Os meus olhos pareciam acompanhar uma partida de ping pong, enquanto observava ambos debater.
- Temos e o senhor sabe. É sobre a Makayla.
- Eu a quero longe da minha filha, nunca mais volte a importuna-lá!
- Eu sei que errei, estou ciente dos meus atos. O que eu fiz não tem perdão, mas há uma explicação que eu preciso que vocês escutem. - Ele permanece em silêncio, mas pronto para ir embora a qualquer momento - Eu agi em completo desespero. O Jasper chegou no meu trabalho já me ameaçando, disse que se eu não o ajudasse ele tiraria o meu bem mais precioso, os meus filhos.
- Ele não faria isso, é pai deles.
- Você viu e sentiu na pele o que ele fez com a Makayla, mesmo ela sendo somente enteada dele. O Jasper não tem escrúpulos ou limites, simplesmente não sabe a hora de parar!
- Por isso tanta segurança e medo dele se aproximar dos meninos? - Me arrisco em perguntar
- Justamente. - Suspira cansada
Ela caminha até a cadeira do diretor, se acomodando.
- Mãe, já está mais que na hora de você nos dizer a verdade. - Filipe diz
- Nos diga de uma vez por todas porque o despreza tanto e real motivo de tanta superproteção! - Enzo exige- Tudo bem.
- Sério? - Ambos questionam surpresos
- Sim, vocês tem o direito de saber. - Batuca as unhas na mesa - Quando eu era mais nova e descobri estar grávida, o Jasper até que ficou feliz. Mas com o passar dos meses, tudo foi se desgastando. Os nossos pais colocaram um guarda-costas que nos seguiu em todos os lugares, sem exceção. Na faculdade, o deboche das pessoas em cima de nós era triplicado. Primeiramente, porque eu me casei no auge dos meus dezoito anos, segundo por sermos os únicos com aquele armário ambulante que não nos deixava em paz, e por último, gravidez na adolescência. Por um longo tempo, fui motivo dos comentários maldosos que circulavam pela universidade. Jasper já estava cansado de toda essa situação e irritado porque eu o rejeitava na maioria das vezes. Os sintomas da gravidez eram cada vez mais presentes e eu não tinha o apoio dele, nem dos nossos pais. Um dia, assim como da primeira vez, ele fugiu para uma festa, dessa vez da fraternidade. O guarda-costas descobriu, pois tinha que a todo momento checar e relatar sobre a nossa localização. Ele prontamente foi atrás do Jasper, mas ele não estava mais na tal festa. Pedindo informações, ele conseguiu encontrá-lo. - Respira fundo - Eu estava adormecida, já passavam das duas da madrugada e o meu marido que deveria estar comigo, foi localizado em um motel de luxo com uma ex amiga minha. Eu fiquei arrasada quando descobri e no dia seguinte reuni os nossos pais. Expliquei o que havia acontecido e por aquele mesmo motivo, queria o divórcio. Mas eles se negaram. Disseram que seria um choque para toda a sociedade e que já era ruim o suficiente eu ter engravidado. Nos disseram diversas coisas e listaram inúmeros motivos para a separação não acontecer. Eu passei tanto nervoso, que quase perdi os meus gêmeos, mas consegui me recuperar. - Segue evitando o contato visual - O Jasper sossegou nos primeiros dois meses, que foi o tempo estabelecido para as pessoas tirarem o nosso nome da boca e sairmos das revistas de fofocas. Eu achei que ele havia mudado e finalmente se deu conta de que uma hora ou outra teríamos que agir como os adultos responsáveis, que ainda não éramos. Infelizmente, não foi o que aconteceu. - Encaro os gêmeos que estavam vidrados na história - Ele dizia constantemente que se sentia aprisionado, que queria a sua liberdade de volta, tanto da nossa casa, quanto de mim. Todos os dias, as palavras para se referir a mim eram as mais.. Dolorosas. Uma vez, ele passou ao menos dois dias trancando no escritório, mas como havia câmeras pela casa, estávamos cientes de que ele não havia fugido. Mas ainda sim, era preocupante. Ele raramente saia para comer ou tomar banho. Quando Jasper finalmente resolveu dar o ar da graça, decidiu convidar os nossos pais para um chá. Eles marcaram o encontro e eu fui comunicada a comparecer. - Passa a mão pela barriga - Apesar de tudo, a minha mãe estava contente pela minha gravidez e parecia ser a única, além de mim. Aquela tarde foi bastante agradável, conversamos sobre o nosso