, sim..

Mais algumas breves trocas de palavras e desligo o telefone.

Por que o Ian foi atrás de uma imobiliária? Será que já se cansou de morar aqui? Será que é por causa das lembranças que essa casa trás da minha mãe ou por causa das brigas diárias com o meu pai?

×××
"- Valen, o que você está fazendo com isso?"

"- Não é óbvio? Jogando golf."

"- Com um bastão de beisebol?"

"- Quero fazer um home run no buraco dezessete. - Joga a bola vendo-a voar - Vamos lá, tenho certeza de que foi gol!"

Me divertida assistindo um seriado que passava, enquanto aguardava meu pai chegar. Já se passavam das oito horas, quando Ian abriu a porta distraidamente, sequer me notando ali.

- Boa noite. - Falo chamando sua atenção

- Macki, oi - Sorri - Não tinha te visto.

- Parece bem distraído mesmo.

- Estou com os pensamentos longes, na minha família..

- Nunca me contou sobre sua família, Ian. - Comento - Já foi casado?

- Sim, antes de conhecer a Carlye.. Mas eu já era divorciado.

- E vocês chegaram a ter filhos?

- Sim, tenho.. Alguns filhos.

- Quantos? Meninas ou meninos?

- Que tipo de interrogação é essa da qual estou participando, policial? - Pergunta divertido

- Desculpe, quase não sei nada sobre você. Apenas fiquei curiosa. Me perdoe.

- Não tem porque se desculpar, Macki. É normal ter dúvidas e curiosidade. - Tira o casaco do paletó - Vou subir e tomar um banho, estou morto de cansaço. - Beija minha cabeça

- Ahn.. Ian - Chamo vendo-o se virar, já nas escadas - Uma mulher ligou para você.

- Uma mulher? - Volta para perto de mim - Que mulher?

- Não sei se me lem.. Oh sim, seu nome era Joy e ela era da imobiliária.

- Joy, uh?

- Sim. Ela queria conversar com você, mas como não estava pediu que retornasse a ligação.

- Então finalmente vai embora, Ian? - Nos viramos em direção à porta, onde o dono da voz sorria achando graça

- Papai! - Repreendo

- Desculpa, filha. - Abre os braços e eu vou em sua direção sentindo-o me apertar - Senti saudades.

- Desculpe te decepcionar, Enrico. Mas não vou embora daqui tão cedo! - Fala com convicção

- Ok.. - Vendo o rumo que essa conversa ia tomar, me apresso em mudar o rumo do assunto - Eu fiz um bolo, e está uma delícia - Aponto para a bancada da cozinha onde o bolo estava exposto esfriando. - Querem comer?

- Depois, filha. Já jantou?

- Não. Não quis jantar.

- E porque não? - Dou de ombros

- Vou aceitar um pedaço mais tarde, filhinha. - Ian diz parando de encarar meu pai e me olhando - E obrigado pelo recado.

- De nada. - Falo vendo-o subir
Respiro pesadamente.

Hoje a noite vai ser difícil.

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