Capítulo 22

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Os outros filhos dos caseiros já haviam chegado da escola: José, 16 anos e Laura, 12 anos e são avisados pela mãe:

- Olha, nós temos visita na casa dos patrões. Ele trouxe uma desconhecida que é a cara e focinho de D. Anahí.

José e Laura se entreolham sem entender. Javier, o filho menor, que tinha sido poupado da trágica história de Anahí nem se incomoda, sentado no chão, mordia um pão, com um pintinho do lado que catava as migalhas.

- Tenho que levar comida pra ela. Vocês vão comigo.

- Mas ela é ela, mesma, mãe? – Laura pergunta 

- Não sei. Só sei que é igual a ela. Deus nos livre! Vamos. Seu pai está no celeiro. 

E eles seguem para a casa. Alfonso havia deixado a luz da sala acesa, mas o silêncio na casa ainda os assusta. Laura levava a roupa da mãe para a 'desconhecida'. José, a comida num prato tampado. E Javier e seu pintinho, uma garrafa de suco de fruta. Talvez com os filhos, a 'fantasma' não lhe atacasse.

 Maria fecha os olhos, respira fundo e gira a chave do quarto. A mulher, encolhida no chão próxima à janela, olhar perdido, ao ouvir barulho se senta. Maria abre e ela corre para a porta. Maria fecha correndo tremendo:

 - Ai meu Deus, moça, por favor. Não me faz mal. Só vim trazer uma roupa e comida, por favor, meus filhos estão aqui. Não faz mal pra gente. Só viemos trazer umas coisas...O patrão disse que você está com fome... Se afasta da porta pra eu abrir, por favor.

Pela voz mansa, e por seu estômago vazio, Nina volta para perto da janela. Uns segundos depois, Maria cautelosa abre uma fresta. Mas cada um dos filhos empurra um pouco a porta para ver quem era a misteriosa. Maria pega a roupa da mão da filha:

- Aqui tem roupa. E comida e suco. - põe tudo na cama - Tem água quente no chuveiro e toalha e roupa de cama limpa no armário.

Ao ver as crianças, a mulher se sente um pouco confortada, não seriam tãos maus com ela se havia crianças ali. Apesar de não entender ainda porque estava presa ali:

- Quem mandou trazer tudo isso?

- O patrão. Agora fiquei aí, moça. – Maria responde.

- Espera, mas quem é ... - e Maria empurra os filhos e tranca porta novamente.

Armando chega no apartamento de Alfonso e junto com a mulher e filha, aguarda Alfonso. Eles já se preocupam. Onde ele teria ido com Anabella? O porteiro os avisava que Alfonso nem tinha aparecido. Pancho já estava chorando trancado na área de serviço.

19h50, Alfonso pousa na Cidade do México. Liga para a amiga avisando que já estava indo buscar Anabella, que havia se atrasado. Também liga para casa e avisa que não chegará enquanto estiverem lá. Não queria falar tão cedo com nenhum deles. Passa numa farmácia para comprar os remédios receitados pela pediatra. A receita ainda estava em seu bolso, amassada. 

Marichelo liga para o apartamento de Alfonso para se desculpar por Christopher, mas é informada por Armando que Alfonso não estava. Ele só não dá detalhes da briga em família. Mesmo assim, Marichelo se desculpa com Armando que Christopher era um inconsequente. Um menino toda vida...

Alfonso pega Anabella na casa da amiga. Agradece muitíssimo o favor e caminha pela rua atrás de um táxi. Já estava ficando nervoso. De noite, na rua com a filha, expondo-a ao perigo. Desde a tragédia com Anahí havia ficado muito recluso em casa, e algum mal à  Anabella lhe dava pavor. Por fim um táxi para. E ele segue rumo para casa desejando que seus pais já tenham ido. E vendo que Alfonso não aparecia, eles resolvem ir embora. Minutos depois deles partirem, Alfonso chega no apartamento:

- Chegamos em casa, meu amor. Papai estava com saudades. - lhe beija a bochecha - Pancho! - e o resgata na área de serviço - Te prenderam de novo? - Pancho sai latindo, pulando feliz- Vocês dois, vamos nos arrumar rápido que vamos viajar. Tenho uma surpresa! - Alfonso coloca Anabella no carrinho e Pancho começa a lambe-la. Anabella mexe a perninha o empurrando e rindo para ele. Alfonso empurra o carrinho para o quarto da menina, pega uma mala e arruma algumas coisas dela. Abre o armário, tirando e jogando de qualquer jeito na mala: - Calças, casacos, blusas,vestido... - abre as gavetas - Meias, calcinha, fraldas - abre outra parte- Sapatos. - olha para a filha - Melhor levar alguns, Ana esta aprendendo a andar. - ele pega três pares sem olhar. Nem sabia qual servia. A menina raramente usava sapatos. Anabella começa a resmungar ali no carrinho, sem atenção.

 Logo a pega no colo e vai para seu quarto. A deixa no cercado, que ficava no quarto do casal.Lá havia brinquedos, Anabella se distrai. E ele abre com a chave o closet de Anahí recolhendo algumas coisas... Pega também sua roupa. Joga tudo sem jeito na mala, sem dobrar nem nada. Tinha pressa, ainda enfrentaria horas de viagem...Olha Pancho com o focinho no cercado: 

-Pancho, você também, amigo... Não vai dar pra ir no avião com vocês dois, essas malas. - estala os lábios - Depois eu vejo isso. Vamos tomar um banho, bebê. Ele dá um banho na menina, passa a pomada receitada. Uma roupa quente e lhe dá a papinha pronta. Dá mais ração a Pancho e o leva para área de serviço:

- Hoje não vai dar pra sair, faça suas necessidades aí, e vê se faz, hein!

Na correria, Alfonso deixa Anabella no cercado: Não chora, vou tomar um banho rápido.

E ele toma em menos de cinco minutos. Arruma algumas coisas: documentos, documentos de Anabella, prepara uma mamadeira de leite, uma de suco de laranja lima e uma de água. Guarda tudo na bolsa de Anabella que já chorava sozinha no cercado. Quinze minutos depois, Alfonso entope o elevador de coisas: malas, carrinho de Anabella, andador... Não tinha outra opção: iria no carro de Anahí. Não queria pegar o avião com Anabella e o cão numa jaula, longe dele.O carro de Anahí estava intocado desde que fora entregue pela policia. Agora ele teria que usar. Coloca os carrinhos no porta-mala, e algumas malas. Uma vai no banco de trás. E ele volta correndo para pegar a filha e o cão. Ajeita Anabella na cadeirinha, no banco de trás, lhe dá se cachorrinho de pelúcia na mão:

- Dorme, bebê. Quando acordar vai conhecer sua mãe... enfim.

Ele estava ansioso por isso. Pancho vai ao seu lado no banco da frente, e Alfonso parte com o carro prata de Anahí .Era uma viagem longa, quatro horas, já de noite e cansado... Por isso, para evitar acidentes, vai sem pressa. Mas ansioso por esse reencontro.

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