Capítulo 29

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Christopher se cansa de esperar. Desce correndo as escadas do prédio de 8 andares, que não possuía elevador. Lá embaixo, a namorada saía de um carro.

- Valeu, amanhã te vejo. – ela se despede com a cabeça dentro da janela do carro - Nos falamos mais tarde. Beijo. - morde o lábio e acena enquanto o carro se vai.

Ela, distraída, assobiando, entra no prédio e dá de cara com Christopher saindo. Leva um susto.

- Chris!

Christopher estava irritado por ter esperado tanto: Onde você estava?

- Eu fui às compras. - levantando as sacolas.

- Pra você, aposto! Não bastam as bolsas e calçados que você comprou, não?! E que homem é esse com quem você saiu?

- Comprei umas coisas sim, mas são para o SEU filho! E é verdade, eu comprei umas coisas pra mim noutro dia, mas é porque eu estou perdendo tudo! Sabe, minhas roupas eram isso! - mostra o dedo mindinho - Mas já não me cabe nada! Você quer que a mãe do seu filho ande nua? É assim que você me trata, Christopher? Eu estou sensível! Mas se você quiser cancelar os cartões, tudo bem, eu não me importo! Eu vou trabalhar pra comprar as coisas para o SEU filho! - falava alto querendo chamar atenção de algum vizinho e já ameaçava chorar.

- Desculpa! Calma! E quem era o homem?!

- Homem? Mas que homem?

- A vizinha falou que você saiu com um homem!

A namorada passa a mão nos cabelos, revira os olhos: Maldita fofoqueira, é meu tio! São os únicos parentes que tenho na cidade, meu tio e minha tia, e ele me levou para vê-la. Não é só você que tem família, eu também tenho direito de ver a minha!

Ele pega as três leves sacolas da mão dela: Não precisa chorar. Faz mal para o bebê. Por que não me chamou pra ir com você? - eles já caminham para a escada, indo para o apartamento dela.


Enquanto Nina olhava as fotos nos porta-retratos sobre a falsa lareira da sala de estar, Alfonso falava ao telefone:

- Não, não voltarei por agora. Então avise Guadalupe que ela só precisa ir uma vez por semana.

- ...

-Ah e que deve alimentar os peixes. A comida fica na primeira porta do móvel onde está o aquário.

- ...- Sim. Todos os dias. Você tem as chaves, Manuel. É só jogar as iscas. O aquário tem um sistema de autolimpeza, é só alimentar.

- ...

- Manuel, só mais uma coisa. Não avise que liguei, a ninguém.

- ...

- Bom dia. - e desliga.

Nina pergunta: Essa era sua esposa? – com um porta retrato na mão.

Alfonso coloca o telefone no lugar e se aproxima sorrindo: Não. Essa é minha irmã, Maite.

- Ah, muito bonita! 

- Eu concordo. - e amostra as outras fotos - Essa foto é aqui do sítio, se você forçar muito, consegue me ver ali de branco e aqui minha mãe.  Meu pai quis pegar toda a paisagem, saiu assim distante... Esses são meus pais: Ruth e Armando. - apresenta as outas fotos - Meu cunhado com minha irmã. 

- Você tem uma bonita família. E parece bem unida... Se eu tivesse uma, não brigaria e não me afastaria deles por nada. - Alfonso engole a seco - E não tem foto da sua esposa?

- Não. Minha mãe retirou todas quando ela faleceu, como se assim fosse mais fácil esquece-la. "Preciso tira-las do porta-luvas antes que ela veja." 

- Sinto muito. 

- Não foi culpa sua... E eu sinto que Ana ainda está comigo.

- Ela chamava Ana?

Ele demora a responder pensando se diria o nome verdadeiro ou se daria esse nome a desmemoriada. Tinha dúvidas quanto a que achava melhor fazer. Nina o olha esperando uma resposta, Alfonso desperta dos pensamentos e a resposta vem:

 - Anahí. Mas eu a chamava de Ana. - cerra os olhos e os abre rapidamente, esperando alguma reação da mulher.

- É diferente, bonito. - e ela nem se recorda.Ele solta um suspiro aliviado e audível para ela. Que ela interpreta de outra forma - Perdão. Estou te fazendo relembrar coisas desagradáveis, me desculpa. Não vai se repetir.

 - Não, não é desagradável falar dela. Não se preocupe... Er, já pensei num nome pra você.

- Qual ? - Alfonso pega a mão dela e a conduz ao sofá. Ela senta-se, mas se afasta um pouco dele- Giovana! Que acha? Eu particularmente gosto desse nome. - Era o segundo nome de sua esposa. Anahí Giovana. Mas todos só a chamavam de Anahí, Any, Ana... Alfonso quando queria pertubá-la a chamava de Giovana, fazendo piada com a escolha dos sogros e ganhando um palavrão de resposta dela. A lembrança o faz esboçar um leve sorriso.

- Eu, Giovana? Eu gosto!

- Agora já posso te apresentar as pessoas com um nome.

- Giovana. - ela repetia.

- Bom, a primeira coisa que farei é marcar uma consulta com um bom neurologista pra você. Você não deve ficar sem memória, sem lembranças, deixando alguma família sofrendo buscando por você. Eu vou te ajudar.

- Você não imagina o quão frustrante é não se recordar de nada do passado, não saber de onde veio, quem você é...

Alfonso respira fundo: Eu imagino... - suspira -  Mas o médico vai dar um parecer, indicar algum tratamento e se Deus quiser você se lembrará de tudo.

- Sabe, eu acho que tenho medo do que vou descobrir de mim.

- Por que? - Giovana não responde... - Ok, quando sentir confiança, me conte.

- Por que você faz isso tudo por mim? Eu não consigo entender, nunca ninguém me ajudou...

- Se eu posso, por que não fazer?! - Giovana fica sem resposta e ele continua - E eu gostei de você. - ela arqueia a a sobrancelha - Quero te ajudar. Não precisa ter medo.

Ela desvia o assunto: Eu vou usar uniforme?

- Não vejo necessidade. Use as roupas normais que eu te trouxe. Compraremos mais se você precisar e em minha casa tem mais de Anahí, se você não se importar.

- Não... mas, você não mora aqui?

- Não, moro na capital. Onde nos encontramos. Moro e trabalho lá.

- E o que você faz?

- Sou jornalista. Bom, na verdade faz tempo que não sou. Sou diretor de redação de um jornal.

- Hum, é importante.

- Não muito. E você? O que quer ser?

- Eu? Eu não vou trabalhar pra você?

- Sim. Mas você vai ganhar um salário para fazer o que quiser com ele , inclusive estudar, se quiser.

- Pois, eu gosto de animais... Quem sabe veterinária?

Alfonso dá uma gargalhada que ela não entende a graça e se levanta:

- Pois então, seja bem-vinda, G-i-o-v-a-n-a.

Ela também levanta e lhe dá um abraço apertado, carinhoso, de segurança, mas da parte dele, um abraço de amor, que chega a cerrar os olhos. Já ela arregala os olhos com a demora e aproximação. Mas prefere confiar. Não se afasta até que ele a solte com um sorriso:

- Sinta-se à vontade. Vou começar a agir. - e vai para o escritório da casa. Giovana fica parada sem saber o que fazer naquela casa grande.

Alfonso se tranca no escritório e comemora:- É Anahí! E ela! Graças, meu Deus! - andava de um lado para o outro. Junta as mãos, esfrega no rosto, agradecia e comemorava.

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