Aproximação

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A cada palavra dita, eu me surpreendia mais. Essa história era tão cativante, que eu temia o momento da aula acabar, antes mesmo dela terminar de contar o final.

- Tristan estava aterrorizado, eu grunia e gritava, poderia chamar a atenção de quem quer que morasse ali por perto. A dor era insuportável e eu não conseguia pensar em mais nada, só que não teria mais jeito de concertar aquele estrago. As pessoas começaram a chegar e entre elas, os meus pais, em total desespero, ainda de pijama, correram em minha direção e o salva vidas foi acionado, assim como a ambulância. No hospital, eu fui levada às pressas para a sala de cirurgia, horas se passaram e eu ainda estava ali, fui anestesiada e apaguei. Mais tarde quando acordei, o meu braço havia sido amputado. - Abaixa a cabeça e nos lança um sorriso triste em seguida - O tubarão apesar de pequeno, fez um grande estrago. No começo foi difícil, claro. Eu tinha apenas um braço e apesar de não ser canhota, hoje em dia consigo me virar muito bem com o braço esquerdo. Meu primo se culpava até o ano passado pelo que me aconteceu naquele dia..

- Desculpe atrapalhar. - Nathan, o menino que se sentava no fundo da sala interrompe - Mas, por que disse que ele se culpava?

- Porque ele deve ter se dado conta de que a culpa não era dele, afinal. - Pietra responde o colega

- Pelo contrário. - Continua Amália - Afogando suas mágoas quando voltou para sua casa, após passar mais um bom tempo alojado na minha, ele estava em uma outra praia, dessa vez sem surfe. Ele dediciu nadar com os amigos, mas o tempo estava nublado e uma forte chuva era prevista para aquele dia, ele não sabia e mesmo assim adentrou o mar. Começou a chuva e duas de suas amigas que também o acompanhava se afastaram indo para um quiosque, ele e mais um amigo continuaram, estavam se divertindo. Mas o perigo estava presente e o resultado de nadar quando está chovendo era quase sempre o mesmo. Um raio o atingiu e... - Limpa rapidamente uma lágrima que cai em seu rosto - Ele não sobreviveu, morreu na hora.

- Muito obrigado por ter se disponibilizado para nos contar sua história Amália - Abraça os ombros da menina que chorava fraco - Sinto muito pela sua perda, mas espero que seja muito bem recebida. - Nos lança o olhar - Você é forte e conseguiu superar essa etapa com bravura, você é um exemplo. Parabéns.

- Merci, professeur.

- Pode se sentar. - Indica uma cadeira vaga próxima à mim

- Muito bem, agora nós iremos estudar o conteúdo do vídeo.. - O sinal toca nesse exato momento, o interrompendo - Tudo bem, podem ir. Mas na próxima aula não irão escapar!

Nos levantamos e um a um foi saindo vagarosamente da sala de aula. Todos estavam comovidos com a história e curiosos para saber mais sobre a aluna nova.

Quando atravessei a porta, Enzo estava lá, encostado à porta com livros nos braços e cabeça baixa.

- Enzo, tudo bem?

Eu iria passar reto, mas me atrevi a me aproximar.

- Macki.. - Sorri minimamente - Estava te esperando.

Meu coração bateu mais rápido.

- Por quê?

- Eu.. ahm.. Preciso de uma opinião feminina.

- Para o que exatamente? - Rio de sua expressão

- Vou te mostrar. - Segura em minha mão - Tem qual aula agora?

O contato de nossas mãos juntas me fez abrir um largo sorriso internamente. Se por fora eu estou o encarando, enquanto ele move seus lábios falando comigo, por dentro só me falta soltar fogos de artifícios. Um pequeno gesto às vezes tem grandes significados, dependendo de quem vem.

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