futuro e o das crianças, sobre trabalho e como eu terminaria a faculdade faltando quase um ano e meio para a ocasião acontecer. Já estava entardecendo, quando o Jasper se ofereceu para nos mostrar o que ele havia feito de tão extraordinário durante os dois dias no escritório. Nós paramos em frente a mesa, ele me ajudou cuidadosamente a sentar na cadeira estofada giratória e clicou em uma pasta, onde havia um vídeo. - Fecha brevemente os olhos - Nesse vídeo haviam duas pessoas transando.. - Nos olha - Perdoem-me pela palavra. - Pigarreia - Enquanto uma terceira aparecia amarrada e amordaçada, sendo obrigada a assistir o ato. - Volta com o foco e o olhar distante - Os mais velhos perguntaram incrédulos que tipo de conteúdo era aquele e o porque dele estar nos mostrando. Ele segurou a minha mão fazendo carinho com o polegar e em seguida gritou em alto e claro som: "Ariana é uma infeliz e foi infiel ao nosso casamento!". Aquilo me acertou como um bastão de beisebol no estômago. Eu neguei repetidas vezes, aquela era a pior das mentiras. Não confiando em sua palavra, eles voltaram a assistir o vídeo com mais atenção, uma, duas, três vezes, até se manifestar. A'Marie foi a primeira a me apontar como infiel, ela nunca gostou de mim, apesar de ter contribuído para que o seu filho se casasse comigo. Após isso, todos, incluindo os meus pais passaram a duvidar de mim e da minha palavra. Eu analisei aquelas imagens com atenção e realmente, a mulher se parecia comigo. Usava acessórios semelhantes, a cor do cabelo e até mesmo estava grávida. Mas eu não seria capaz de tamanha deslealdade. Jasper argumentou dizendo que eu havia trazido um homem para a nossa casa, burlando toda a segurança e o levando para a nossa cama. Ele ainda continuou dizendo com nojo que o homem amarrado naquela cadeira era ele, por uma ordem minha e que ele jamais aceitaria aquele tipo de traição, que era imperdoável. Eu me levantei extremamente revoltada, parti para cima dele lhe batendo com toda a força que eu possuía. - Respira fundo - Me chamaram de louca e desacreditaram de mim, a minha própria família. - Balança a cabeça em negação - Eu fiquei muito zangada, passei mal e fui parar no hospital. A minha gravidez passou a ser de risco dali pra frente. Passei dias sem falar com o Jasper, evitava o contato físico e visual, sentia ânsia de ficar no mesmo lugar que ele, por isso o evitava a todo o custo. Quando completou uma semana, os nossos pais decidiram que o divórcio não iria acontecer e estabeleceram um contrato. Poderíamos nos separar, mas após completar onze anos de casamento. Mais uma vez, eu me revoltei. Critiquei eles e disse que de maneira alguma aceitaria aquela decisão estúpida. Jasper também se negou, falou que fugiria, caso fosse preciso. Mas novamente a nossa opinião foi descartada, não era uma opção. - Pega um livro em uma estante atrás da mesa - Mesmo morando juntos, não nos falávamos. Contratei um detetive e especialistas em informática para descobrir o que havia de errado por trás daquele vídeo da suposta traição e fui informada de que o contexto, o conteúdo havia sido completamente modificado. Jasper contratou uma mulher parecida esteticamente comigo para fazer aquele papel ridículo e queimar a minha imagem diante dos nossos familiares. - Devolve o livro com força no seu local original - Com o tempo, criamos maturidade, aprendemos a conviver com aquilo que nos fez mal, mesmo eu nunca tendo superado o que ele foi capaz de fazer comigo. - Se levanta - Quando finalmente pudemos nos separar, foi um dia de alegria para ambos, os gêmeos já estavam grandinhos. Eu deixei claro que não queria o Jasper perto dos meus filhos e ele respeitou a decisão, inicialmente. Mas após alguns meses longes, ele soube por um dos dois que eu poderia estar novamente grávida, visto que infelizmente em uma das vezes, nós possamos ter tido uma terrível recaída. - Bufa - Eu não culpava os meninos, eles eram pequenos e não sabiam o que podiam ou não sair contando. Mas o Jasper a partir daquele momento, se negou a ficar longe das crianças e ameaçou tirá-los de mim, alegando mais mentiras e calúnias caso eu o proibisse. Eu hesitei, mas decidi ceder, afinal, eu