Alfonso pega o primeiro táxi que vira passar. Em seu colo, Anabella já estava calma. Tomava a mamadeira que afortunadamente Maite havia colocado na bolsa. Olhando pela janela, desvencilhando de qualquer conversa com o motorista, Alfonso arquitetava o que fazer.
Christopher almoçava com a mãe num restaurante próximo a sua loja e contava o sucedido a ela:
- E aí foi tudo um engano só. Graças a Deus não passou disso, senão quebrava a cara dele.
- Que coisa terrível, Christopher! Como vocês puderam pensar tal coisa?
- Ah, não sei, mãe. Eu ouvi isso, fiquei doido. Mas era só uma alergia.
- Pois é, eu ia falar com Poncho naquele dia que Bella dormiu lá, mas esqueci. Eu vi quando troquei a fralda dela, é alergia, sua irmã também teve isso quando bebê. Anabella, igual.
- Eu não sabia.
- E você nem me falou nada! Deve pedir desculpas a ele...
- Eu não! Não vou pedir nada. E o soco que dei nele foi bem merecido.
- Christopher, por Deus! Assim só vai fechar as portas de Anabella lá em casa.
Alfonso depois de muito pensar onde deixar Anabella – já que não queria que fosse na casa de algum parente consegue deixá-la na casa de uma amiga sua e de Anahí. Já não a via há um tempo, mas sabia que era uma boa pessoa. Tinha duas filhas gêmeas de oito anos. A promessa era que Alfonso não se tardaria mais que duas horas. Só ia resolver uns assuntos, mas não tinha com quem deixar a filha. A amiga aceita. Ele deixa a bolsa da menina e um dinheiro, caso precisasse comprar algo. Ela recusa, mas Alfonso insiste.
Vai em casa pegar seu carro e parte a um lugar em que jurou que não voltaria: ao cemitério.
"O que eu to fazendo aqui ?" – balança a cabeça em negação – "Eu preciso".
Era uma briga entre seus "eus", enquanto caminhava em direção ao túmulo de Anahí. Cabelos desalinhados, barba por fazer e cabeça baixa com mãos nos bolsos. Se perde lá dentro e passando entre as lápides, deplorava a vida:
- Vida miserável! Que vale a pena viver pra acabar aqui? Enfim, encontra. Para diante da lápide. Havia algumas poucas flores. Pessoas que se comoveram com o caso, ainda vinham trazer flores. Ele suspira fundo. Não podia acreditar. O amor de sua vida, ali. O que ainda restava dela. Separados por palmos de terra e a diferença entre vida e morte.
Mais uma vez suspira e sussurra seu nome, cerrando os olhos.
"Que idiotice, como se ela pudesse me ouvir."
Vira-se para ir embora, mas para."Não, eu preciso fazer isso ."Se agacha:
- Ana... sei que isso é inútil, eu tinha que falar com você viva, mas... eu preciso me despedir. Eu não conseguir fazer isso quando... te deixei aqui. Eu fui um covarde, mantive a pose... Mas estava doendo por dentro, está doendo aqui. – amassa a camisa na altura do peito. – Eu sinto muito sua falta. – seus olhos maream. – Anahí... eu só vim me despedir. Ontem ouvi uma canção que me fez ver que eu preciso disso. Eu olho seu retrato a todo tempo e revejo como se fosse hoje. Eu lembro quando nos beijamos, e sinto.... Eu lembro as coisas simples, lembro quando dançamos, quando cantamos, lembro e choro. E eu não quero isso - ele luta com os olhos para não transbordarem - Mas eu não posso mais pensar em você, ou não vou viver e tenho nossa filha para cuidar. Estou fazendo o meu máximo pra cuidar bem dela. Ela tem seus olhos... – pausa tentando se controlar, mas se insulta - Pra que eu to fazendo isso? - Desvia o olhar do túmulo, as lágrimas caem. – Tudo que eu queria era uma segunda chance. - levanta o rosto ao céu - Meu Deus, uma segunda chance! Poder recomeçar de novo, te amar de novo... Eu te amo. – passa a mão no rosto, cerra os olhos e se vai sem olhar para trás.
