Esclarecimentos

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A viagem até a casa do meu pai foi bem rápida, até. Arrumamos uma pequena mala de mão com os seus pertences e eu o aguardava na sala de estar, enquanto o mesmo tomava banho.

Varro os olhos por todos os cômodos, até notar um pequeno quadro quase que escondido na estante. Uma foto nossa, eu mamãe e papai, antes da separação de ambos. Eu não sabia que ele ainda guardava essa foto, mas agora que descobri fico extremamente contente.

Ele, assim como eu, deve sentir muito pela morte da minha mãe. Eu não vi, mas sei que ele chorou tanto quanto eu no dia da tragédia.

Mas será que.. Ele sabia dos planos do Ian?

- Pronto, Macki. Sabe, eu ainda tenho aquele perfume que você me deu há algum tempo de presente. Está quase pela metade, ele é muito bom. Uso-o todos os dias, praticamente. - Papai descia as escadas e animadamente conversava comigo, até perceber que eu não sorria - Aconteceu alguma coisa?

- Papai.. - Respiro fundo

Eu estava sendo muito louca ou até mesmo precipitada? Estaria acusando-o sem provas?

- Senta aqui. - Ele o fez e eu me sento ao seu lado - Você sabia.. Sabia de tudo o que estava acontecendo? Digo, com a mamãe?

- Eu.. Ahn.. Macki, veja bem. - Sua enrolação o entregava - Sua mãe conversou comigo sim, um pouco depois dela ter descoberto a doença.

- E por que você não me contou? Era da minha mãe que estavam falando! - Elevo o meu tom de voz irritada

- Filha, a própria Carlye foi quem me pediu. Ela me fez prometer que eu manteria tudo em segredo, ela não queria que você sofresse. Isso ia deixá-la pior do que ela já estava.

- Mas isso não é justo! Eu merecia saber.

- Macki.. - Suspira - Eu quis te contar. Já havia falado com a Carlye, diversas vezes. Mas ela insistia em deixar tudo em anonimato e..

- Quem mais sabia?

- Makayla..

- Papai, quem mais sabia? - Insito na pergunta

- Além de mim e do Ian, seu tio Carlos, Sasha, Amanda, Seus avós..

- O tio Carlos.. Meus avós.. - Paro de falar

Flashback:
"- Vovô se algo estivesse acontecendo, o senhor me contaria, não é verdade?
- Claro, por que a pergunta? - Se afasta minimamente, eu notei.
- Eu sinto que algo está diferente, os outros estão escondendo algo de mim. E eu não irei sossegar até descobrir. - Me levanto
- Apenas brinque criança, és muito nova para tratar de assuntos de adultos."

Mas é claro!

- Naquele dia em que nós fomos para a casa do vovô e da vovó.. Todos já sabiam e ninguém ousou me contar!

Eu sabia! Sabia que estavam me escondendo algo. Eu tinha certeza. E no fim.. Eu estava certa.. Certa até demais.

- Filha, eu..

- A gente já pode ir para casa? Estou cansada. - Pergunto sem olhá-lo

- Tudo bem.. - Se levanta pegando suas coisas - Vamos.

O caminho de volta foi em total e absoluto silêncio. Agradeço mentalmente que ele estava me respeitando em não tocar mais no assunto.

Eu precisava pensar, mas havia algo que ainda precisava perguntar antes de encerrar o assunto de uma vez por todas.

- Pai? - Me viro para observar através da janela as casas que ficavam para trás

- Sim? - Responde em tom baixo

- Antes de eu ir para o internato.. Você.. Você já sabia? Sabia que o Ian ia me lavar e simplesmente me.. Largar lá?

- Eu sabia que você ia, sim. Carlye já havia me dito que queria te colocar lá. E antes que você pergunte, sim, eu concordei com tudo, porque eu simplesmente não tive como negar. Sua mãe estava em um momento de fragilidade, quase morrendo e ela também listou 50 itens com mais prós do que contras para aceitar a proposta de te colocar na Goulart Academy. Ela precisava da minha aprovação. E como seu pai, eu apenas queria o melhor para você, nós dois queríamos. Eu sei que você entende, não é mesmo filha? Você já tem dezesseis anos, é uma mocinha. Sei que sofreu mais que todos nós e ainda sofre. Carlye sempre foi o seu maior exemplo, sei toda essa doçura e esperteza puxou dela. Mas apenas pense que ela está em um lugar mais tranquilo e melhor do que o que vivia antes. Lá em cima não há medo, angústias e nem sofrimento. Ela "vive" por você ainda, mas de uma forma diferente agora. Ela é o seu anjo da guarda. - Sorri tocando meu braço - E terminando de responder, não, eu não sabia que o Ian simplesmente te "largaria" no colégio interno.

Eu não respondo e suspirando, ele continua o trajeto até em casa.
Meus olhos marejavam e eu me encontrava bastante sensível pelo que acabo de escutar. Palavras não seriam capazes de descrever o que se passava pela minha cabeça naquele exato momento, era tudo tão confuso.

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