gostando ou não, ele continuava sendo o pai e possuía o mesmo direito que eu. - Nos encara - Novamente tudo se complicou, ele havia se formado e se tornado o novo advogado da família Guarnieri e sabia todos os seus direitos. Abusava do poder e do reconhecimento que tinha para conseguir o que queria. Quando Aaron e Niall nasceram, ele cismou que os filhos não poderiam crescer longe do pai, assim como aconteceu com os dois primeiros. Eu também consegui um excelente advogado para defender a mim e aos meus filhos. Eu tinha uma casa, um emprego, era formada, tinha quatro lindos e saudáveis filhos e dava conta perfeitamente bem de tudo. Ele não poderia me derrubar tão facilmente, mas manipulou as pessoas para isso. Ele organizou uma festa na minha casa, enquanto eu trabalhava no hospital. Quando voltei, o local estava repleto de homens seminus, som estridente e as empregadas se passavam por convidadas. Aaron e Niall estavam no cercadinho, no centro de todo aquele alvoroço. Jasper aguardou alguns minutos após a minha chegada, para surgir com a polícia e um juiz, alegando que eu era uma péssima mãe e que não havia cabimentos uma pessoa que vivia em festas, farras e bêbada, cuidar dos seus filhos e exigiu a guarda deles. Ali iniciamos uma guerra judicial sem fim. Eu tentava me igualar, mas ele sempre conseguia se sobrepor. - Revira os olhos - Até que enfim, eu consegui estar um passo à frente. Tive que me rebaixar e deixá-lo encurralado, para poder então, ter paz. O que eu fiz não é se de orgulhar, mas precisava ser feito. Joguei sujo quando consegui que toda a sua fortuna e reputação fossem temporariamente pro poço. Foi um processo longo e trabalhoso, mas o juiz pediu para que pessoas, incluindo policiais e uma assistente social ficassem de olho em mim e nos meus filhos. Queriam me pegar no flagra, mesmo que não houvesse nada contra mim, a não ser o que foi armado. O juiz quis avaliar nós dois, investigando a vida de ambos antes de decidir aceitar a proposta de me tirar a guarda dos meninos. Eu deixei que ele investigasse o quanto quisesse sobre a minha vida, o hospital, as quatro babás que os gêmeos já tiveram e que se rebaixaram para duas.. A escola deles, professoras, os empregados da casa, absolutamente tudo! E quando foi a vez do Jasper, eles encontraram algo que eu não esperava. Uma das pessoas que eu contratei, havia sem o meu consentimento, colocado uma arma escondida entre a gaveta da louça. A sentença era de dois à quatro anos, mas o seu advogado conseguiu aliviar, até conseguir provar a sua inocência. Portanto, Jasper passou três meses preso e ainda teve que pagar uma multa alta para obter a liberdade completa. Eu pedi para que tudo que havia sido tirado dele, fosse imediatamente devolvido, sem exceção. Quando ele voltou com os olhos brilhando de ódio, escorrendo veneno, me acusou a todo instante, e dizia querer vingança. - Estala a língua no céu da boca - Apesar de tudo, eu o ignorei e não levei a sério as suas ameaças ridículas. Um grande erro. - Abaixa a cabeça fitando seus saltos - Uma noite, me vi obrigada a passar a noite no hospital, haviam muitos problemas a ser resolvidos, arquivos bagunçados e no dia seguinte teria uma longa reunião, não daria tempo. Então, eu virei a noite no trabalho e dobrei o turno das babás. Me lembro bem desse dia, quando o relógio virou indicando exatas quatro horas da manhã em ponto, recebi uma ligação. Eu me assustei, obviamente, quando atendi era uma das babás em completo desespero. Eu não fiquei nada diferente quando soube do que se tratava, quase tive um ataque cardíaco quando ouvi que os meus filhos haviam sido sequestrados. O desgraçado do meu ex marido entrou sem permissão na casa e os levou, mesmo com os pedidos insistentes de todos os empregados para não fazê-lo. Levou todos os quatro e não atendia o celular. Jasper sumiu durante seis dias. Eu fiquei louca e quase uma semana sem notícias! Acionei imediatamente a polícia de todas as cidades ao redor de Britton City, a marinha, bombeiros, aeroportos, pousadas, hotéis, motéis, casas para alugar, apartamentos, condomínios, restaurantes, chácaras, fazendas, supermercados, tudo! Ele deu um jeito de desaparecer