No trabalho, Dulce e Christopher, ambos com um enorme copo de café, pegam o mesmo elevador e se cumprimentam timidamente.
Christopher que conversa: Estou cansado, pacas. - esfrega a mão no rosto.
- Por que? Farra, né, mulherengo?!- Que nada. Ontem fez cinco anos da morte do meu pai. Estava lembrando. Me deu uma insônia...
Dulce se constrange: Perdão... me esqueci.
- Você não tem culpa.
-E sua mãe, como está?
- Não comentou nada. Só continua não suportando que mencionem o nome de Anahí.
E chegam ao andar do jornal.
Marichelo em seu quarto , abre uma gaveta e dentro de uma caixa enfeitada retira um envelope branco, uma carta, ela senta-se na cadeira na sacada do quarto e lê com os olhos, mas era como se ouvisse Anahí lendo para ela:
"Querida mamãe ,
Ai, como sinto sua falta, mãezinha linda! Obrigada pelo lindo presente que deu a Bella. Ela amou a mantinha lilás. Tenho certeza! Todas as roupinhas dela são rosa! Não me contenho e tudo rosa eu compro. Não vejo a hora de vê-la. Ontem no meu sonho a peguei. Foi uma briga com Alfonso, ele é muito ciumento. Rss Mamãe, obrigada por estar comigo nesse momento. Não faz idéia o quanto é importante sua ajuda, seu apoio, seu carinho, sua experiência e aquelas idas as compras! Agora as coisas mudaram muito. Ultimamente o tempo está corrido, o trabalho, últimos cuidados, arrumar as coisas e por isso não temos nos visto tanto, mas não tenha dúvida que está sempre em meu coração. (Será que minha filha vai me amar tanto quanto te amo?)Olha, cuida dos meus bichinhos, tá? Prometo que quando mudar para a casa nova, eu te livro deles. Não deixa a iguana muito no sol. E refresca sempre o lago dos cágados. Perdoe todas as burradas dessa sua filha cabeçuda !Beijinhos no Chris e põe juízo na cabeça dele!Guarda minha cartinha! Sei, eu sou velha, uso os correios. É mais pessoal e carinhoso.Beijos melados de sua netinha!"
Marichelo dobra a carta aos prantos:- Filha! Me perdoa!
Ruth passeava com a irmã: - Depois de resolver esses compromissos, sei que vão levar o dia todo...
- Depois quero passar para ver Alfonso. Como ele está? – pergunta Raquel, sua irmã.
- Bem dentro do possível, cuidando de Anabella sozinho...
- Ele ainda não conseguiu uma babá? Ele não pode ficar sozinho cuidando de um bebê.
- Ele não quer. Diz que vai cuidar filha, que ele que tem que fazer isso, foi o trato com Anahí, ou a família vai querer tirar a menina dele. Então...
- Ah, meu Deus, ainda essa historia ?
- Ainda... Mas minha neta está muito linda! Parecidíssima com Poncho!... Tenho mesmo que passar lá para levar umas roupas novas que comprei pra ele.
- Você tem as chaves?
- Tenho. Depois de tudo que aconteceu, a mulher da casa sou eu!
Alfonso na poltrona de balanço do quarto da menina, tentava ler um livrinho de pano para a menina deitada em seu colo. Ela segurava o livro, puxando, lutando contra o sono. Anabella batia no livro, que de pano, era mole, o impedindo de ler. Ele lhe dá a chupeta pacientemente, e volta a ler:
- A princesa desceu as escadarias do castelo correndo, com seu vestido de festa na mão...
Anabella larga a chupeta que cai ao chão. Alfonso fecha o livro e levanta com ela, a colocando de pé, a menina deita a cabecinha em seu ombro choramingando. Alfonso suspira e lhe afaga as costas:
- Sente falta da sua mãe, não é? Ela não podia ter nos abandonado.
