Capítulo 15 - Colapso

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Anabella já havia dormido, agora definitivo, ele a deixa em seu berço. Do lado de fora do quarto dela, Alfonso esfrega as mãos asperamente pelo rosto, pensando no que fazer, olha no relógio: 22h35pm. Mesmo sem ter comido nada, guarda as panelas, do almoço que a mulher que esporadicamente o ajudava, havia preparado. E sem mais o que fazer, também se deita. Abre os olhos e encontra o teto.

 "Não suporto essa cama, hunf. "

Sua dor de cabeça não havia passado. Levanta, vê a filha ainda dormindo e vai para a sala.

Se sentia um pouco fraco, tropeça no sofá e esbraveja. Liga o som, mas abaixa bem o volume, porque avista o telefone num móvel de canto. Pega aparelho sem fio se dirigindo à ampla porta fechada que dava para a varanda, disca para o celular de Anahí. Chama, chama, como sempre, mas de repente uma voz feminina atende. Alfonso arregala os olhos.

"Já passaram o número dela!!" Incapaz de responder; a mulher desliga. 

Atônito, Alfonso continua ouvindo o sinal, as lágrimas escorrem. Já estava segurando o choro há muito tempo. Desde aquela consulta, seus sentimentos estavam mais revirados, ele só queria chorar. 

Sem querer,  esbarra no sensível botão de volume do controle do aparelho de som, que vai aumentando automaticamente, liberando a música.

- Esse telefone é da Anahí! Não podiam tê-lo passado! É dela! Eles não têm consideração! - esbraveja e respira ofegante.

Com raiva, deprimido, com uma baita dor de cabeça e atormentado pelo arranjo musical barulhento, ele se vê atordoado. Taca o telefone num grande espelho que ficava numa parede da sala, fazendo um grande estrondo e os cacos caindo ao chão. Meio perdido, vai catar o telefone, mas esbarra num dos cacos que lhe perfura um dedo, sangrando rápido. Ele não dá muita atenção ao ferimento, retira o caco e o sangue pinga, manchando o carpete claro. Ele só passa o dedo sobre, mas continua a esvair. Ele se levanta, deixa o telefone no lugar, mas não na base e desliga o som."Ai, minha cabeça" 

Passa o dedo sangrando no rosto. Olha a filha novamente no berço, dormia. Só mudara de posição. Talvez pelo barulho.

No banheiro comum, ele lava o dedo, mas não para de sangrar. Evitando se olhar no espelho, abre o armário ali mesmo, e pega uns remédios. Comprimindo os olhos por causa da dor de cabeça, lê os rótulos e leva dois vidros a sala. Vira dois comprimidos de cada pote na boca e se estica no sofá. 

Dulce acabara de chegar em casa e seu celular na bolsa começa a tocar. Ela tranca a porta e começa a caçá-lo. Às cegas, atende. Era Christian:

- Dulce, é Christian.

- Oi Chris. - ela franze a testa - Tudo bom? Há quanto tempo...

- Meio ocupado...

- Hum, e aí, o que me conta de novidade?- Na verdade, te liguei por causa de Alfonso. Sei que é antiético falar sobre um paciente, mas você já sabe a história e estou muito preocupado com ele.

- Por quê? - tirando as sandálias no meio da sala.

- Falamos sobre algo muito desagradável para ele e receio sua reação. Mexeu muito com ele. Se puder ligar, ou visitá-lo... Hoje!

- Chris, está me preocupando. - já ia para o quarto.

- Só queria que você desse um telefonema.

- Ligarei.

- Obrigado, Dulce.

Assim que desliga, joga o celular na cama e resmunga: - Todo mundo só me liga pra pedir favor! Dulce, a boazinha da história! - ela reclama tirando a blusa. Olha seu relógio de pulso: 23h30. - Trabalhando até essa hora! Isso é vida? Você precisa de um namorado, Dulce María!... Eu vou ligar pro Poncho essa hora? Ele já deve estar dormindo por causa da menina... Mas por desencargo de consciência... - e disca.

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