Batendo a porta de seu carro, que ele solta a respiração. Vê em seu celular: dezesseis ligações. Entre pais, irmã, sogra, e desconhecidos. Não retorna nenhuma. Passa mais uma vez a mão nos olhos, ainda mareados e vai embora dali.
Desligado no trânsito, para num sinal batendo os dedos no volante aguardando o som das buzinas lhe indicar que podia seguir adiante . Entediado, chateado, deprimido... De relance olha na janela em seu lado esquerdo e algo lhe chama atenção, arregalando os olhos. Seguia na direção oposta, na via de mão dupla. Ele continua a seguir com o olhar até que escuta buzinaço, nem percebe ter diminuído a velocidade para olhar quem passava do outro lado.
Sem pensar duas vezes, ele vira bruscamente o carro, caindo na outra mão da via, por Deus sem acidentes, mas dando susto aos outros motoristas e transeuntes que param para ver o feito.
Alfonso breca o carro junto a calçada fazendo um forte barulho de freada que paralisa a mulher que ele olhava. Muito rápido, sem pensar, desce do carro indo em direção a ela, que se assusta. Estava paralisada junto com os demais com a manobra e o barulho do pneu. Quanto mais ele se aproxima dela, ela se amedronta, já ia fugir, mas ele a agarra, tapa sua boca e a joga no banco de trás do carro. Travando a porta, entra no motorista e parte cantando pneu. Nem dava tempo de alguém reagir .A mulher amedrontada chora, tenta abrir a porta do carro:
- Por favor, me deixa, me solta, não tenho dinheiro, por favor! – desesperada.
Alfonso detinha atenção na rua, no retrovisor - se alguém o perseguia - e no espelho dentro do carro, para a mulher. Sua atenção era mais nela do que em qualquer coisa. Sua roupa encardida, seu choro copioso, evitando olhá-lo. O coração de Alfonso palpitava acelerado por essa aventura. Não podia acreditar. Como podia ser? A mulher não o olhava:
- Ei! - ele repete duas vezes para que ela levantasse o rosto. E quando ela o faz, amostra seus olhos azuis mais claros pelo medo. Alfonso sente uma tontura, confuso. Ela implora:
- Por favor, não me faz nada. Não me mata. Tudo que eu tenho é isso. - umas notas amassadas e moedas, que visualmente Alfonso não contava ser grande valor. E ela continuava a implorar, mas Alfonso como que surdo, só a olha pelo espelho, seus cabelos longos mas descuidados, ressecados, desbotados pelo sol.
O que é isso? Como é possível?" Seu raciocínio estava longe da compreensão. De repente diante de... Anahí?
Ele sacode a cabeça – "Deve ser um sonho "- mas ela ainda estava no espelho, no banco de trás de seu carro, chorando... Não era uma ilusão. A mulher tinha medo do jeito que ele a olhava, fixamente. Tenta abrir a porta do carro em movimento.
- Por Deus, nem tente! Está travada. – Alfonso diz calmo, ou pasmo.
- Por favor, senhor, não me mata...
Alfonso só pensava: "Será uma irmã gêmea? Não... Marichelo não seria capaz de abandonar uma filha, que isso."... e ele pergunta:
- Quem é você?
- Eu não vou dizer! Me solta! Por favor!
Alfonso continuava a dirigir sem nem saber para onde. Não podia levar uma copia de Anahí a nenhum lugar conhecido, causaria espanto em todos... Ainda mais nos trajes que estava! - uma camisa de malha encardida e um jeans bem largo com chinelos.
- Quem é você?! - e ele repete mais firme - Como se chama? Onde vive?
E a mulher chora mais alto. Alfonso estava fora de si, precisava entender, grita:
- QUEM É VOCÊ?!!
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Nostalgia
Детектив / Триллер"Marido é principal suspeito no desaparecimento de gestante: Com novas investigações, para a polícia, o principal suspeito no sumiço de Anahí Herrera é seu marido. 'Ele foi o último que a viu no dia, mas falou com ela por telefone e depois disso a m...