completamente, sem deixar nenhuma pista sequer. Eu mal dormia, não saia do trabalho, ficava grudada no telefone, esperando uma mera ligação que nunca chegava. Um dia, o telefone fixo de casa tocou, às duas da madrugada. Eu atendi totalmente anestesiada de remédios, foi quando ouvi aquela voz doce me chamar de mamãe. - Sorri - O meu coração estava descontrolado, mas eu respondi afobada e desesperada, ao meu Enzo. Perguntei aonde ele estava e se estava bem. Ele me disse que o papai havia levado ele e os seus irmãos para um lugar onde as crianças que não tinham pais moravam e que estavam bem, mas com muita saudades. Eu gritei pela Morgana e pedi para que ela chamasse os policiais encarregados do caso. Estávamos procurando nos lugares errados. Pedi para que o meu filho desligasse e não contasse ao seu pai que havíamos conversado. Enzo e Filipe já tinham quatro anos na época, eram incrivelmente espertos para aquela idade. - Ambos se entreolham rapidamente - Não esperei o dia amanhecer e já estava pronta para ajudar a procurá-los. Mas não consegui aguentar de pé, o sono que havia sumido de mim, veio com intensidade naquele dia por conta do remédio que um médico, amigo meu me, obrigou a tomar, alegando ser para o meu próprio bem. - Cruza os braços e as pernas encarando a tela brilhante do computador - Despertei afobada e ansiosa por notícias. Tudo parecia inacreditávelmente calmo. Assim que saí do quarto, Morgana estava no corredor, à minha espera. Ela me disse que tinha uma coisa importante que eu precisava ver. Eu não estava com cabeça para isso, tinha medo de que a ligação com o Enzo não tivesse passado de um simples sonho, mas ela insistia com aquela conversa. Eu achava que a Morgana queria me ver mais infeliz, visto que me levou para o quarto dos meninos. Após ela ter aberto a porta, foi inevitável eu não me emocionar. Os meus gêmeos estavam ali, todos os quatro, dormindo serenamente em suas respectivas camas e berços. Eu chorei baixinho, enquanto beijava o rosto de cada um. Questionei a governanta sobre o que tinha acontecido enquanto eu dormia e ela me relatou que a polícia foi sem delongas atrás da única pista que possuía. Niall, Filipe, Enzo e Aaron foram encontrados em um orfanato abandonado, onde o Jasper deu um jeito de deixar habitável para que pudesse escondê-los durante certo período. Eu vivi os piores momentos da minha vida, Aaron e Niall ainda eram bebês quando tudo aconteceu. Incrivelmente, nenhum de vocês parece se lembrar do ocorrido. Depois disso, Jasper perdeu totalmente a guarda e permissão para se aproximar das crianças. Foi a partir daí que eu passei a ficar controladora. Contratei uma grande quantidade de seguranças, comprei câmeras, fechei a mansão para visitantes e me tornei uma mãe superprotetora. Eu não me permitiria perdê-los novamente. E também, foi por isso que o proibi de vê-los, mesmo ele sendo o pai. - Morde o lábio inferior - Para o meu azar, infelizmente, o contrato estabelecido pelos nossos pais, mesmo após ter falecido, possuía uma cláusula vitalícia, onde dizia que um negócio só funcionava com a contribuição do outro. Ou seja, o hospital e a empresa dele nos obrigava a trabalhar juntos, mesmo que indiretamente. Por isso, o sobrenome dele ainda faz parte do meu. São apenas negócios de trabalho que nos unem, nada mais. - Explica mexendo nervosamente as mãos - Com o passar do tempo, vocês foram crescendo e exigiam a participação dele em suas vidas. Era um direito de vocês, mesmo eu me negando. Entretanto, vocês os viam uma vez por mês e nos jantares formais. Era mais que suficiente. - Se levanta mais uma vez se posicionando a nossa frente - Entendem agora o por quê de eu agir assim? Nada que eu faço é pro mal de vocês, eu sempre procuro o melhor para a minha família. - Declara por fim, parecendo ter tirado um enorme peso das costas, mais aliviada.
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Anything Can Happen
Teen FictionDepois da morte da mãe e a privação de acompanhar o funeral, Makayla pensou que nada mais pudesse surpreendê-la, até ser mandada sem aviso prévio para um dos internatos mais caros da região. Mas os problemas só estavam começando. *Sinopse Atualizad...