A menina lhe passa a mão no rosto se fixando na barba por fazer e Alfonso cantarola uma música para que dormisse. Logo que a deixa no berço, sai do quarto deixando a porta entreaberta... A sala silenciosa, fora os latidos de Pancho querendo sua atenção. Não havia mais fotos de Anahí na casa, mas sua lembrança remetia a ela, e todas as noites, quando cuidava da menina, sua falta, e raiva, era o que mais sentia. Pega o telefone e disca rapidamente, seus dedos eram automáticos no número. Dela.
Nenhuma resposta.
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- Esta é Ana, minha filha. – Alfonso mostra a foto a Christian.
-Muito bonita. Ela parece com você.
- Menos os olhos... Deveria parecer toda com Anahí.
Christian franze a testa e lhe entrega a foto: - Mas se vocês não queriam filhos, me conte como veio essa preciosidade.
Alfonso reluta no começo: - Já tínhamos quatro anos de casados. Um casal feliz, só que éramos só nós dois. A família pressionava, nossos amigos cobravam... Eu queria ser pai... Mas Anahí ainda tinha muito medo, ela não sabia lidar com perdas, por isso relutava em engravidar. Droga! – expressa com raiva – Mas aconteceu. Anahí começou com umas tonturas e se recusava a comer. Eu já suspeitava, ela negava para si mesma, mas eu precisava tirar a dúvida e como ela ia para o trabalho comigo... Eu passei numa farmácia e comprei um teste. Depois de muito insistir, brigar, me xingar, ela fez o exame na veterinária onde trabalha. Ela chorou, depois ficou feliz. – ele esboça um sorriso - E no dia seguinte, confirmamos com um exame de sangue. Daí foi só felicidade. Não esquecemos o aborto, tanto que essa gravidez foi muito mais cuidada. Contamos aos nossos pais somente um tempo depois, num jantar em nossa casa... Até os quatro meses de gestação, não saíamos, não fazíamos nada que pudesse causar algum dano ao bebê... Foi o melhor presente que Anahí me deu. Por isso que eu mesmo cuido da minha filha. Nem babá eu contratei. Eu que sei o que é melhor pra ela. Anahí já me deixou, eu quase perdi minha filha, por isso não vou permitir jamais que ela se afaste de mim.
- Entendo que você tenha mágoa de Anahí, mas você não deve jogar essa carga sobre alguém que não tem culpa.
- Mas eu não faço isso.
- Suas palavras foram muito duras, Alfonso: "não vou permitir jamais que ela se afaste de mim." Parece que você quer punir sua esposa com sua filha.
- Não! Jamais! Você não me entendeu. Eu amo minha filha... E Anahí também. – confessa - Mas hoje tudo que tenho é minha filha. Já a quiseram tirar de mim.
- Quem?- Parentes de Anahí, mas eu não vou deixar! Ela é minha! - Christian fica um pouco preocupado com as palavras dele - Ana é tudo que me lembra Anahí.
- Mas ela não é Anahí. É uma pessoa independente que vai ter seus próprios gostos, vontades, uma personalidade única que você não deve tolir moldando-a a ser um reflexo de sua esposa.
Alfonso que tinha uma pasta aberta com as fotos que iria mostrar, fecha. Já havia sido demais aquela consulta, falado demais, escutado demais:
- Até mais, Christian. Levanta irritado e cai da pasta - ou melhor, havia ficado fora da pasta sem ele perceber - um recorte de jornal, que Christian pega:
Mas só consegue ler a primeira sentença, porque Alfonso pega de sua mão e sai da sala. Christian fica curioso, franze a testa.
- Uma nota no jornal...
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Nostalgia
Bí ẩn / Giật gân"Marido é principal suspeito no desaparecimento de gestante: Com novas investigações, para a polícia, o principal suspeito no sumiço de Anahí Herrera é seu marido. 'Ele foi o último que a viu no dia, mas falou com ela por telefone e depois disso a m...