Capítulo 23

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A mulher alimentada e limpa, com um vestido simples -  e folgado - de Maria, já parecia outra pessoa. Ela tenta forçar a porta, em vão, trancada. Após todo o esforço, sem solução, ela senta na cama, olhando a porta. Também estava cansada, seu corpo pedia descanso.

- Não, não posso. Quando eu dormir ele vai vir me atacar! -Não sabia onde ele tinha ido, mas e se ele aparecesse para violentá-la ? - Nao vou deixar! Antes eu mato ele! - e vai ate a janela - Ai, é muito alto. - olha ao redor da propriedade - E muito grande. Como eu vou achar a saída? - avista dois cachorros grandes correndo. Estava escuro lá fora, mas ela estremece com os latidos. Volta a fechar a janela - O que eu faço, meu Deus ? –Tentava raciocinar. E começa a mexer nos móveis procurando algo que pudesse usar pra se defender. 

Abre as gavetas da cômoda: roupas de cama, meias, toalhas... lanterna, pilha, papel, caneta, três controles remotos ...

 - Nada disso serve. 

Abre o guarda-roupas: cabides vazios. Ela tira um e morde:

- De madeira. - e golpeia o ar como se batesse em alguém - Esse serve! – ela sorri um pouco mais animada. Esconde dois debaixo do travesseiro na cama - Deixa ele aparecer! - e volta a mexer. Travesseiros, lençóis, colchas...

 - Esse é tão bonito. E tão macio... - debruça-se encima de um edredom, quase cai dentro do guarda-roupa e levanta com ele nos braços - Tão quentinho, hmm. - joga na cama e se joga sobre ele - É tão macio, muito diferente daquele sofá duro... - boceja e fecha os olhos.


Dulce chega na entrada do edifício de Alfonso e o porteiro lhe avisa:

- Não tem ninguém na casa, senhorita. Toda a família saiu. 

Dulce agradece e se vai, pensando alto:  Toda a família? Então não houve nada. Eles foram passear, sei lá... 


Ruth liga para o apartamento pela milésima vez e nada de alguém atender, reclama com o marido:

- Eu desisto! Quer saber, eu não tenho filho! Eu não sei porque eu tive filhos! Foi sua culpa, Armando! Estou muito nova pra ter preocupações e cabelos brancos! aff! 

- Sossega, mulher! Ele tem razão, deixa ele quieto um pouco!


Alfonso já na metade do caminho para num posto de gasolina pra abastecer. Ele era cauteloso quanto ao perigo de abastecer o carro, não gostava de permanecer lá dentro e também fazia Anahí descer. Ela ria desse medo dele mas o seguia... Por isso Alfonso pega Anabella e chama Pancho para fora do quarto. Enquanto esperava, alimentava a filha e fazia um lanche. 

- Ah que bonitinha, é sua filha? - duas mulheres que se aproximam. Alfonso confirma - Nossa, é tao difícil ver homens cuidando de crianças, hein... Não é truque pra conseguir mulher, não, né? 

- Não, não mesmo. - Ele acaba sorrindo. Pancho late. Alfonso o repreende.

-E ainda tem um cãozinho!! 

Após a cantada das duas, Alfonso parte. Já passava das 23h.


Christopher chega numa boate e sondando o local arregala os olhos ao ver alguém. Sua namorada que se esbaldava na pista de dança com um copo de bebida na mão. Christopher bufa e de cara fechada pisa duro até ela.  Dois caras a rodeavam, quando ele a puxa pelo pulso a um lugar mais reservado. Ela nem sabia quem era, grita:

- Ei! Você não pode me pegar assim, não, não, eu não deixo! Ic! Oi Chris! É você? - Abre um sorriso e leva o copo à boca que Christopher imediatamente toma- Está louca??! Sua maluca!

  - Meu copo... - ela pede.

Christopher a cheira: Você está bêbada! Droga! Você está grávida, esqueceu?

Ela põe as mãos na barriga e sorri para ele:  Sabe que já chutou? Parece que tem uma coisa dentro de mim. Ic! – e solta uma gargalhada alta.

-Ai, cala a boca, pelo amor de Deus! Vamos embora daqui! 

- Noummm!

- Vamos agora! -e a leva puxando pelo pulso. Os dois homens na pista a observam ir. Um deles olha para o outro que parecia querer ir atrás.

- Você veio de quê ? – Christopher pergunta já fora da boate. 

Ela ia dançando pela rua: eu vim com amigusssssssssssss.

- Grandes amigos! Entra! - a empurra para dentro de seu carro; ela cai como abóbora no carona e da uma gargalhada.

Christopher vai para a direção e começa o sermão:-

 Minha irmã quando estava grávida não colocou uma gota de álcool na boca! Você não sabe que faz mal ao bebê ?! Traz várias deficiências e tal! Você faz pré-natal pra quê ?! Seu medico é muito caro pra você jogar meu dinheiro na lama assim!

- Acho que eu vou vomitar! 

- Não, no meu carro, não!! 

 Christopher leva a namorada para o apartamento dela: Cadê as chaves? 

Ela tira de dentro do sutiã : Aqui ó! - balançando. Christopher puxa da mão dela abrindo a porta - Está me dando enjôo de novo!- Ele abre e ela corre ate o banheiro, despejando toda a bebida.

Christopher na porta do banheiro se despede: Passar bem! -  a deixa sozinha no banheiro fechando a porta. Vê a sala bagunçada como sempre, mas além, varias sacolas de griffes, de sapatarias caras. Roupas novas. Nada para o bebê.  Só pra ela.

- Não quero me aborrecer mais, senão faço uma besteira! -e vai embora.

Alfonso chega no sítio as 2h da manhã. Pedro o esperava acordado, segura os dois cães de guarda que estavam soltos. Ele fecha o portão e Alfonso o espera no carro para um carona. Pedro solta os cães e aceita, senão teria que descer ate a casa a pé:

- Obrigado, patrão. Como está o trânsito aí? Não veio de avião?

- Essa hora é tudo calmo. E de avião não dava pra vir com ela, o cachorro, as coisas todas.

- É mesmo. - Olha para o banco de trás - Benza Deus, dorme como um anjinho. 

Alfonso concorda: E ela, já comeu ? – se referindo a mulher que ele havia trazido da rua.

Pedro custa um pouco a entender: Ah sim! Maria disse que sim.

- A luz do quarto está acesa.. A ferinha deve estar acordada.

Pedro sorri. Na entrada da casa, Pedro ajuda Alfonso a descarregar as malas, os carrinhos... e se despedem:

- Obrigado,  Pedro.

- Amanhã cedo eu prendo os cães. Boa noite, patrão.

Alfonso fica no quarto debaixo para não chamar atenção da mulher lá encima. Chama Pancho para que o seguisse, que se acomoda aos pés da cama já querendo dormir.  Alfonso deita Anabella que nem acorda. Faz um muro de travesseiros em volta dela e apaga a luz do quarto, deixando acesa a do banheiro, com a porta entreaberta.

 Ao abrir a porta do quarto para sair, Pancho levanta: 

- Fica aí tomando conta dela. – diz Alfonso ao cão e fecha a porta. Sobe as escadas rapidamente e gira a chave que estava na fechadura do quarto da mulher. Devagar, sem barulho... Com a luz acesa, ela estaria acordada e não queria assustá-la entrando no quarto aquela hora. Mas se surpreende ao encontrá-la dormindo profundamente no meio do edredom, com um mão sobre a barriga e outro braço estendido na cama. A posição que ela mais dormia quando grávida. Ela parecia dormir tranquilamente, uma aparência relaxada.

"Menos mal."  Apaga a luz e sai, trancando a porta. Ela dormia mesmo. Não fingia.

Alfonso estava cansado. Fora um longo dia. De volta ao quarto, só tira o sapato e se joga na cama, tirando alguns travesseiros de em volta de Anabella. Lhe dá um beijo e fica olhando para o teto."Como ela pode ser Anahí? Não entendo. Com que propósito a mulher mentiu ?" Apesar de querer entender, é vencido pelo sono.

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